Fichamento,
Paulo Lins e Flávia Helena
Autor de ‘Cidade de Deus’ e escritora lançam livro sobre retirantes numa comunidade em transformação no Rio Grande do Norte
01out2024 • Atualizado em: 30set2024 | Edição #86 outBaseado em entrevistas com os moradores da comunidade Mãe Luiza, em Natal (RN), Um novo sol (Gryphus) é uma espécie de Vidas secas com final feliz.
Como foi o convite para escrever Um novo sol?
Paulo Lins A ong Ameropa, que mantém um trabalho social na comunidade Mãe Luiza, me convidou para escrever sobre esse projeto. Falei para a Flávia: “se você escrever comigo eu faço, porque é uma história boa”. Ela topou e fomos para Natal conhecer a comunidade.
O que encontraram lá?
Flávia Helena Um trabalho muito estruturado e bonito, foi uma surpresa muito boa. Começamos a entrevistar os moradores e eu disse para o Paulo que daria para escrever uns dez livros com as histórias deles.
Por que dividiram o livro em uma parte ficcional, sobre retirantes, e uma histórica, sobre o projeto?
PL Somos muito fãs de Graciliano Ramos e, de certa forma, Vidas secas continuou lá [na comunidade Mãe Luiza], só que com final feliz. Podem até falar que a gente copiou (mal copiado) do Graciliano.
FH As histórias contadas nas entrevistas eram muito parecidas, os primeiros moradores eram retirantes. Mas um dos objetivos era também divulgar o trabalho social da ONG, por isso a parte de não ficção.
PL Foi meio como fazer um samba-enredo. O carnavalesco manda o enredo e várias pessoas leem, discutem. Pegamos o enredo pronto, vivo, conversamos com os moradores que conheceram o início do projeto, com pessoas que tiveram membros da família envolvidos na criminalidade, conversamos com todo mundo.
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Paulo, esperam de você outro Cidade de Deus?
PL Sempre. Eu também fico esperando. A minha frustração com Cidade de Deus é que eu queria que fosse para o Judiciário, para acabar com a criminalidade no Brasil. Estava escrevendo uma tese antropológica. Veio um romance, mas o objetivo não mudou.
Há um pouco de antropologia em Um novo sol?
PL Quando escrevi Cidade de Deus foi um pouco diferente, porque eu morava lá, alguns bandidos tinham estudado comigo, eram meus vizinhos. Mas Um novo sol teve uma pesquisa antropológica, escrevemos a ficção a partir dos relatos. E a Flávia entrou com sua experiência em literatura, buscando trabalhar com os clássicos.
Além de Gracilano Ramos, usaram outras referências?
FH João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina.
PL A gente conversou também sobre Capitães de areia, do Jorge Amado. Referências bem nordestinas. E o mineiro Guimarães Rosa, do conto “Sarapalha”.
É a primeira vez que fazem um livro juntos?
PL Escrevemos juntos o infantojuvenil A criação do novo mundo [Nova Fronteira], que saiu agora. Conheci a Flávia no [festival] Balada Literária, ela estudou letras, tinha um livro publicado, Sem açúcar [Penalux, 2016]. Li e pensei “Graças a Deus é muito bom”, porque já estava apaixonado por ela. Nós não temos muito mais o que falar senão de literatura. Então, ‘vambora’.
FH O Cidade de Deus eu já tinha lido na faculdade, nem imaginava que um dia me casaria com o Paulo. A gente sempre lê o texto do outro, revisa, dá palpite. Mas quando ele propôs escrevermos juntos, pensei que não iria combinar, tenho outro estilo. Mas deu muito certo.
Para vocês a literatura tem uma função social?
PL Eu fico com a definição do Octavio Paz, a função da poesia é revelar esse mundo e inventar outros.
FH A literatura habilita a gente a entender melhor o mundo. Passei vinte anos ensinando literatura, falava aos meus alunos que, se aprendessem a ler um poema, entenderiam tudo melhor.
Matéria publicada na edição impressa #86 out em outubro de 2024. Com o título “Paulo Lins e Flávia Helena”
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