Capa,

Força & delicadeza

Revolução russa e especial infantojuvenil compõem a capa de outubro, ilustrada por Talita Hoffmann

14dez2018 | Edição #6 out.2017

Taiwan, Inglaterra, Coréia do Sul, Espanha e Finlândia são alguns dos países que já sediaram mostras individuais de Talita Hoffmann (@talitahoffmann). A artista plástica e gráfica, que na última década tem se dedicado principalmente à pintura, mas que também atua como designer e ilustradora, assina a capa da edição #6, de outubro de 2017, que traz um especial infantojuvenil junto à efeméride de cem anos da Revolução Russa.

Entre os clientes para os quais Talita já realizou projetos estão Folha de S.Paulo, MTV e Editora Ubu. Com influência das estéticas folk e naïf, seu trabalho parte da observação do entorno cotidiano, de espaços urbanos e de desenhos arquitetônicos. A seguir, ela fala da delicada missão de unir os dois temas da capa.

A capa destaca a literatura infantojuvenil e o centenário da Revolução Russa. O que de mais interessante você encontrou nas pesquisas sobre os assuntos? Encontrei muitos brinquedos legais! Também muitos pôsteres soviéticos que eu não conhecia, em que eram retratadas crianças. Queria entender o imaginário infantil da Rússia, peças gráficas que fossem um pouco mais lúdicas do que as que são mais conhecidas. Vi muito trabalho de estamparia também, que acabei não usando muito como referência, mas que achei incrível.

E como foi seu processo de criação para esta imagem? Pensei inicialmente nas composições dos pôsteres e fui agrupando alguns desenhos desses brinquedos e outras referências em uma composição parecida. Veio da revista a ideia de usar o elemento do
foguete como chave, por ser tanto um ícone da Revolução Russa como um
brinquedo popular, então montei a ilustração em volta dessa proposta. 

Sua estética parece vir da arte naif, têm também um quê de Henry Darger… é isso mesmo? Quais são as suas inspirações? Gosto muito do Henry Darger, ele é certamente uma influência. Eu me inspiro também em artistas que estão nos limites entre a pintura, o design gráfico e a ilustração. Além de Darger, gosto de Henri Rousseau, Ed Ruscha, Robert Crumb, Walker Evans e L.S. Lowry, por exemplo. 

Você diria que, além da estética, há algum eixo temático que define seu trabalho? Acho que sim, mesmo que esse eixo vá se modificando aos poucos com o tempo. Ultimamente meu trabalho autoral tem sido sobre cidades, desenhos arquitetônicos
e espaços de convívio público. 

Você ilustrou Jacaré, não, de Antonio Prata (Ed. Ubu), que é um livro destinado a um público de três a cinco anos. Foi desafiador criar para essa faixa etária? Foi sim, muito! Eu nunca tinha feito nada parecido para crianças dessa faixa etária, e, como não tenho muitas crianças próximas na família, também não fazia muita ideia de como elas reagiriam. Mas reagiram bem – no fim, elas são muito mais abertas às loucurinhas gráficas do que eu imaginava. Muitos pais vieram me falar que os filhos amam o Jacaré! 

Do ponto de vista de uma ilustradora, quem é mais exigente, o adulto ou a criança? Ah, acho que são iguais em dificuldade. Crianças são mais difíceis de entender, mas são bem abertas. Com os adultos, eu falo a mesma língua, mas tem um desafio de aprofundar o discurso que é maior.
 

Matéria publicada na edição impressa #6 out.2017 em junho de 2018.