Fichamento,
Oscar Nakasato
Prêmio Jabuti com seu primeiro romance, ‘professor que escreve’ volta aos personagens nikkeis em livro sobre envelhecimento
01nov2024 • Atualizado em: 31out2024 | Edição #87 novCom melancolia contida, Ojiichan (Fósforo) trata de personagens sub-representados na literatura, como
os descendentes de japoneses no Brasil e “os velhos”.
Você tem escrito romances sobre nipo-brasileiros. Como começou?
No doutorado [em literatura brasileira] me propus a fazer uma pesquisa sobre personagens nipo-brasileiros, os nikkeis, e confirmei que havia pouquíssimos. Não me sentia representado. Conversando com meu orientador, tive a ideia de escrever meu primeiro romance [Nihonjin, prêmio Jabuti 2012]. Já se vão treze anos. Minha escrita é muito lenta e minha principal atividade é dar aulas em uma faculdade de tecnologia. Sou um professor que escreve.
Acha que os nikkeis continuam invisíveis no Brasil?
Hoje há muito mais inserção, estão em todas as áreas. Nikkeis de quarta e quinta geração tem se esforçado para serem notados pela sociedade como são, mas temos dificuldade de sermos reconhecidos como brasileiros, ainda nos chamam de japoneses.
Além dessa população sub-representada, Ojiichan é sobre o envelhecimento. Também acha que pessoas mais velhas são invisibilizadas?
Isso. Chamo de velho mesmo — todos seremos, se vivermos até essa idade avançada. Meus três livros têm personagens velhos, mas em Ojiichan trato especificamente dessas pessoas. Antes da pandemia, eu nunca tinha ouvido falar de etarismo, mas ele é real, não só na sociedade brasileira. Meu pai morreu de Alzheimer em 2003, e desde então tenho pensado muito no envelhecimento. Gosto de gente velha, elas têm história, o que contar. Quando fui escrever o romance, vi matérias sobre a solidão na terceira idade. Uma me impressionou: no Japão, há agências de atores que são contratados para fazer o papel de familiares dessas pessoas solitárias: a pessoa pensa, por exemplo, “eu quero um filho para passar um fim de semana comigo”, vai na agência e contrata um filho…
O protagonista do romance, Satoshi, é aposentado compulsoriamente, tem uma esposa com Alzheimer, mas encontra saídas para sua situação. É otimismo?
Satoshi se reinventa, mais isso não é regra. De modo geral, falta empatia para entender o que os velhos querem e que eles têm querer. Velho não quer só vacina e remédio, faltam políticas públicas para essa população. Os velhos não estão mais morrendo e o mais triste é se tornarem um problema para o governo, a sociedade e a própria família. Alguém disse que a morte deixou de ser um tabu, mas a velhice continua sendo.
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Mesmo falando de velhice, morte, solidão, seu livro não é dramático, o final é quase feliz, a melancolia é contida. Foi uma opção estética?
Sou neto de japoneses, meus pais viveram muito tempo na zona rural. Minha mãe tem 94 anos (e está bem), é brasileira, mas ainda tem dificuldade com a língua portuguesa. Tem essa coisa do mineiro, mais para dentro — devo ter isso também, sou mais introspectivo. E gosto muito de escritores que têm essa característica de contenção. Muitos autores japoneses, mas não sei dizer qual me influenciou.
No romance você cita alguns escritores, como o Raduan Nassar. É uma homenagem?
O Raduan Nassar entra com o personagem Altair. Era para ser André, o protagonista de Lavoura arcaica: eu pensava em como o André estaria agora e imaginei ele velho. Escrevi um conto sobre isso e inclui no romance, mas achei que o Raduan iria ficar bravo com isso. Então criei o Altair, que tem uma demência e gosta tanto de livros que confunde a vida com a literatura. Mas não é o André de Lavoura arcaica, porque sou meio covarde.
Matéria publicada na edição impressa #87 nov em novembro de 2024. Com o título “Oscar Nakasato”
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