Repertório 451 MHz,
A História em quadrinhos com Marcelo D’Salete
No podcast 451 MHz, o ilustrador fala sobre sua nova HQ ‘Mukanda Tiodora’, que narra os tempos da escravidão em São Paulo
24fev2023Ouça mais Episódios
Está no ar o 82º episódio do 451 MHz, o podcast da revista dos livros. Neste episódio o ilustrador e quadrinista Marcelo D’Salete fala sobre Mukanda Tiodora, sua HQ mais recente na qual resgata cartas da escravizada Tiodora para contar a história da escravidão em São Paulo.
Mais Lidas
Duas vezes por mês, trazemos entrevistas, debates e informações sobre os livros mais legais publicados no Brasil. O 451 MHz tem apoio dos Ouvintes Entusiastas. Seja um você também! Este episódio tem apoio da Companhia das Letras.
Ficção e história
Marcelo D’Salete foi retratado por Renato Parada na sua coluna Folha de Rosto na edição 65 da Quatro Cinco Um
Marcelo D’Salete é um dos principais quadrinistas da atualidade no Brasil. Seus quadrinhos Cumbe e Angola Janga (ambos saíram pela editora Veneta), bastante premiados, deram início a uma fase da sua obra em que conta episódios históricos da escravidão brasileira misturados à ficção no formato de HQ. O primeiro trata de pequenos contos sobre escravizados no Brasil e o segundo explora a trajetória do famoso Quilombo dos Palmares.
Angola Janga foi resenhado por Cristiane Tavares na décima edição da revista dos livros. “Um dos pontos fortes de Angola Janga é a perspectiva narrativa — verbal e visual. Não há um narrador onisciente, e a palavra é dividida entre os personagens, sobretudo os que viveram nos mocambos. Estima-se que no auge de Palmares houvesse mais de 20 mil pessoas lá. Os diálogos se apresentam em texto enxuto, dando protagonismo para as imagens”, escreveu ela.
Seu lançamento mais recente, Mukanda Tiodora (também pela Veneta) volta-se para a história da escravidão de São Paulo a partir da vida da escravizada Tiodora e de sete cartas que ela possuía, escritas por um outro negro, Claro, acusado de um crime contra o senhor de Tiodora.
A HQ traz uma série de informações sobre Tiodora e a escravidão no estado, dos cafezais aos escravos de ganho na capital, incluindo imagens da época do fotógrafo Militão Augusto de Azevedo, mapas, um posfáscio da professora Cristina Wissenbach e, pela primeira vez, as sete cartas transcritas, encontradas nos arquivos policiais.
D’Salete comentou da importância do trabalho de três historiadoras para a produção de Mukanda Tiodora: Cristina Wissenbach, com seu Sonhos africanos, vivências ladinas: escravos e forros em São Paulo (Hucitec, 2009); Ligia Fonseca Ferreira, com Lições de Resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro (Edições Sesc, 2020); e Ana Flávia Magalhães Pinto, com Escritos de liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista (Editora da Unicamp, 2018).
Outro livro citado por D’Salete como parte de sua pesquisa para escrever a HQ foi Retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do século 19, de Lilia Schwarcz (Companhia das Letras, 2017). Ele também destacou o trabalho da historiadora Silvana Jeha e do editor Rogério de Campos para a elaboração de material extra histórico que compõe o quadrinho.
D’Salete citou a importância de Maria Firmina dos Reis e do filme 12 Anos de Escravidão (2013), dirigido por Steve McQueen e ganhador do Oscar de melhor filme, como inspiração para seus trabalhos.
Mais na Quatro Cinco Um
D’Salete participou de uma mesa sobre quadrinhos n’A Feira do Livro do ano passado com André Kitagawa e mediação de Clara Rellstab. No evento, comentou que observou a cultura de exclusão na capital ao ter que se deslocar da Zona Leste, onde residia, para o centro, para ver exposições de arte: “A cultura de exclusão de São Paulo não é algo apenas simbólico: é evidente. Esse pensamento do condomínio é bem grande em São Paulo — é o espaço que se paga para não ter contato com outros pobres. Você paga uma estrutura para não ter contato com o povo. Essa realidade é importante saber ver, criticar e colocar nas nossas histórias”.
D’Salete também foi o autor da capa da edição 36, de agosto de 2020, que trazia um especial sobre Luiz Gama. Na ilustração, Gama segura uma caneta, arma que usava para obter a liberdade de escravizados em São Paulo.
O melhor da literatura LGBTI+
João Silvério Trevisan, autor de Devassos no paraíso (Companhia das Letras, 2004), indica Confissões de uma máscara, de Yukio Mishima, com tradução mais recente de Jaqueline Nabeta, e publicado originalmente em 1949.
O romance autobiográfico do autor japonês traz o permanente conflito do protagonista com seu desejo e sua sexualidade em meio ao militarismo crescente do Japão.
Confira a lista completa de indicações dadas no podcast 451 MHz, no bloco O Melhor da Literatura LGBTQIA+.
CRÉDITOS
O 451 MHz é uma produção da Rádio Novelo e da Associação Quatro Cinco Um.
Apresentação: Paulo Werneck e Paula Carvalho
Coordenação Geral: Évelin Argenta e Paula Scarpin
Produção: Ashiley Calvo
Edição: Gabriela Varella
Produção musical: Guilherme Granado e Mario Cappi
Finalização e mixagem: João Jabace
Identidade visual: Quatro Cinco Um
Coordenação digital: Juliana Jaeger e FêCris Vasconcellos
Porque você leu Repertório 451 MHz
A poesia de Victor Heringer
Alice Sant’Anna e Ricardo Domeneck conversam sobre a vida e a obra do escritor carioca
NOVEMBRO, 2024