Listão da Semana,
Zooliteratura e mais 10 lançamentos
‘Animalidades’, de Maria Esther Maciel, parte de narrativas literárias que priorizam o ponto de vista animal para pensar os limites entre o humano e o não humano
16maio2023 | Edição #69A cachorra Baleia, das Vidas Secas de Graciliano Ramos; o cão Argos, da Odisseia de Homero; e o vira-lata Quincas Borba, que dá nome ao romance de Machado de Assis, são algumas das personagens (não restritas ao universo canino) analisadas em Animalidades, de Maria Esther Maciel, que chega nesta semana às livrarias brasileiras. O livro parte de narrativas literárias que priorizam o ponto de vista animal para pensar os limites entre o humano e o não humano e os impactos de suas interações.
Completam a seleção da semana o romance vencedor do Goncourt do senegalês Mohamed Mbougar Sarr, o livro que tornou a norte-americana Gwendolyn Brooks a primeira mulher negra a ganhar o Pulitzer, um ensaio sobre as origens da contracultura, uma antologia de poemas do Nobel Czeslaw Milosz e uma investigação científica sobre a linguagem humana, além de outras novidades quentinhas.
Viva o livro brasileiro!
Animalidades: zooliteratura e os limites do humano. Maria Esther Maciel.
Instante • 176 pp • R$ 69,90
A poeta, ensaísta e professora de literatura da Universidade Federal de Minas Gerais reflete sobre a questão dos animais no pensamento ocidental, discutindo a presença das subjetividades não humanas no âmbito da filosofia e da literatura, detendo-se sobretudo nas vidas e mortes caninas em Machado de Assis, Clarice Lispector e Graciliano Ramos; nos ursos de Yoko Tawada e nos paradoxos da animalidade em Hilda Hilst.
Mais Lidas
Trecho do livro:
O que uma ursa, caso tivesse acesso à linguagem verbal, escreveria sobre um romance que encena ficcionalmente os “eus” de três ursos-polares de três diferentes gerações familiares, em suas relações com diversos integrantes da espécie humana? […] Talvez ela pudesse se divertir com o que foi descrito, rir da nossa incompetência em sondar a vida íntima dos ursos. Ou ficar indignada tanto com as coisas que estão lá expostas indevida ou erroneamente, quanto com as que não estão e deveriam estar. Em última hipótese, ela não teria entendido nada que consta do livro, já que sua lógica não é a mesma da pessoa que se dispôs a entrar na interioridade dos ursos para relatar, na perspectiva deles, as coisas que viveram.
———
A mais recôndita memória dos homens. Mohamed Mbougar Sarr.
Trad. Diogo Cardoso • Fósforo • 400 pp • R$ 104,90
Ganhador do prêmio Goncourt de 2021, o quarto romance do escritor senegalês – um estudioso da obra do grande poeta Léopold Sédar Senghor – se inspira em um episódio do século passado para construir uma trama labiríntica cujo tema é outra obra literária. Em 1968, o escritor malinense Yambo Ouologuem se tornou o primeiro negro a conquistar o prestigiado prêmio Renaudot, mas quatro anos depois seu livro foi acusado de plágio e ele acabou sendo retirado das livrarias. No romance de Sarr (que dedicou seu livro a Ouologuem), um jovem escritor senegalês descobre em Paris um livro mítico publicado em 1938, O labirinto do inumano, cujo autor desapareceu silenciosamente após uma rumorosa acusação de plágio. Faye inicia então uma investigação para descobrir se ele ainda está vivo.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Fósforo. Conheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e produtos culturais.
———
Maud Martha. Gwendolyn Brooks.
Trad. Floresta • Pref. Margo Jefferson • Companhia das Letras • 168 pp • R$ 69,90/39,90
Lançado em 1953, o livro foi o único romance publicado pela poeta e escritora norte-americana Gwendolyn Brooks (1917-2000), a primeira negra a ganhar o prêmio Pulitzer, com o livro de poemas Annie Allen, de 1949. Maud Martha narra a trajetória de uma menina negra de Chicago nas décadas de 30 e 40 que sonha em fazer a vida em Nova York. A narrativa é composta por breves relatos impressionistas que descrevem os dias bons e ruins de uma mulher que luta para preservar sua dignidade e sua autoestima em uma sociedade preconceituosa.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e produtos culturais.
———
Juventude e contracultura. Marcos Napolitano.
Contexto • 176 pp • R$ 41
Professor de história na Universidade de São Paulo e autor de 1964: História do regime militar brasileiro (Contexto, 2014), Marcos Napolitano expõe as transformações geracionais do século 20 e as mudanças nas formas de namorar, se vestir, se reunir e protestar que moldaram o significado de ser jovem nos anos 60. Ele analisa como novas formas de rebeldia e de consumo se entrelaçaram para criar uma utopia de liberdade política e existencial que deram origem à chamada Contracultura.
———
Para isso fui chamado: poemas. Czesław Miłosz.
Org. e trad. Marcelo Paiva de Souza • Companhia das Letras • 280 pp • R$ 109,90/44,90
Ganhador do Nobel de Literatura de 1980, o poeta, romancista e ensaísta polonês (nascido na Lituânia) Czesław Miłosz aborda temas cruciais para aqueles que atravessaram o século 20: os horrores da guerra, a experiência do exílio, a morte, a esperança, a beleza do cotidiano e os prazeres simples da vida. A coletânea abrange, de forma cronológica, toda a produção poética de Miłosz desde sua estreia, em 1933, até seus últimos poemas, escritos no início dos anos 2000.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e produtos culturais.
———
O jogo da linguagem: a improvisação que mudou o mundo. Morten H. Christiansen e Nick Chater.
Trad. Berilo Vargas • Zahar • 392 pp • R$ 99,90/44,90
Dois cientistas cognitivos investigam as razões da diversidade linguística. Eles mostram que as línguas estão em um fluxo permanente e que é muito provável que a linguagem tenha sido inventada e reinventada inúmeras vezes ao longo do tempo, pois não se fundamenta em uma gramática fixa, mas pode ser construída a partir de uma liberdade quase total, como num jogo de mímica.
Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e produtos culturais.
———
Vapt-vupt
+ novidades quentinhas
A Expedição Fawcett: jornada para a cidade perdida de Z. Percy Fawcett.
Trad. Vitor Paolozzi • Record • 448 pp • R$ 99,90
Relata a história da viagem realizada em 1925 pelo explorador britânico Percy Fawcett, que desapareceu na Serra do Roncador (MT) quando tentava encontrar o Eldorado.
Das coisas definitivas. Carlos Eduardo de Magalhães.
Record • 320 pp • R$ 64,90
Um romance polifônico sobre a conturbada história da numerosa família de Julio Dansseto, um influente homem público de São Paulo no século 20.
Pequenas grandes sonhadoras: mulheres visionárias ao redor do mundo. Vashti Harrison.
Trad. Carolina Candido • HarperKids • 96 pp • R$ 69,90
Analisa a vida de 35 mulheres – artistas, cientistas, inventoras –, como a escritora Toni Morrison, a pintora Tarsila do Amaral e a bailarina Katherine Dunham.
Saussure e a Escola de Genebra. Gabriel Othero e Valdir do Nascimento Flores (orgs.).
Trad. Alena Ciulla e outros • Contexto • 208 pp • R$ 55
Traz ensaios sobre a Escola de Genebra, os escritos de Albert Sechehaye e as cartas que este trocou com Charles Bally na época da publicação do Curso de linguística geral (1916), de Saussure.
Último olhar. Miguel Sousa Tavares.
Companhia das Letras • 272 pp • R$ 69,90/39,90
O autor do romance Equador (publicado em trinta países) narra os dramas de três personagens de um lar de idosos espanhol em meio à pandemia da Covid-19.
———
Matéria publicada na edição impressa #69 em maio de 2023.