P%&$#@, Angeli!

Está no ar o 70º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros. Bob Cuspe, Os Skrotinhos, Re Bordosa, Wood & Stock. Angeli, o criador desses personagens inesquecíveis dos quadrinhos brasileiros, aposentou-se em abril deste ano. Para homenagear o artista no mês do seu aniversário, o editor André Conti e o quadrinista Adão Iturrusgarai relembram grandes momentos do amigo.  

Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também! Este episódio tem ainda apoio da Companhia das Letras. 

Carreira cinquentenária

Ilustração de Angeli [Divulgação]

Arnaldo Angeli Filho, mais conhecido como Angeli, completa 66 anos de vida no dia 31 de agosto. Um dos maiores nomes dos quadrinhos brasileiros aposentou-se em abril deste ano por causa da afasia, uma doença neurodegenerativa que prejudica a comunicação. O Angeli se aposenta, mas os seus personagens não. Todos estão ali, com vida própria, graças à genialidade do criador.

Edição de julho

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Se essa notícia tem um gosto amargo, ela vem acompanhada de uma homenagem: em comemoração aos cinquenta anos de carreira do Angeli, a Companhia das Letras está preparando uma publicação inédita com uma grande seleção do seu trabalho. 

O compilado é organizado por André Conti, um dos entrevistados deste episódio, junto com Carolina Guaycuru, mulher de Angeli. O livro pinça trabalhos ao longo das últimas cinco décadas, passando por tiras de jornais e revistas, charges, ilustrações e desenhos variados. O plano é publicar dois volumes, reunindo cerca de mil trabalhos do Angeli, ainda neste ano.

Já foram publicados Todo Wood & Stock, Toda Rê Bordosa e Todo Bob Cuspe, e está para sair Todo Os Skrotinhos, todos pela Companhia das Letras.

Para relembrar a importância do Angeli para a charge brasileira, convidamos o quadrinista Adão Iturrusgarai, ou simplesmente "Adão", como ele assina suas obras. O Adão foi um dos grandes parceiros do Angeli na vida, na arte (com Los Três Amigos, por exemplo, junto com Laerte e Glauco, assassinado em 2010, tema tratado na entrevista) e, como ele conta nessa conversa, “em coisas que não pode nem dizer”.

Ilustração de Angeli [Divulgação]

Adão fala que conheceu Angeli, Laerte e Glauco em 1991, quando foi convidado a se juntar aos Los Três Amigos ao mesmo tempo que colaborava com a revista Chiclete com Banana. 

Conti revela alguns dos bastidores para a seleção das milhares tirinhas para o livro que será publicado pela Companhia das Letras.

Além de ilustrar, Angeli tem gosto por desenhar revistas, tanto que realizou com a Laerte e a editora Todavia a revista Baiacu, que ele pretendia participar de todas as fases de design.

Gênero brasileiro

O apresentador Paulo Werneck comenta na entrevista que a tira é um gênero de quadrinhos tradicionalmente brasileiro, sendo a “crônica” desse meio, mencionando o livro HQ: Uma pequena história dos quadrinhos para uso das novas gerações, de Rogério Campos (Veneta/Edições Sesc, 2022), observação esta que é reiterada por André Conti, conhecedor do meio.

[Reprodução]

Já Adão destaca a importância de Angeli e da revista Chiclete com Banana, comparando seu impacto ao do Pasquim, jornal que marcou política e culturalmente os anos 70 no Brasil. Ele também relembrou uma frase do escritor Luis Fernando Verissimo: “A literatura de São Paulo são os quadrinhos”, que referencia diretamente Angeli, Laerte, Glauco, entre outros cartunistas. 

Conti comenta a evolução do estilo de Angeli, desde as suas primeiras colaborações para a extinta revista Senhor, para o Salão de Humor de Piracicaba e para o Pasquim, em que lembrava Millôr Fernandes e Henfil, até encontrar uma assinatura própria na Chiclete com Banana. Mesmo assim, é possível perceber as mudanças em seu estilo, sua técnica e seus personagens.

Angeli também é bastante conhecido por suas charges políticas, que foram reunidas em O lixo da história (Quadrinhos na Cia), em que aborda uma década de conflitos políticos e militares no Oriente Médio. Do 11 de setembro aos distúrbios da chamada Primavera Árabe, nada escapa à pena ferina do autor.

Mais na Quatro Cinco Um

O editor André Conti é colaborador da Quatro Cinco Um. Escreveu uma resenha de O homem sem talento, de Yoshiharu Tsuge, e outra sobre o guia de leitura de Ricardo Lísias para Ulisses, de James Joyce.

Laerte, uma das parceiras profissionais de Angeli, ilustrou a capa da edição 40 da revista dos livros, que trouxe o especial Melhores Livros de 2020. A imagem é uma releitura da famosa obra de Hieronymus Bosch, O Jardim das Delícias.

Laerte também participou do 451 MHz, no episódio Decifra-me ou te desenho, em que repassa quatro décadas de carreira em conversa com a psicanalista Maria Rita Kehl, que foi ao ar em abril de 2021.

O melhor da literatura LGBTI+

O escritor Mateus Baldi, que escreveu recentemente Formigas no paraíso (Faria & Silva, 2022), recomenda o livro Argonautas, de Maggie Nelson, com tradução de Rogério Bettoni e que saiu pela editora Autêntica, em 2017.

Vencedor do National Book Critics Circle Award em 2015 e escolhido como um dos livros do ano pelo New York Times, é uma autobiografia que conta a história de amor entre ela e seu marido, Harry, um homem trans, em meio ao conservadorismo nos Estados Unidos. Ela atrela sua experiência pessoal a uma análise rigorosa de teorias sobre sexualidade, gênero, casamento e educação infantil.

Confira a lista completa de indicações dadas no podcast 451 MHz, no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.

O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação Quatro Cinco Um.
Apresentação: Paulo Werneck
Coordenação Geral: Évelin Argenta e Paula Scarpin
Produção: Gabriela Varella
Edição: Cláudia Holanda
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger e FêCris Vasconcellos
Gravado com apoio técnico da Confraria de Sons & Charutos (SP)
Para falar com a equipe: [email protected]