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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Lavínia Rocha, Andressa Marques e Paula Carvalho na mesa Novas páginas (Agência Terebi)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

Educação antirracista é falar de racismo o ano inteiro, diz Lavínia Rocha em mesa com Andressa Marques

As escritoras e educadoras debateram a relação entre negritude, literatura e sala de aula, n’A Feira do Livro

18jun2025

Uma educação antirracista é, antes de tudo, não falar sobre racismo só duas vezes no ano, por ocasião dos dias dos povos indígenas, em abril, e da consciência negra, em novembro.

Foi com essa declaração que a professora Lavínia Rocha, autora do recém-lançado O que você pensa quando eu falo África? (Yellowfante), abriu uma conversa sobre a relação entre negritude, literatura e sala de aula com a também escritora e professora Andressa Marques, que acaba de estrear na literatura com A construção (Nós).

O evento ocorreu nesta terça-feira (17), no Palco Petrobras d’A Feira do Livro, e teve mediação da jornalista e historiadora Paula Carvalho. “Muitas escolas não estão entendendo, mas isso está previsto em lei”, disse Rocha. Ela é idealizadora da chamada pedagogia do entusiasmo, uma metodologia de ensino que propõe engajar os alunos por meio da criação de experiências imersivas em sala de aula.

Lavínia Rocha (Agência Terebi)

Um de seus projetos mais famosos, “África, um continente diverso”, serviu de base para o livro que ela apresenta agora. Nele, ela convidou seus alunos a embarcarem em uma viagem pelo continente africano através dos séculos, conhecendo impérios, como os de Kush, Gana, Mali e Songai, e descobrindo como os territórios que os abrigavam são hoje. 

Um dos grandes objetivos dessa empreitada, explicou Rocha, é começar a tornar positiva a ideia de negritude entre as crianças. “Trabalho com eles essa ideia que o nosso legado, nossa música, nosso jeito de falar, de se vestir, de contar as histórias, nosso cabelo, nossa cor têm uma origem”, afirmou.

“Acho que essa reflexão sobre a educação antirracista vem de uma preocupação não só de professores negros, mas de quem tem uma perspectiva de construção de uma sociedade diferente. E isso passa pelo conhecimento”, comentou Marques. Seu A construção busca, de maneira não tão diferente do projeto de Rocha, desvendar uma genealogia enterrada, uma realidade comum para muitas famílias negras brasileiras.

Lacunas

“O problema da educação antirracista é quão sozinhos estamos”, prosseguiu Rocha. Afinal, diferentemente do que ocorre com outras matérias, que os professores sabem que serão ensinadas com a devida profundidade à medida que seus alunos avançarem para outros anos, no caso de história africana, por exemplo, nunca se sabe se o seu conteúdo voltará a ser examinado mais para frente.

“Ao mesmo tempo em que você quer cobrir todas as pontas, os alunos têm nove, dez, onze anos, e ainda não têm maturidade para poder entender tudo que gostaríamos de ensinar. São omissões que precisamos escolher”, afirmou Rocha.

Outro desafio citado por ela foi a dificuldade de desconstruir algumas noções preconceituosas quando os seus alunos estão sendo o tempo todo expostos a influências que as reforçam. Ela deu como exemplo as novelas bíblicas, que mostram um Antigo Egito embranquecido — a ponto de muitas crianças se surpreenderem ao descobrir que o Egito fica na África.

Não são os únicos obstáculos que a pedagogia antirracista enfrenta. Ao final da mesa, uma das perguntas da plateia lembrou de outro desses problemas ao questionar se a expansão das escolas privadas e militares colocava em risco os avanços desse ensino.

Andressa Marques (Agência Terebi)

A resposta de ambas as participantes foi que, infelizmente, sim. Mas, lembrou Marques, otimista, a literatura pode ser um lugar de resistência a tudo isso.

Até porque, ela acrescentou, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil — principal estudo dedicado a mapear e analisar os hábitos de leitura dos brasileiros — vem mostrando por anos a fio que os professores são, ao lado da família, alguns dos maiores responsáveis por estimular o interesse em livros no país.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Clara Balbi