Capa,
Leitores sobrevivem
Capa da edição de fim de ano, que celebra os melhores livros de 2019, mostra um cenário distópico no qual restam apenas leitores
28nov2019 | Edição #29 dez.19/jan.20A edição de dezembro 2019/janeiro 2020 da Quatro Cinco Um traz uma seleção dos melhores livros do ano e celebra também 19 distopias lançadas em 2019. O desenho da capa, que junta os dois temas, é de autoria do espanhol Alejandro Viñuela Agra, conhecido como Jano. Designer gráfico, cartunista e ilustrador, ele é vencedor dos prêmios Injuve (2002), Certame Ourense (2003) e Golden Globes (2011). A seguir, ele fala mais sobre o processo de criação da ilustração.
O ilustrador espanhol Alejandro Viñuela Agra
Como foi a escolha dos elementos para a capa? Quando a equipe da revista me contatou para essa tarefa e propôs que a ilustração da capa tivesse o tema distopia, na hora me veio à mente trabalhar com a ideia de um desastre ecológico. Isso é algo que sempre me preocupou, e o aumento do nível dos oceanos parecia muito sugestivo para criar uma imagem para ilustrar essa preocupação.
Foi difícil conciliar a ideia de distopia com a de melhores livros do ano? Não foi difícil porque a proposta foi muito bem definida pela direção de arte. Lutei para encontrar uma imagem que representasse um mundo catastrófico no qual os sobreviventes são leitores. De um ponto de vista bem-humorado, eu queria prestar homenagem às pessoas que estão procurando respostas para resolver os problemas que enfrentamos como sociedade.
Como você define seu estilo como ilustrador? Sou muito influenciados por desenhos cômicos e engraçados, principalmente quando se trata de criar personagens. Gosto de sintetizar os elementos para obter uma composição limpa e equilibrada em meus trabalhos, usando uma gama limitada de cores à medida que uso seus ângulos psicológicos. A imagem resultante é mais expressiva e funciona melhor narrativamente. Também gosto de adicionar acabamentos manuais para obter imagens mais vibrantes.
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O que você conhece da cultura brasileira? Moro na Galiza, uma região da Espanha onde é falado o galego, idioma que compartilha sua raiz com o português. Conheço poesia e música brasileiras e, embora nunca tenha estado aí, sou apaixonado pela cor e pela beleza que o país transmite. Assim como o mundo todo, senti muito pelo incêndio na Amazônia.
Na sua opinião, o mundo atualmente se inclina mais para uma utopia ou uma distopia? Por quê? Eu acho que depende de como você enxerga… ou seja, se você quer ver o copo meio cheio ou meio vazio. Acho que as distopias falam mais sobre o momento atual, são críticas a comportamentos errôneos que levam ao desastre e, em geral, são pessimistas. A utopia, ao contrário, está mais relacionada à esperança de que possamos evoluir para uma melhor coexistência. Acho que vivemos em uma distopia, mas precisamos acreditar que podemos transformá-la em uma utopia. Esse é o meu sonho.
Matéria publicada na edição impressa #29 dez.19/jan.20 em novembro de 2019.
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