Repertório 451 MHz,

Luiza Romão: um acerto de contas com Homero

A poeta Luiza Romão conversa sobre a ‘Ilíada’, inspiração para os poemas de ‘Também guardamos pedras aqui’, vencedor do Jabuti de Livro do Ano de 2022, no podcast 451 MHz

10mar2023

Está no ar o 83º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros. Neste episódio, Luiza Romão, poeta, atriz e um dos grandes nomes do slam nacional, conversa sobre Homero e a Ilíada, inspiração para os poemas de Também guardamos pedras aqui, vencedor do Jabuti de Livro do Ano de 2022. A escritora também reflete sobre a violência que perpassa seus trabalhos e revela como entrou para o circuito da poesia falada.

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Violência


A poeta paulista Luiza Romão [Fabio Audi/Divulgação]

Luiza Romão é poeta, atriz e um dos grandes nomes do slam nacional. Ano passado, Romão ganhou o principal prêmio literário do país, o Jabuti de Livro do Ano com Também guardamos pedras aqui, que saiu pela editora Nós em 2021. Nessa obra ela cria um diálogo direto com a Ilíada, de Homero, considerada a narrativa que inaugura a literatura ocidental. Os poemas seguem o ponto de vista de personagens da epopeia grega, mas com uma visão mais crítica da guerra. 

Em 2022, ela lançou Nadine, pela editora Quelônio, que conta em poemas o feminicídio da personagem-título, como uma releitura do gênero policial. Romão também é autora de Sangría (Edição do autor, 2017), uma reunião de poemas que seguem um ciclo menstrual e que recria a história do Brasil.

   

Sangria

A violência é um tema que perpassa a obra de Romão, e ela reflete sobre como narrar histórias violentas não é uma segunda violência com as vítimas. Uma dessas reflexões resultou na peça Garotas mortas, da coletiva Palabreria, adaptação teatral do livro homônimo de Selva Amada, que investiga feminicídios que aconteceram na Argentina nos anos 80 e que foi lançado no Brasil em 2018 pela Todavia.

Romão também falou sobre o fetiche de corpos de mulheres mortas, e de duas pesquisadoras que tratam do tema: Cressida J. Heyes (ainda não traduzida no Brasil) e Gabriela Larocca.

Também guardamos pedras aqui inspirou um curta-metragem homônimo, de 2021, dirigido por Eugênio Lima. Áudios dos poemas “Ifigênia”, “Ilíone” e “Andrômaca” foram cedidos pela autora e fazem parte desse episódio. O curta pode ser conferido abaixo:

Revisitar a Ilíada

Para escrever os poemas de Também guardamos pedras aqui, Romão leu vários livros, entre ele Cassandra, de Christa Wolf (Estação Liberdade, 2020); A cidade das palavras: as histórias que contamos para saber quem somos, de Alberto Manguel (Companhia das Letras, 2018); Necropolítica, de Achille Mbembe (n-1, 2018); além de obras de Jean-Pierre Vernant (conhecido historiador da Grécia antiga) e da intelectual indiana Gayatri Chakravorty Spivak.

      

Romão também comentou da Oresteia, trilogia de peças escrita por Ésquilo. A trilogia começa com Clitemnestra (que Christa Wolf vai chamar de “primeira feminista da literatura ocidental”) matando o marido Agamêmnon ao retornar de Troia, depois de ter sacrificado a filha Ifigênia aos deuses para que os gregos ganhassem a guerra.

Medeia, mencionada pela jornalista Paula Carvalho na entrevista, é outra figura da mitologia grega admirada por Romão, que afirmou ser grande apreciadora de Mata teu pai, peça de Grace Passô (Cobogó, 2017), que se baseia na tragédia da personagem nascida em Cólquida.

Sobre possíveis releituras da sua poesia, a autora comentou que está pensando em ler a Bíblia, inspirada por uma exposição que viu sobre representações visuais da personagem Suzana, que é violentada por homens mais velhos enquanto se banha em um rio. Ela destacou as obras de Artemisia Gentileschi, “Suzana e os anciões”.


Suzana e os anciões, de Artemisia Gentileschi, c. 1610


Suzana e os anciões, de Artemisia Gentileschi, c. 1630


Suzana e os anciões, de Artemisia Gentileschi, c. 1652

Mais na Quatro Cinco Um

Homero e a Ilíada aparecem na resenha escrita por Kelvin Falcão Klein sobre Da Ilíada, de Rachel Bespaloff (Âyiné, 2022): “Quando Rachel Bespaloff escreveu Da Ilíada, em 1939, parece ter aproveitado a longa distância dos gregos para ler o poema homérico com olhos renovados. ‘A guerra — nós a fazemos e a suportamos, nós a execramos ou a cantamos; não mais do que o destino, nós a julgamos’, escreve.”

Foram publicadas duas matérias sobre o slam, fenômeno cultural que abriu a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip, 2019) e aconteceu n’A Feira do Livro, que aconteceu em São Paulo no ano passado. O slam também apareceu no quinto episódio do 451 MHz, que contou com participação da autora e slammer Mel Duarte.

O melhor da literatura LGBTI+

Stênio Gardel, autor de A palavra que resta (Companhia das Letras, 2021), indica O que te pertence, de Garth Greenwell, traduzido pelo José Geraldo Couto publicado pela editora Todavia em 2019.

O romance segue um professor que é forçado a lidar com suas experiências formadoras de amor, a dolorosa rejeição pela família e pelos amigos e a dificuldade de crescer como gay nos Estados Unidos dos anos 90.

Confira a lista completa de indicações dadas no podcast 451 MHz, no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.

O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação Quatro Cinco Um
Apresentação: Paulo Werneck e Paula Carvalho
Coordenação Geral: Évelin Argenta e Paula Scarpin
Produção: Ashiley Calvo
Edição: Gabriela Varella
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace e Luis Rodrigues, da Pipoca Sound
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger e FêCris Vasconcellos
Para falar com a equipe: [email protected]