
Bagagem Literária, Literatura,
Desejos de grávida, desejos de mãe
Uma escritora, seu labirinto de leituras e suas reflexões sobre ler, escrever e outras milongas nos primeiros anos da maternidade
09maio2025Se for menina, fada-madrinha. Se for menino, gênio da lâmpada. Assim aguardei a chegada do meu primeiro filho: fixa na ideia existente nos relatos de tantas mulheres de que “a maternidade salva”, “transforma”, “promove um encontro da mulher consigo mesma”. Ouvia essas frases e pensava se, ao me tornar mãe, descobriria uma força sobrenatural, uma assertividade inédita, se deixaria um novo “eu” aflorar.
Então pedia a esse ser, que até então se manifestava só como uma intolerância súbita ao cheiro de café, a única coisa que sei pedir desde que uma professora deixou um bilhete elogioso em uma das minhas redações da escola: que fizesse de mim uma escritora melhor.
Mas parece que o meu pequeno gênio da lâmpada despontava na barriga com a sabedoria de quem havia passado por muitas oficinas literárias. Tão logo exibiu sua fofura (já ali no ultrassom eu o achava a coisa mais neném da mamãe) em uma azia, me lembrou a mesma coisa que todo escritor que completa o orçamento dando oficinas para iniciantes repete: se você quer ser uma escritora melhor, tem que ser uma leitora melhor.
Nos fatídicos três primeiros meses do bebê, me senti a Rapunzel na torre
Lembrei também que uma vez ouvi a Andréa del Fuego dizer que voltou a escrever quando seu filho fez sete anos. Eu, grávida, pensava: tenho esse tempo e mais uns meses para renascer enquanto autora — até lá, vou ler muito, e ler melhor.Perguntei para mim mesma o que uma boa leitora faz.
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Sempre fui o tipo de leitora amnésica. Fecho o livro e fica tudo ali. Não sei citar meus livros favoritos de cor, nem mesmo aqueles com que convivi intimamente durante um mestrado e um doutorado em literatura. Não sei recontar o enredo do cânone ocidental. Retenho muito, mas muito pouco mesmo. Resta a esperança de que algo fique sedimentado no inconsciente.
Não sei lidar com anotações nas margens nem etiquetas marcando páginas, elas se soltam e ficam parecendo bitucas esmagadas no fundo da bolsa. Então, meu primeiro passo rumo a ser “a melhor versão de mim mesma”, para usar uma expressão que está em alta nesses tempos de autocuidado e maternidade winnicottiana (vestindo camiseta descolada com os dizeres “melhor mãe possível”), foi comprar fichas de papel, colocá-las dentro dos livros, e fazer fichamentos de tudo.
*
Questão de ênfase, Susan Sontag: a primeira ficha foi encaixada entre a capa e a folha de rosto do livro que me acompanharia no hospital. Um livro não muito longo e dividido em ensaios parecia ideal para ler entre visitas e sonecas. Um ritmo de leitura similar ao de férias na praia.
Levei o livro mas li pouco, eufemismo para dizer que apenas passava os olhos pelas letras e virava as páginas. Na primeira noite, dormi bem. O bebê chorava baixinho e silenciava com a minha mão sobre seu tronco. Na segunda, ouvi um choro mais forte, e o truque não funcionou. Foi uma noite salva por Estela, a enfermeira que acalmou meu filho. Na manhã seguinte, o médico perguntou se eu gostaria de ficar mais uma noite no hospital. Foi como ganhar na loteria: mais uma noite com Estela.
Não dormi, alternando minha atenção entre o programa de viagens do Paulo Vieira na TV, a Sontag aberta sobre o colchão e o berço de acrílico em que o meu filho — ainda estava me acostumando com essa ideia — tentava dormir. Tentei, pela primeira vez, amamentar lendo. Pulei para “A escrita como leitura”, um dos últimos ensaios do livro. Anotei o título na ficha, e depois: “ler é vocação, escrever não”.
O resto da ficha seguiu em branco para sempre. Talvez melhor assim. Tantos escritores progressivamente deixam de ler para se dedicar à escrita, eu poderia pegar um atalho. Meu filho dormiu um pouco, acordou em seguida. Guardei o livro na mala, peguei o sling para embalar o bebê. Fui ao banheiro. A paz reinou no quarto por alguns instantes.
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Você nunca mais vai ficar sozinha, Tati Bernardi. Não foi o sling o responsável pela plenitude que senti lá pelas quatro da manhã, nem a Estela, que estava de folga naquela noite. Outra enfermeira nos visitou na madrugada e fez a pergunta que me assombrava: seu intestino já funcionou? A resposta era sempre negativa. Então, ela saiu e voltou com uma pequena travessa metálica carregando um supositório.
A desenvoltura em falar de Susan Sontag e de supositório vem das anotações que fiz da leitura da Tati Bernardi, atraída inicialmente pelo título -— afinal, parecia mesmo que eu nunca mais ia ficar sozinha. Mas o livro de Tati Bernardi, apesar de ser sobre o nascimento de uma filha, é mais sobre ter uma mãe do que ser uma. Foi isso que escrevi na ficha.
Além do título, um acontecimento me levou a ler esse livro nos cafés que frequentava diariamente depois dos fatídicos três primeiros meses do bebê, nos quais me senti a Rapunzel na torre. Doze dias antes do meu filho nascer, acordei cedo para fazer uma longa caminhada que deveria me ajudar a entrar em trabalho de parto.
Saí com uma legging de grávida, dessas com elástico largo para não apertar a barriga, e um vestido que, como diz Chico Buarque na música “Minha história”, estava “cada dia mais curto”. Era junho de 2023, e na praça Charles Miller, perto da minha casa, em São Paulo, encontrei um tanto de autoras lindas, diversas, prontas para a versão paulistana do “Um grande dia para as escritoras”, registro fotográfico feito no estádio do Pacaembu e em outros locais do Brasil para marcar a presença de mulheres no mercado editorial.
Ninguém teve coragem de mandar eu e meu barrigão subirmos os degraus enormes da arquibancada, então ficamos bem posicionados na foto, entre cartazes que enalteciam autoras negras. Logo atrás, uma menina espoleta e sua mãe, Tati Bernardi. A menina dependurada na escritora e em amigas dela riu, chorou, deu chilique, levou bronca, fez com a mãe um jogo de carícias e combinados, fazendo história a tiracolo. Ninguém ali nunca mais esteve sozinha.
Na terapia, me perguntava se ler era minha vocação ou sempre achei que tinha que ser alguém que gosta de ler
Meses depois, eu me sentia muito sozinha, o que era desesperador, embora eu não estivesse desesperada. Eu era diligente na rotina de amamentar, trocar fraldas e roupas molhadas. Mas o escuro da sala à noite parecia um piche que ia grudando em tudo. Principalmente no meu sofá. Meu desespero se materializou na falta de dinheiro para comprar um sofá novo. Ainda pior com tantas pessoas na casa, se deparando com meu móvel desconfortável e que atestava a minha precária situação financeira.
Quem ouvia tudo isso: a minha mãe. Uma recém-avó, como a do livro da Tati, que aguentava eu querer e não querer ficar sozinha, ao mesmo tempo e na mesma intensidade.
Com a casa cheia, o tempo vivido no ciclo de três horas da amamentação e a inexistência de sábados, domingos e feriados, a solitude que me restava era equilibrar livros no corpinho do meu filho enquanto ele mamava. Pensava ora em Tati Bernardi, ora na minha “teta racional” — termo cunhado por Giovana Madalosso que deu título a seu livro de contos. A mesma Giovana que abracei na arquibancada do Pacaembu e que tinha sido uma das idealizadoras daquele dia incrível.
*
Os anéis de Saturno, W. G. Sebald. “Você tem um corpo, não é apenas um cabeção”, repetia minha terapeuta semana após semana, propondo uma conexão maior com o meu lado feminino. Mais devota de Clarice Lispector do que de qualquer teórico da psicologia, ela me indicou Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres no meu primeiro ano de mãe. Abandonei livro e terapia, fatos talvez relacionados. As sessões e a leitura patinavam e me levavam a uma mesma sensação, que se traduzia na frase repetida na sala fria do consultório: “sinto que estou diante de um abismo”.
Poderia analisar o estilo da autora de forma mais esquemática, e assim não seria tempo perdido, mas aquilo me pareceu muito triste. Tanto quanto deitar no divã e tentar captar palavras, ouvir parabéns por pequenos progressos e voltar à sensação de não saber quem sou. Mais uma vez, a fuga foi outra leitura. Abracei o meu lado mais cabeção, e cheguei ao Sebald. Na ficha, apenas um quase título: “grande tratado sobre a ruína”.
O começo da vida do meu filho significou para mim euforia. Era um riso histérico na sala que se transformava em choro na cozinha, energia que parecia inesgotável para cuidar dele e da casa, passando roupa e aspirador com ele pendurado em mim, para depois desabar na cama de sapatos. Quando vinha o cansaço, começavam os eventos absurdos, como colocar um recipiente de plástico no forno e reclamar porque “já tinha feito isso outras vezes e nunca tinha derretido”. Ser alvejada por cocô no vestido limpinho (ecos de Tati Bernardi de novo aqui) provocava ataques de riso.
Quando a situação começou a normalizar, veio o silêncio e então a angústia que coexiste perfeitamente com manhãs de sol no parquinho. No meio de tudo isso, as imagens que surgiam em Os anéis de Saturno eram como que feitas de um disco voador: aviões entre nuvens, carros do alto se movendo na estrada, trens, barcos, tudo imenso e minúsculo ao mesmo tempo. Em vez do mundo aéreo de Sebald, eu registrava cada detalhe da mãozinha, a penugem nas costas, a habilidade em rolar. Lia sobre um mundo imenso e humano, porém sem gente, enquanto meu mundo se espremia em uma pessoa. No final, o mesmo vazio.
Na terapia, tentando entender mais sobre aquele sentimento de estar à beira de um abismo, me perguntava se ler era a minha vocação. Se eu gostava de ler ou sempre achei que tinha que ser alguém que gosta de ler.
*
A Life’s Work, Rachel Cusk. Foi pensando que eu tinha que aprender a gostar de ler que cheguei à britânica Rachel Cusk. Achei que as memórias de uma escritora “de verdade” sobre ser mãe era o que me cabia naquele momento. Fariam com que eu entendesse onde eu me situava na vida para além do calendário da Andréa Del Fuego (me restavam uns seis anos e pouco para voltar a escrever). A Life’s Work sobreviveu bem à ditadura da nenelândia (termo que peguei da terapeuta). Tudo que Cusk narrava eu estava vivendo, e a leitura fez com que eu me sentisse um pouco a pessoa que eu era antes de ser mãe: li um livro inteiro, finalmente.
Cusk escreveu essas memórias enquanto gestava sua segunda filha, mas se debruça sobre a chegada da primeira, um ser que nasce de maneira atribulada, chora excessivamente, passa noites em claro, embalado por pais afetuosos e exaustos. “Suspeito que um livro sobre a maternidade não seja de real interesse de ninguém exceto mães”, diz Cusk.
Gosto de ler resenhas quando termino leituras. E as críticas ao livro, de fato, rodeiam a identificação ou não com aquilo que Cusk narra. No Guardian, ela é acusada de pregar contra a maternidade, tamanhos os horrores que conta sobre seus primeiros momentos com a cria. Na plataforma Goodreads, os comentários são quase exclusivamente de leitoras, elogiando como a autora foi capaz de traduzir e desmistificar o que elas passaram. Encontrei um homem solitário, que disse ter achado o livro interessante, mas pontua que seu gênero o impedia de ter uma opinião mais aprofundada.
Achei curioso. No mesmo Goodreads, No ar rarefeito, o livro em que o jornalista Jon Krakauer narra sua escalada do monte Everest, não é avaliado com base na identificação de outros alpinistas. Aqueles que nunca escalaram a montanha não acham sua perspectiva limitada, mas admiram a natureza do montanhismo, a coragem do relato, a aflição compartilhada. O que interessa é a narração da experiência que nunca teremos. Mas a maternidade tem algo que atrai mães como insetos à lâmpada no verão, enquanto repele todos os outros, que já chegam com o inseticida.
Por um lado, me pergunto como pode a maternidade não ser universal. Por outro, entendo plenamente. Consigo listar temas pelos quais a maternidade transita: o amor incondicional, o amadurecimento forçado, o mergulho transformador dentro de si, a passagem do tempo. Ao mesmo tempo, parece ridículo comparar outras instâncias da vida ao universo da mãe. Ser uma pessoa é suficiente para se identificar com a capacidade de gerar uma pessoa? Mais do que isso, é suficiente para despertar interesse no assunto?
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Um outro amor, Karl Ove Knausgård. Não reli esse livro por inteiro durante o primeiro ano do meu filho, apenas as páginas em que o autor esmiuça sua mulher em trabalho de parto. Lembrei das pessoas me ouviram contar sobre o parto do meu filho e me disseram: “escreva sobre isso”. Quando penso em um parto narrado na literatura, é o olhar de Knausgård sobre esse evento que me vem à mente. Quando leio sobre o parto de outras mulheres, também.
Penso nas idas e vindas do hospital, nas horas que Linda passou no chuveiro, e essas imagens coabitam meu imaginário como se dessem um lastro estético a outros relatos que me rodearam durante a gestação: ele, o homem que deu gravidade ao ato de levar a cria de carrinho rua acima e rua abaixo, e também o nascimento, mesmo sem ser ele o protagonista.
O olhar masculino é meio magnético, chama para si a perspectiva. Como rivalizar com o olhar masculino sobre o parto, e como escrever sobre ele sob uma perspectiva literária? As longas páginas de Knausgård falando do nascimento só são soterradas por um rival à altura: um caminhão de relatos de parto no Instagram.
Quando meu filho nasceu de uma cesárea de urgência, ou seja, sem que eu entrasse em trabalho de parto, concluí que seria mais fácil do que eu imaginava cumprir a promessa que havia feito a mim mesma de jamais escrever um relato de parto.
A verdade é que, desde antes que um filho entrasse nos meus planos, li muitos relatos de parto. Não é um traço extravagante da minha personalidade. É comum ler nas postagens diversos comentários do tipo “sequer penso em ter filhos mas li do começo ao fim”.Como todo gênero textual, esse relato se sustenta por convenções. Existe um certo padrão. É a repetição que permite que outras mulheres se sintam confiantes para te perguntar sobre o parto do seu bebê, misturando curiosidade com um ar inquisidor. Ao mesmo tempo, os relatos são maratonáveis, como uma série amena do Netflix com o algoritmo apontado para pessoas com útero.
Quando penso em um parto na literatura, é o narrado por Karl Ove Knausgård que me vem à mente
Assim, não se espera de um relato de parto criatividade ou invencionismo, apenas uma combinação afiada de certos predicados, cada narrativa sendo um novo tijolo num muro em que mulheres sobem e de onde observam o “parto dos sonhos”, que bem poderia ser “o relato dos sonhos”.
Em um território aparentemente dominado por amadoras, os relatos raramente escapam do que se tornou seu habitat natural: o rolar infinito das redes. Mas seria injusto atribuir a eles um valor negativo pelo que não almejam ser: literatura. Se fossem compilados em livros, estariam ali na autoajuda. E se eu gastei o primeiro dos desejos que fiz ao gênio de fraldas com o anseio de ser uma escritora excepcional, deveria almejar a universalidade dos grandes temas, e não a restrição dessa coisa específica, limitada e limitante, chamada maternidade.
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Jogo de cena em Bolzano, Sandór Márai. Pensando nos grandes temas universais fui até o autor húngaro Márai, porque pensei comigo que se a maternidade não é universal, a amizade é. Em um ímpeto de acumular ainda mais livros não lidos, fiz uma grande compra de títulos em promoção na loja on-line de uma grande rede talvez à beira da falência. Meu filho aprendeu a andar, a falar diversas palavras e cumprimentar os colegas da creche. Leio apenas à noite, depois que ele dorme.
Fato é que o Giacomo Casanova do romance de Márai quer viver muito para escrever: isso para ele é ser escritor, não apenas estar sentado, imerso em seu ofício. Me pergunto, então, se sou escritora como Casanova ou como Francesca, outra personagem de Márai, que ao aprender a escrever se torna sujeito, cheia de complexidades e ímpeto de viver. “Eu sou a vida”, diz Francesca a Giacomo. Ela é o que ele tem que viver. Talvez por se deparar com questões como a de Casanova é que tantas mães (escritoras ou não) queiram escrever sobre a maternidade. Eu, talvez mais como Francesca, vivo a maternidade para não escrever sobre ela. E então começar a construir saberes do zero, porque nunca soube nada de nada. Não sei nem mesmo entender esses livros todos.
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Panela de arroz, Luís Camargo. A vantagem dos livros infantis — os bons — é que eles não são feitos para entender. Meu filho parece que puxou a mãe e vai ser um péssimo leitor. Perto dos dois anos, ele repete algumas frases, e empaca sempre nas mesmas, refratário às ideias centrais da trama. O exemplar de Panela de arroz que lemos juntos foi meu na infância, passou pela casa de sobrinhos e agora retorna, com páginas soltas, faltando ou rabiscadas, mas ainda prende a atenção dele.
Na história, Maneco Caneco Chapéu de Funil se depara com uma casa, que é uma panela de arroz, e tenta entrar. Demora muito, pois atrás da porta sempre tem outra porta. Não sabemos como o protagonista chegou lá nem por que motivo quer entrar. Nada o faz voltar, talvez nem poderia, atravessada a primeira porta. É O castelo de Franz Kafka para crianças.
Maneco Caneco responde charadas — que abrem as portas — cujas respostas são alho, cebola e sal, conhecimentos que serão úteis quando finalmente atravessar todas as barreiras até o interior da panela, onde o arroz será cozido e comido por ele.
A barbárie que o meu olhar adulto projeta no livro (o anfitrião, um arroz sorridente, sendo devorado pelo visitante?) também é kafkiana. Meu filho insiste em falar que o livro é sobre feijão, não arroz, e eu retruco sem muito empenho, afinal é bonitinho e fascinante que ele não diferencie os dois. O livro ensina como o arroz é feito (em outros lares, não o nosso, pois não usamos cebola, que faz o arroz estragar mais depressa, fica a dica) mas nada de lição de moral. Meu filho adormece após algumas rodadas de Panela de arroz e se distrai quando sugiro que recite os trechos que sabe de cor quando estamos na rua.
Quanto mais ele se torna uma pessoa, menos é um gênio da lâmpada. Na verdade, nada do que eu peço ele atende: estar de mãos postas em posição de súplica em frente a uma criança que dá gargalhadas às três da manhã, pedindo para ela dormir, transforma nossa visão de mundo, mas não me tornou uma leitora melhor. Não tenho como ler mais nem melhor, posso apenas ler um livro infantil fazendo dele o meu Kafka e tentar enxergar lições de humanidade em um personagem enigmático que enfrenta os mistérios de uma panela de arroz.
É o verdadeiro abismo, no qual um livro infantil despedaçado vale o mesmo que as maiores obras literárias do século 20. Parece impossível lidar com esse cotidiano sem achar que se está perdendo algo ou, pior, que a vida se resume a isso. Toda vez que conto isso para alguém e ouço como resposta “escreva sobre isso”, a escritora melhor que eu desejo ser morre um pouco. Ela tem que morrer, é o máximo que posso querer agora, nesse labirinto de leituras. De mãos dadas, todos pulam no abismo, Kafka, Rachel Cusk, Knausgård, Tati Bernardi, Susan Sontag e todos os outros, e caem no esquecimento de uma ficha de leitura vazia, prenhe de significado.
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