Literatura infantojuvenil,

Leitores de carteirinha: junho de 2020

Frequentadores da bibliotecas Biblioteca Comunitária Semente Literária (MA), Biblioteca Comunitária Solar de Ler (PE) e Biblioteca Comunitária Três Marias (RJ) escolhem e resenham livros

01jun2020 | Edição #34 jun.2020

Débora, 15 — São Luís (MA)

Jenny Han. Para todos os garotos que já amei.
Tradução de Regiane Winarski
Intrínseca • 320 pp • R$ 39,90/24,90

Quando Lara Jean Covey, uma garota de dezesseis anos, está começando seu primeiro ano no ensino médio, continua achando que era totalmente invisível. Durante sua vida, escreveu ao todo cinco cartas de amor para pessoas pelas quais se apaixonou. E elas acabam sendo lidas por esses cinco meninos.

Apesar do fundo romântico, o ponto-chave da história é a relação da família da protagonista

O livro foi escrito por Jenny Han, escritora norte-americana de livros infantis e adolescentes, de 39 anos. O objetivo da autora, no meu conceito, foi apresentar ao público personagens bem pensados e uma premissa que carrega elementos que transmitem as mudanças e todo o turbilhão de emoções, decisões e sensações dessa fase em que não se é criança nem adulto. Apesar do fundo romântico, o ponto-chave da história é a forma como a autora apresenta a relação da família da protagonista. Em meio a uma trama com amor e cumplicidade, a autora nos entrega uma história poderosa, mas vai além, ao mostrar a importância da família e de cada momento que vivemos. Entendemos que os fatos que ocorrem nada mais são do que o próprio destino ali por escrito. 

O livro ganhou duas versões em filme pela plataforma Netflix, tendo como protagonista a atriz Lana Condor. Se você ainda não leu Para todos os garotos que já amei, corra para o site da livraria mais próxima e se apaixone por essa história e recuper o que nos foi tirado.

Sabrina, 18 — Olinda (PE)

Clare Vanderpool. Em algum lugar nas estrelas.
Tradução de Débora Isidoro
DarkSide • 288 pp • R$ 59,90

Em algum lugar nas estrelas, de Clare Vanderpool, conta a história de duas crianças que, apesar de diferentes, têm em comum a curiosidade e a superação. A narrativa mescla o mundo real com a fantasia, tornando a leitura curiosa e cativante, de tal forma que nos perdemos nas dúvidas criadas ao longo da trama.

A história se passa após a Segunda Guerra Mundial e tem como narrador um garoto de treze anos chamado John Baker, que perdeu a mãe fatidicamente. Seu pai decide levá-lo para a escola militar masculina de Morton Hill. Lá, o protagonista conhece um estranho garoto chamado Early Auden, com quem cria um vínculo de amizade. No Natal, sentindo-se muito só, Jackie — apelido de John — aceita partir em uma aventura com Early na floresta, começando uma odisseia perigosa em busca da verdade sobre o número pi. As atitudes curiosas de Early se sobrepõem ao protagonismo de Jackie, e suas características peculiares e seu fascínio pelo número pi prendem nossa atenção e despertam nosso interesse. O livro nos apresenta a dificuldade de superar a perda de um ente querido.

A narrativa propõe a visão de um garoto cuja vida acabara de tomar um rumo completamente diferente, enfrentando obstáculos inimagináveis. Apesar de o livro ter momentos monótonos, Clare nos apresenta um mundo onde os números contam histórias e crianças enfrentam piratas e ursos gigantes. Além do design magnífico, o livro apresenta curiosidades, fatos e um desenvolvimento rico em informações, um conteúdo que desperta a nossa imaginação, quebrando uma espiral de acontecimentos repetitivos. Aprendi com o Early a nunca duvidar da capacidade de um personagem, e que, quando chover, preciso ouvir Billie Holiday.

Isabel, 18 — Nova Iguaçu (RJ)

Ailton Krenak. Ideias para adiar o fim do mundo.
Companhia das Letras • 64 pp • R$ 24,90

Esta é a minha primeira experiência em escrever uma resenha. O livro escolhido foi Ideias para adiar o fim do mundo, de Ailton Krenak. A obra é dividida em três capítulos: “Ideias para adiar o fim do mundo”, “Do sonho da terra” e “A humanidade que pensamos ser”. Ailton Krenak é ambientalista, escritor, ativista e uma liderança indígena que há muitos anos está à frente de projetos que lutam pelos direitos dos povos indígenas e os defendem. 

Esse livro me trouxe uma clareza maior em relação à resistência dos povos indígenas

Os textos do livro se baseiam em duas palestras dadas por ele, em Portugal, em 2017 e 2019. A obra aborda pontos importantes em relação à ideia de humanidade e como o consumo afasta as pessoas da natureza, fazendo com que não vivamos a verdadeira cidadania, além de falar da ação extrativista das empresas sobre a biodiversidade brasileira. 

A sua literatura fala sobre memória ancestral, que vivencia a mãe Terra. É um processo mútuo com troca de afetos e respeito pela memória dos antepassados. Os rios, as árvores, a terra e as montanhas são tratados como familiares. Enquanto isso, fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, o planeta Terra, e passamos a pensar que ela é uma coisa e nós, outra.
O livro me trouxe uma experiência profunda e maior clareza em relação à resistência dos povos indígenas. O sentimento que fica é que há muito a aprender com esses povos.

Esse texto foi realizado com o apoio do Itaú Social.

Matéria publicada na edição impressa #34 jun.2020 em maio de 2020.