Repertório 451 MHz,
Poesia indígena
Carola Saavedra e Rubens Akira Kuana refletem sobre o papel da literatura no resgate da identidade indígena e na tradução de cosmovisões
23dez2022 | Edição #65Ouça mais Episódios
Está no ar o 78º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros. A escritora Carola Saavedra e o poeta Rubens Akira Kuana conversam com a editora Paula Carvalho sobre a literatura dos povos originários. No último episódio de 2022, a autora de origem mapuche e o poeta e tradutor de ascendência japonesa discutem o tema a partir de obras como O mundo desdobrável: ensaios para depois do fim (Relicário), O manto da noite (Companhia das Letras) e Poema de amor pós-colonial (Círculo de Poemas).
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Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também! Este episódio também tem o apoio da Companhia das Letras.
Povos originários na literatura contemporânea
Carola Saavedra é um dos grandes nomes da literatura contemporânea brasileira. Nascida no Chile, aos três anos de idade veio para o Brasil com os pais, que estavam fugindo da ditadura militar de Pinochet. A escritora é de origem mapuche, um povo indígena presente no Chile e na Argentina, mas só recentemente começou a explorar a busca por essa identidade em seus escritos.
O tema apareceu em sua coletânea de ensaios O mundo desdobrável: ensaios para depois do fim, e ficou mais explícito no romance O manto da noite, publicados pela Relicário e pela Companhia das Letras, respectivamente.
Rubens Akira Kuana é um poeta, arquiteto e urbanista de Santa Catarina. Ele traduziu o livro Poema de amor pós-colonial, da poeta mojave Natalie Diaz, lançado pela Círculo de Poemas, uma parceria entre as editoras Fósforo e Luna Parque. O livro foi vencedor do prêmio Pulitzer de poesia em 2021 e a edição brasileira foi selecionada como um dos melhores lançamentos do ano pelos colaboradores da Quatro Cinco Um.
Akira Kuana é autor de Digestão e Nem tão amarelo assim, no qual trata de sua ascendência japonesa, lançados pela Shiva Press. Ambos estão disponíveis para download gratuito no site do autor.
Elementos da natureza
Carola Saavedra tem usado a pesquisa e a literatura como ferramentas para entender mais sobre a própria ancestralidade. A escritora de origem mapuche dá aula na Universidade de Colônia, na Alemanha, onde desenvolve uma pesquisa sobre literatura indígena. “Venho já há um tempo pesquisando o pensamento indígena na literatura e arte indígena, que está paralelo a uma recuperação da minha ancestralidade por parte de pai”, afirma ela durante a conversa com Rubens Akira Kuana e Paula Carvalho.
Saavedra explica que a pesquisa e o viés pessoal que a acompanham influenciaram a produção de seus livros O mundo descartável: ensaios para depois do fim (Relicário) e O manto da noite (Companhia das Letras). As ideias desenvolvidas no trabalho de não ficção deram margem para a ficção, em que ela usa a natureza para trabalhar a subjetividade. “Vem a ideia de outras subjetividades, que é muito forte, não essa divisão que a gente costuma fazer, esse pensamento binário, ocidental de um eu e o outro, o ser humano e a natureza”, descreve. “Mas outras visões de mundo onde essa subjetividade não está somente naquilo que a gente considera humano, mas em tudo na natureza: o rio, as montanhas, os animais.”
Enquanto O manto da noite traz a cordilheira como personagem, Poema de amor pós-colonial dá destaque ao rio Colorado, nos Estados Unidos. O rio tem um papel central na obra e na vida de Natalie Diaz, poeta indígena mojave que nasceu em 1978 em Needles, no norte do deserto Mojave e às margens do rio. “Mais que um personagem, o rio é uma entidade na vida da própria Natalie”, explica o tradutor do livro, Rubens Akira Kuana.
Ganhador do Prêmio Pulitzer de poesia em 2021, Poema de amor pós-colonial mostra como a autora, como indígena que cresceu em comunidade tradicional, tem contato com diferentes visões e saberes sobre os seres humanos e não humanos. “Ela [Natalie] faz uma mistura muito interessante dos saberes do ocidente com a vivência indígena no livro dela”, diz Akira Kuana. O tradutor levou essa mistura em consideração ao trabalhar na edição brasileira da obra: “Não era só um desafio de traduzir do inglês para o português, mas traduzir diferentes vivências de mundo. Diferentes compreensões do que é o mundo”.
Mais na Quatro Cinco Um
As obras de Carola Saavedra apareceram nas listas de melhores livros da Quatro Cinco Um em 2018 — Com armas sonolentas (Companhia das Letras) — e em 2021 — O mundo desdobrável: ensaios para depois do fim (Relicário).
Já Natalie Diaz e o tradutor Rubens Akira Kuana apareceram na lista dos melhores de 2022 com Poema de amor pós-colonial (Círculo de poemas).
O melhor da literatura LGBTI+
A escritora Dia Nobre, autora de No útero não existe gravidade (Editora Penalux), indica a leitura de Corpo desfeito, de Jarid Arraes, publicado em 2022 pela Alfaguara, selo da Companhia das Letras. “Jarid tem uma escrita sensível, mas intensa, que faz a gente pensar nas coisas importantes que cercam o universo das mulheres e esse é um livro que eu recomendo muito”, diz Dia Nobre.
Confira a lista completa de indicações dadas no podcast 451 MHz, no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.
O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação Quatro Cinco Um.
Apresentação: Paulo Werneck e Paula Carvalho
Coordenação Geral: Évelin Argenta e Paula Scarpin
Produção: Ashiley Calvo
Edição: Gabriela Varella
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace e Luís Rodrigues, da Pipoca Sound
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger, FêCris Vasconcellos e Bia Ribeiro
Para falar com a equipe: [email protected]
Matéria publicada na edição impressa #65 em outubro de 2022.
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