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Hamurabi Livraria
Na extensa e movimentada rua 14 de Julho, no Centro de Campo Grande, quem passa dificilmente deixa de perceber uma entrada apinhada de livros, discos, bonecos em miniatura, muitas cores e sons. Aparentemente perdida na calçada, entre lojas de confecções, óticas, mercadinhos, farmácias e outros comércios facilmente encontrados em qualquer capital, a Hamurabi Livraria chama atenção imediata pelo ambiente acolhedor e convidativo: é quase impossível não dar uma paradinha entre uma andança e outra.
Quem decide entrar logo encontra algum dos simpáticos atendentes, sempre dispostos a uma boa prosa sobre literatura, música, quadrinhos ou qualquer outro assunto que surja na conversa. No dia da visita da Quatro Cinco Um, conversei com a dupla Marco e Jenifer, que se mostraram profundos entendedores do lugar.
Fundada em 1987 por José Cícero Pino, inicialmente como loja de livros jurídicos cujo nome veio do Código de Hamurabi, o conjunto de leis que vigorou na Mesopotâmia, a Hamurabi original ficava numa rua paralela, a 13 de Maio. O perfil mudou, o endereço também e, com o passar dos anos, o escopo cresceu. O acervo hoje em dia tem títulos de diferentes áreas de interesse e se divide entre lançamentos e seminovos, já que a Hamurabi nunca abriu mão da sua vocação de sebo. Exemplares usados de clássicos da literatura brasileira ou estrangeira, em diversos tipos de edições, dividem espaço com obras contemporâneas. A literatura de ficção é a de maior destaque, com chamarizes que vão de Machado de Assis e Clarice Lispector a Stephen King e a saga Percy Jackson. Pino segue como proprietário, trabalhando junto ao filho, Bruno.
Ao longo de seus quase quarenta anos de história, a livraria tem renovado gerações de leitores e colecionadores de Mato Grosso do Sul pela experiência personalizada e cuidadosa que oferece. Ao adentrar a Hamurabi, o visitante se depara com um corredor, repartido por intermináveis fileiras de vinis de um lado e estantes repletas de livros do outro. No fim, o corredor se bifurca em dois salões com prateleiras de mais livros, quadrinhos, itens colecionáveis, camisetas, ecobags, raridades e produtos variados de memorabília.
A música do ambiente vem de um toca-discos com agulha de diamante, discretamente posicionado num cantinho. O aparelho é usado para aclimar a clientela à loja e também para testar os vinis comercializados. Qualquer freguês tem a liberdade de escolher um disco e botar para tocar, podendo escutar nas caixas de som ou pelos fones de ouvido disponibilizados.
O público da Hamurabi é fiel e diverso, variando de leitores mais velhos em busca de edições raras ou esgotadas a integrantes da nova geração apaixonada por vinis, fantasia, mangás ou colecionismo. O atendimento descontraído reforça a impressão de se sentir na casa de amigos. “O livreiro aqui cativa pela conversa, pela troca. Não seguimos aquele estilo formal e distante. Nosso objetivo é criar uma comunidade acolhedora”, conta Marco.
Uma das ambições da livraria é ser referência na produção literária de Mato Grosso do Sul. Entre os banquinhos e mesas que o visitante pode usar para bisbilhotar os mais de quinze mil exemplares do acervo, há um espaço generoso dedicado exclusivamente a autores sul-mato-grossenses. “É surpreendente a força da literatura daqui, que cresce de forma orgânica mesmo diante de desafios como divulgação e distância de outros centros do país”, diz Marco.
Buscando se integrar ainda mais à cena cultural de uma capital que sofre com a escassez de livrarias de rua, a Hamurabi frequentemente organiza feiras literárias e outros encontros, muitas vezes em parceria com criadores e artistas da cidade. O esforço é para criar, fortalecer e manter em contato próximo uma comunidade de leitores, autores, produtores de cultura e interessados em arte de maneira geral. Os planos incluem um café para aumentar a convivência.
Além da loja no Centro de Campo Grande, existe outra unidade, na região do shopping Bosque dos Ipês, que começou como depósito mas hoje funciona aberta ao público. São outros quarenta mil volumes à disposição, muitos bastante antigos. Eles costumam atrair clientes com interesses mais específicos, como estudantes e professores, inclusive os oriundos de outras regiões do Brasil — afinal, a cidade tem como um de seus focos de atração uma universidade federal, a UFMS.
(Marcelo Miranda visitou a livraria em outubro de 2024)
Endereço Rua 14 de Julho, 1680, Centro, Campo Grande (MS)
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