Alento

Felippe Marchiori conta que o nome de sua livraria surgiu por acaso, depois de uma conversa despretensiosa com o jornalista Álvaro “Marechal” Costa e Silva sobre palavras que costumam aparecer em letras de sambas. Mas basta conhecer um pouco da curta (por enquanto) história da loja para perceber que a escolha faz todo o sentido: desde o aluguel do espaço no bairro carioca do Flamengo, em agosto de 2023, não foram poucos os percalços — uma série de infiltrações e um alagamento — até o alento da abertura para valer, em junho de 2024.

As incertezas foram tantas que Marchiori só não desistiu por causa da perseverança de Isabella Benevides, sua mulher e sócia, e do sogro Plauto, grande apoiador da empreitada. Os perrengues acabaram compensados pelo carinho com que a loja foi recebida pela vizinhança. “A clientela do bairro abraçou. Tem gente que passa todo dia, nem que seja para tomar um café, e tem quem entre para agradecer pelo fato de termos aberto uma livraria e não uma farmácia”, conta o livreiro. 

Antes de abrir a Alento, Marchiori acumulava experiências como vendedor em outras livrarias, como a Berinjela, no centro do Rio — o que faz dele mais uma prova do quanto o bichinho que morde os livreiros é poderoso, a ponto de levar muitos a experimentar, depois, abrir seus próprios negócios. Ele começou vendendo online em 2016, de sua casa mesmo, na Glória. Com o tempo, foi ficando insustentável depositar tantos exemplares no próprio apartamento. Isabella então o estimulou a se aventurar numa loja de rua, e propôs ser sócia do marido. 

Sem abandonar a vocação original de sebo, a Alento vende livros usados, mas também investe em lançamentos tanto para o público adulto quanto o infantil. Nas estantes é possível encontrar obras de filosofia, antropologia, sociologia, psicologia, história, teatro, poesia, música, cinema, literatura, artes e comunicação. Além delas, a loja também vende discos de vinil. 

Tanto para comprar livros como para divulgar a livraria e seu acervo, Marchiori conta principalmente com o boca a boca, sem abrir mão das redes sociais. E apesar do pouco tempo de vida, a Alento já se tornou um acolhedor ponto de encontro da cena literária carioca, abrigando lançamentos e sessões de autógrafos de autores como Xico Sá, Ricardo Domeneck e Angela Melim. Também convergem para isso cursos, palestras e contações de histórias para crianças, que acontecem na área nos fundos da livraria. Tudo sem funcionários, apenas com os três integrantes da família à frente.

Quem escreveu esse texto

Helena Aragão

É jornalista e mestre em História, Política e Bens Culturais pela FGV