Listão da Semana,

bell hooks, W. E. B. Du Bois e mais 10 lançamentos

‘Irmãs do inhame: mulheres negras e autorrecuperação’, de hooks, chega esta semana às livrarias, com tradução do poeta floresta

14jul2023 | Edição #71

O que acontece quando uma das mais importantes pensadoras e ativistas do feminismo negro escreve um ensaio em diálogo com os livros de autoajuda importantes em sua trajetória e inspirado em grupo de apoio a mulheres negras? Quando a autora é bell hooks (1952-2021), autoajuda vira autorrecuperação e os escritos ganham dimensões históricas e políticas que os colocam entre os clássicos dos estudos afro-americanos. Irmãs do inhame: mulheres negras e autorrecuperação (WMF Martins Fontes), de hooks, chega esta semana às livrarias brasileiras, com tradução do poeta floresta. O lançamento vem bem acompanhado de outro clássico da área, que também chega às livrarias nesta semana, O negro da Filadélfia: um estudo social (Autêntica), de W. E. B. Du Bois. 

Completam a seleção um estudo sobre a astrologia na obra de Jung, o romance autobiográfico da peruana Gabriela Wiener, uma novela de Alejo Carpentier, um ensaio sobre a alteridade do historiador Dominick LaCapra e mais novidades quentinhas. 

Viva o livro brasileiro!

Veja os lançamentos de semanas anteriores.

Irmãs do inhame: mulheres negras e autorrecuperação. bell hooks.
Trad. floresta • Pref. Ynaê Lopes dos Santos • WMF Martins Fontes • 265 pp • R$ 59,90

Publicado em 1994, o livro se tornou um clássico dos estudos afro-americanos. Pensado como uma espécie de livro de autoajuda, ele examina as relações das mulheres negras com seu corpo, com a família, o trabalho e a comunidade, e mostra como a saúde emocional dessas mulheres é abalada por ataques cotidianos de racismo e sexismo. Inspirada nas experiências de um grupo de apoio feminino (as Irmãs do inhame), hooks compartilha estratégias de autorrecuperação e de cura dos traumas.

Trecho do prefácio da historiada Ynaê Lopes dos Santos para a edição brasileira:

Ao longo de Irmãs do inhame, bell hooks dialoga com alguns livros de autoajuda que foram importantes no seu percurso pessoal (de maneira mais ampla) e na confecção deste livro (de maneira mais específica). No entanto, ela diz, explicitamente, que não há ajuda possível sem uma perspectiva política das feridas que são imputadas às mulheres negras. É impossível ajudar o que se desconhece. Então, bell hooks nos brinda com um livro sobre autoconhecimento, sobre a necessidade de um mergulho profundo que nós, mulheres negras, precisamos fazer para deixarmos de ser sobreviventes e podermos ampliar o tamanho de nossas vidas. Um mergulho que é em nossas próprias vidas, mas também no mundo em que as vivemos. Como ela mesma diz em certa altura: “Para curar nossas feridas, nós precisamos ser capazes de analisar criticamente nossos comportamentos e mudar.

Leia também: Traduções de feministas negras como bell hooks apresentam vozes diversas e necessárias para compreender as lutas contemporâneas

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O negro da Filadélfia: um estudo social. W. E. B. Du Bois. 
Trad. Cristina Patriota de Moura • Autêntica • 448 pp • R$ 87,90

Baseado em uma pesquisa de campo que durou um ano e meio e uma revisão exaustiva de todas as estatísticas disponíveis, Du Bois produziu um retrato minucioso das condições de vida das famílias negras no nordeste dos Estados Unidos ao final do século 19. Publicado em 1899, o livro – que se tornou um clássico da antropologia urbana – analisa as consequências nefastas da escravidão sobre o mercado de trabalho, a segregação urbana e a criminalidade.

Leia também: Entrevista com a jornalista Nikole Hannah-Jones, do New York Times, criadora de projeto que revê o papel da escravidão nos EUA

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Jung, o astrólogo: um estudo histórico sobre os escritos de astrologia na obra de Carl G. Jung. Liz Greene.
Trad. Márcia Ferreira • Pensamento • 400 pp • R$ 84 

Extenso levantamento realizado pela astróloga e psicóloga norte-americana – autora de O tarô mitológico (1988) e Uma viagem através dos mitos (2001) – sobre o envolvimento de Jung com a astrologia, com base em seus livros e em cartas e documentos encontrados em seus arquivos. Ela revela as fontes antigas e medievais em que ele se baseou e as suas aplicações no tratamento de pacientes.

Leia também: O psiquiatra suíço Jung abordou a aceitação paradoxal de duas serpentes antagônicas: a bíblica e a tântrica

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Exploração. Gabriela Wiener.
Trad. Sérgio Molina • Todavia • 144 pp • R$ 72,90

Autora de Sexografias (2008), a escritora e ensaísta peruana radicada na Espanha (onde escreve para o jornal El País), resgata sua trajetória familiar para refletir sobre a história da América Latina num romance autobiográfico que explora os laços entre colonizados e colonizadores e as feridas que eles deixaram no corpo e na consciência das pessoas, mesclando fatos reais com elementos ficcionais.

Leia também: As lendas da América Latina merecem pé de igualdade com as dos colonizadores europeus

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O cerco. Alejo Carpentier. 
Trad. Silvia Massimini Felix • Companhia das Letras • 136 pp • R$ 74,90

Novela sufocante publicada em 1956 pelo escritor cubano – um dos criadores do realismo fantástico – que retrata o drama de um revolucionário cubano que se decepciona com o movimento e passa a ser perseguido freneticamente tanto pela polícia quanto pelos ex-companheiros. Ganhador dos prêmios Miguel de Cervantes (1977), Cino Del Duca (1975) e Médicis Estrangeiro (1982), a obra de Carpentier influenciou autores como José Saramago e Leonardo Padura.

Leia também: Numa prosa que recorda o realismo fantástico latino-americano, Alain Mabanckou faz uma análise mordaz da condição humana

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Compreender outros: povos, animais, passados. Dominick LaCapra.
Trad. Luis Reyes Gil • Autêntica • 288 pp • R$ 79,80/55,90

Inspirado nas ideias de Derrida, Freud e Bakhtin, o historiador norte-americano – professor emérito da Universidade Cornell — lançou as bases do contextualismo radical e destacou que os historiadores não devem apenas descobrir fatos “novos”, mas também fazer “leituras novas” de fontes já conhecidas. Neste livro ele discute até que ponto podemos compreender os outros — outros povos, animais e épocas – e qual é o papel que a alteridade desempenha dentro de nós.

Leia também: Escrito em 1920, “Além do princípio de prazer”, de Freud, mostrou que o organismo deseja morrer, mas à sua maneira — silenciosamente

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

As herdeiras. Aixa de la Cruz.
Trad. Marina Waquil • DBA Literatura • 308 pp • R$ 72

A escritora e crítica literária espanhola – ganhadora dos prêmios Librotea e Euskadi – narra os dilemas de quatro netas atormentadas pelo suicídio da avó.

As homicidas. Alia Trabucco Zerán.
Trad. Silvia Massimini Felix • Fósforo • 232 pp • R$ 74,90

Uma investigação sobre crimes rumorosos atribuídos a quatro chilenas, mostrando o tratamento dispensado às mulheres pela sociedade civil e pela Justiça.

Nós, os caserta. Aurora Venturini.
Trad. Mariana Sanchez • Fósforo • 192 pp • R$ 69,90

Protagonizado por uma jovem excêntrica e superdotada, o romance retrata uma família disfuncional da alta burguesia argentina da década de 1920.

O pacto. Joe Hill.
Trad. André Gordirro • HarperCollins • 416 pp • R$ 69,90

O autor de O telefone preto e outras histórias (2022) narra o drama de um homem cuja namorada é assassinada e tenta descobrir quem é o criminoso.

Toda fúria. Tom Farias.
Gutenberg • 240 pp • R$ 54,90

Romance protagonizado por Caniço, um jovem malandro e carismático da periferia do Rio de Janeiro que chama a atenção dos chefes do tráfico.

Um prefácio para Olívia Guerra. Liana Ferraz.
HarperCollins • 192 pp • R$ 59,90

A atriz paulista narra o drama de uma menina que presencia o suicídio de sua mãe, a poeta Olívia Guerra, e na idade adulta precisa conviver com a sua imensa fama.

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Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, é autora de Tantra e a arte de cortar cebolas (Editora 34).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #71 em julho de 2023.