Uma das maiores colônias psiquiátricas do país, o Hospital Psiquiátrico do Juquery, desativado em 2021, é tema de O que não pode ser esquecido quando o Juquery fecha as portas?, das artistas Cibele Lucena e Flavia Mielnik, lançado pela Funilaria. O livro parte da pergunta para enfrentar o desafio de lidar com a história sem reproduzir violências nem incorrer em apagamentos.
Erguido em 1898 (apenas uma década depois da Lei Áurea) em Juquery, antigo município da Grande São Paulo onde hoje fica Franco da Rocha, o complexo hospitalar ocupou um terreno de 600 mil metros quadrados e chegou a abrigar, durante a ditadura, mais de 14 mil pessoas — para se ter dimensão, a cidade nos anos 70 tinha cerca de 40 mil habitantes. A maior parte eram os “indesejados” do regime, definidos por critérios racistas e morais de controle social que miravam pessoas negras, pobres, mulheres consideradas promíscuas, população LGBTQIA+ e quem contestasse o sistema.
A publicação combina relatos de um ex-paciente, antigos funcionários e outras pessoas comprometidas com a luta antimanicomial com desenhos, gravuras e colagens, buscando criar um diálogo entre imagem e texto. Uma das construções do antigo complexo hospitalar é hoje o Museu de Arte Osório César (Maoc), nome de um médico que realizou no Juquery um trabalho pioneiro em arteterapia a partir da década de 1920, e que abriga o acervo da produção dos ex-internos.

Ilustrações em colagem, desenho, aquarela e monotipia sobre papel Canson Edition 100% algodão. Reprodução fotográfica de Marcos Issa.








