Flip do Leminski terá performances de Arnaldo Antunes e Gregorio Duvivier e geopolítica com o historiador israelense Ilan Pappe e a ministra Marina Silva

A programação da 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) foi anunciada na manhã desta terça, 24. O anúncio foi feito “num momento em que vivemos um fenômeno em torno da literatura, com grandes manifestações e eventos celebrando a bibliodiversidade”, disse Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip, na semana após A Feira do Livro, em São Paulo, e a Bienal do Livro, no Rio de Janeiro. 

O homenageado desta edição da festa é o poeta curitibano Paulo Leminski. “Concisa e cheia de humor, a obra poética de [Paulo] Leminski se nutre de saber, mas também de muita vivência — e nela vemos sua manha, até o fim”, afirma Leyla Perrone-Moisés em texto para a edição de julho da revista Quatro Cinco Um.

“A poesia de Leminski é nossa contemporânea em dois sentidos precisos: é a porta de entrada de muitos (jovens e não apenas jovens) leitores no universo da poesia e o motivo pelo qual muitos se tornaram e se tornam poetas”, escreve o poeta e editor Tarso de Melo para a mesma edição da revista dos livros. Ou, como disse a curadora da Flip Ana Lima Cecilio, citando Tarso de Melo: “O Leminski é uma porta de entrada [na poesia] para drogas mais pesadas. Está derramada em cada mesa da programação essa ideia de fazer a literatura chegar perto das pessoas”. 

Na coletiva de imprensa, foram anunciados os nomes de convidados que ainda não tinham sido divulgados, como o músico e poeta Arnaldo Antunes, que abrirá a programação na noite de quarta, 3 de julho; o historiador israelense Ilan Pappe, autor de Dez mitos sobre Israel (Tabla, 2022, tradução de Bruno Cobalchini Mattos); Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil; além de outros grandes nomes nacionais e internacionais. 

Norte global

Entre os nomes internacionais da festa literária, os destaques são a escritora e jornalista espanhola Rosa Montero, o romancista italiano Sandro Veronesi, o escritor e humorista português Ricardo Araújo Pereira, a espanhola Cristina Rivera Garza e o costa-marfinense GauZ’.

No horário nobre do sábado à noite, Montero conversa com Paulo Roberto Pires, colunista da revista dos livros, na mesa A ridícula ideia de estar lúcida. O nome alude aos títulos da escritora A ridícula ideia de nunca mais te ver e O perigo de estar lúcida, lançados no Brasil pela Todavia em 2019 e 2023, respectivamente, ambos com tradução de Mariana Sanchez. Esses livros são como “artefatos literários, uma mistura rara entre ensaio, autobiografia não confiável, biografia e ficção”, define a autora em entrevista para a Quatro Cinco Um. Outro convidado bastante esperado pelo público é o escritor e humorista português Ricardo Araújo Pereira, que conversa com o tradutor e ensaísta Caetano W. Galindo na noite de sábado, 2 de agosto. Araújo Pereira acaba de lançar Coisa que não edifica nem destrói pela Tinta-da-China Brasil, selo editorial da Associação Quatro Cinco Um. 

“O livro é baseado no podcast homônimo que RAP criou e apresenta. Com seu título deliciosamente machadiano — tirado de Memórias póstumas de Brás Cubas, obra-prima da comédia —, aprofunda uma especialidade e uma obsessão do autor: fazer a metalinguagem do humor, regada a bastante humor metalinguístico”, escreveu Sérgio Rodrigues na Quatro Cinco Um.

Também representante desse humor filosófico-literário, Gregório Duvivier fará uma performance sobre “a vida íntima das palavras” na noite de sexta, 1º de agosto. 

A quadrinista sueca Liv Strömquist conversa com a conterrânea de Leminski Giovana Madalosso. A sueca lançou recentemente no Brasil A astrologia (Companhia das Letras, tradução de Kristin Lie Garrubo); e a escritora curitibana teve seu Batida só recém-publicado pela Todavia. No novo romance, “Madalosso mostra que é preciso inventar para abrir possibilidades no impossível de evitar a relação com os fins que cercam os dias dos vivos”, analisa Ilana Katz em resenha.

Já Ilan Pappe apresentará, no final da tarde de sexta (1), a breve história do longo conflito Israel-Palestina. “Há um compromisso da Flip de discutir questões urgentes. Os temas incontornáveis são a guerra e o aquecimento climático”, disse a curadora Lima Cecilio, referindo-se às mesas de Pappe e Marina Silva, respectivamente. 

Sul global

Racismo, feminismo, desigualdades e dilemas latinoamericanos também serão tratados em mesas com autores nacionais e internacionais. Entre esses, muitas mulheres: a surinamense-holandesa Astrid Roemer, autora de Sobre a loucura de uma mulher (Companhia das Letras, 2025, tradução de Mariângela Guimarães), conversa com a afroindígena amazonense Verenilde Pereira; a francesa Neige Sinno, vencedora do Choix Goncourt du Brésil 2024 por Triste tigre (Record), com a portuguesa Anabela Mota Ribeiro; as latinoamericanas Alia Trabucco Zerán, do Chile, conversa com a brasileira Lilia Guerra; a mexicana Dahlia de La Cerda, com a argentina Dolores Reyes; e a também argentina Maria Negroni, com a espanhola Cristina Rivera Garza, autora de O invencível verão de Liliana (Autêntica Contemporânea, 2022, tradução de Silvia Massimini Feliz), vencedor do Pulitzer 2024. 

Representantes da afrodiáspora na França, os escritores Gaël Faye, nascido no Burundi, e GauZ’, nascido na Costa do Marfim, conversam na noite de quinta (31). Faye, autor de Pequeno país (Carambaia, 2023, tradução de Marília Garcia), já esteve na Flip em 2019. O escritor e comediante Gauz’ estreia na festa literária em Paraty e no Brasil com seu livro De pé tá pago, recém-lançado pela editora Ercolano com tradução de Diogo Cardoso. 

“O primeiro livro de GauZ’ foi premiado em 2014 com o Prix des Libraires Gibert Joseph. Em 2023, sua versão em inglês (Standing Heavy) apareceu na prestigiosa shortlist do International Booker Prize, projetando seu autor na vanguarda da literatura contemporânea”, escreve Adriana Ferreira Silva na Quatro Cinco Um. A jornalista entrevistou o escritor durante o festival Littérature Live, realizado em Lyon, na França, em maio. 

Sob outras lentes

Do Brasil, o jornalista Tiago Rogero, criador do projeto Querino, desdobrado em podcast e em livro publicado pela Fósforo, conversa na sexta (1), com a historiadora Ynaê Lopes dos Santos na mesa O Brasil no espelho, mediada por Juliana Borges, colunista da Quatro Cinco Um. E o grande estudioso da diáspora africana no Brasil conversa no sábado (2) com o escritor e professor Luiz Antonio Simas.

Caprichos, relaxos e poesia

Os escritores Fabrício Corsaletti e Lilian Sais conversam na manhã de quinta (31), na mesa Caprichos e relaxos. Corsaletti dedica-se tanto à poesia quanto à crônica, gênero que defende de forma enfática. “Se o Brasil se levasse mais a sério, cronistas seriam super bem-editados”, disse o escritor em conversa com Ricardo Terto n’A Feira do Livro 2025.

‘Se o Brasil se levasse mais a sério, cronistas seriam super bem-editados’, diz Fabrício Corsaletti

A poeta gaúcha Mar Becker dividirá uma mesa com a escritora paraense Monique Malcher, também na quinta. Becker, que começou cedo a publicar seus textos na internet, revelou ter certa dificuldade em publicá-los numa plataforma física, como os livros. “O papel tem essa feição de fixidez, ele mantém o texto pronto, e a minha vontade é sempre voltar. O Tarso [de Melo, seu editor] sabe que é muito difícil pra mim, quando tem republicação na plaquete, ele pergunta ‘Mar, tem alguma coisa pra mexer no texto?’, eu digo ‘não me faça essa pergunta, que eu vou querer mexer!’, dá vontade de mexer em tudo”, disse no 140º episódio do 451 MHz, em que conversou com a poeta Adelaide Ivánova.

Asma, boca e cova profunda

Na sexta, mais poesia escrita por mulheres, no encontro de Alice Ruiz, Claudia Roquette-Pinto e Marília Garcia. No especial do 451 MHz gravado ao vivo durante A Feira do Livro 2025, Garcia falou com a colunista da revista dos livros sobre a origem de sua nova publicação, Pensar com as mãos (WMF Martins Fontes), uma encomenda para a coleção Errar Melhor, dirigida pelo escritor Joca Reiners Terron, com textos dedicados a pensar a escrita. 

Com Marília Garcia e Bruna Beber, podcast 451 MHz grava sua primeira edição ao vivo

A 23ª Flip acontece de 30 de julho a 3 de agosto em Paraty. Veja a programação completa aqui