Aigo

As prateleiras da Aigo são como o Bom Retiro, onde está localizada a livraria. Assim como cada esquina do bairro paulistano pode exibir traços de uma cultura diferente — árabe, judaica, coreana, grega, italiana, chinesa, boliviana, paraguaia, peruana —, as estantes refletem a diversidade de povos e comunidades que compõem da paisagem do bairro. Elas abrigam parte de um acervo com quase quatro mil títulos e sete mil exemplares que celebra a literatura migrante e diaspórica, o que faz da Aigo uma livraria multicultural por excelência. 

O negócio foi fundado em 2023 pelo trio de livreiras de ascendência coreana Agatha Kim, Paulina Cho e Yara Hwang, todas nascidas e criadas no Bom Retiro. “O projeto surgiu de uma falta. Fomos crianças muito leitoras e a livraria mais perto era em um shopping. Tínhamos que sair da região para acessar esses livros”, conta Hwang. Quando o desejo de suprir essa carência começou a tomar pé, a história familiar das sócias e dos milhares de migrantes da região se impôs. “Tanto o tema da curadoria quanto [escolher] o local onde estamos foi muito natural. A migração é a nossa realidade”, ela diz. 

Não por acaso, entrar na Aigo é uma verdadeira viagem. Tudo começa com o sino da porta principal, que anuncia a chegada dos clientes. Lá dentro, nos dois pisos e sessenta metros quadrados da loja, é possível mergulhar nas diásporas leste-asiática, hispanofalante, leste-europeia e árabe. Mas o acervo também contempla temas como literatura infantil, arquitetura e urbanismo, comida e cultura, importantes para construir uma relação duradoura com leitores interessados em outros assuntos. 

As prateleiras são divididas em setores com nomes peculiares. O “Origens”, o maior da Aigo, reúne livros sobre migrações e é subdividido pelos continentes de onde vieram muitos moradores do bairro. Por isso, não há nele títulos da América do Norte, por exemplo, que ficam na seção ”Deslocamentos”. Já em “Novos mundos”, que mistura ficção e não ficção, há também livros de humanidades. Placas fixadas em cada prateleira nomeiam os setores em quatro idiomas: português, espanhol, coreano e hebraico — as línguas mais faladas no Bom Retiro. Ao lado das placas, bilhetes com os dizeres “Vizinhança indica” destacam, como sugere o aviso, títulos recomendados por leitores que vivem no bairro. Quem compra um livro pode escolher levá-lo em um bojagi, embrulho para presente tipicamente coreano feito com pano de algodão ou rami, planta nativa do leste asiático. 

O acesso ao andar superior se dá por uma escada em espiral, parte do projeto original do imóvel desenhado em 1959 pelo arquiteto polonês Lucjan Korngold, que migrou para o Brasil em 1940 e projetou grandes edifícios de São Paulo, entre eles o do Centro Comercial do Bom Retiro, onde fica a Aigo. Para virar livraria, o espaço foi modernizado. A escada espiralada ganhou a cor azul e o piso do térreo foi revestido com cimento queimado verde — o que resulta num contraste delicado com as estantes e outros móveis de madeira, proporcionando beleza e conforto visual. 

Além de atrair os clientes, o ambiente acolhedor é um grande aliado dos eventos literários que a Aigo realiza. A programação da livraria costuma ter não só lançamentos, mas também encontros e debates sobre produção editorial e suas diferentes etapas, como a tradução, a edição e o design de livros, além de conversas sobre o bairro e migrações com especialistas. As atividades são divulgadas em uma newsletter quinzenal, com curadoria das fundadoras. 

(João de Mari visitou a livraria em outubro de 2024)

Endereço Rua Ribeiro de Lima, 453, loja 73, Bom Retiro, São Paulo (SP)

Áreas de atuação Literatura, História, Política, Ciências Sociais

Porte Pequeno