Xodó literário,
Os xodós literários de 2024
Seja um grande lançamento, uma reedição ou um livro ainda não lido na estante, colaboradores da Quatro Cinco Um revelam suas leituras preferidas do ano
06dez2024Seja um grande lançamento, uma reedição ou um resgate de livro ainda não lido na estante, é sempre delicioso encontrar uma leitura incrível. Para encerrar o ano com uma boa retrospectiva literária, pedimos aos colaboradores da revista que compartilhassem qual foi a leitura que os marcou neste 2024. A seguir, os xodós literários indicados por alguns dos 108 votantes dos Melhores Livros de 2024.
Gabriela Aguerre
Procurar uma frase. Pierre Alferi.
Trad. Inês Oseki-Dépré • Relicário • 116 pp • R$ 59,90
“Porque pensa a prática literária para além de temas, gêneros e estilos — e toca nos elementos singulares da escrita: a frase, o ritmo, o fluxo, a força, o sentido etc., de uma forma precisa e inspiradora. (Ou: porque me ajuda a lembrar por que amo tanto a literatura.) (Ou, ainda: porque é quase um livro de bolso, de bolsa, pra ter sempre à mão, e se encontrar com alguma preciosidade enquanto não chega o elevador ou não ferve a água na chaleira.)”
Cristhiano Aguiar
A casa de barcos. Jon Fosse.
Trad. Leonardo Pinto Silva • Fósforo • 44 pp • R$ 64,90
Mais Lidas
“Poucas vezes encontrei uma obra de ficção que conseguisse materializar tão bem, na sua linguagem, o labirinto de uma subjetividade perdida em um estado de angústia. Ao longo do ano, este livro de Fosse não saiu da minha mente. Amizade, ansiedade, imaginação, crise: tudo converge de maneira brilhante na sua prosa hipnótica.”
Rita M. Da Costa Aguiar
O espaço entre as folhas da relva. María José Ferrada.
Trad. Silvana Tavano • Ils. Andrés López • ÔZé• 64 pp • R$ 60
“Um livro lindo de pura poesia de autoria da María José Ferrada, ilustrado por André López e traduzido pela Silvana Tavano. Um edição primorosa do Zeco Montes.”
Sérgio Alcides
Poesia reunida. Maria Lúcia Alvim.
Org. Guilherme Gontijo Flores e Ricardo Domeneck. Apres. Juliana Veloso. Posf. Guilherme Gontijo Flores • Relicário • 564 pp • R$ 89,90
“Depois que um poeta morre, uma edição de poesia reunida pode resultar num túmulo. Ou numa afirmação definitiva, com a contundência de um legado. Está neste último caso a reunião da obra poética de Maria Lúcia Alvim. Poeta de uma transcendência especial, que se desprende a custo da carne, e nunca se esquece totalmente de sua origem mundana e perecível. Brava desbravadora de sonetos, que escreve sem poeira nenhuma, e estalam na hora da leitura. Um vértice muito pessoal da tríade de grandes poetas da mesma família, ao lado da irmã Maria Ângela Alvim e do irmão Francisco Alvim.”
Helena Aragão
O braço mágico. Roseana Murray.
Ils. Fernando Zenshô • Estrela Cultural • 32 pp • R$ 54,90
“Roseana passou por um trauma absurdo que resultou numa mutilação — ela perdeu um braço ao ser atacada por pitbulls, em Saquarema (RJ), em abril de 2024 — e devolveu ao mundo sabedoria e poesia. Só conheci a poeta após esse episódio dramático e fiquei muito impressionada por sua determinação em ver o lado bom da vida. Ler O braço mágico com minha filha de sete anos foi um dos bons momentos do ano.”
Marcelo Ariel
O livro de Catulo. João Angelo Oliva Neto.
EDUSP • 904 pp • R$ 250
“Por permitir o acesso ao universo lírico polifônico do extraordinário Caio Valério Catulo (c.87-c. 52 a.C.).”
Amauri Arrais
Tantra e a arte de cortar cebolas. Iara Biderman.
Editora 34 • 120 pp • R$ 53
“Uma bela estreia de uma colega jornalista que revela talento e imaginação para as narrativas curtas.”
Anna Virginia Balloussier
As abandonadoras. Begoña Gómez Urzaiz.
Trad. Eliana Aguiar • Companhia das Letras • 280 pp • R$ 79,90
“O livro vai na jugular dessa ideia mofada, mas tão persistente, de que a mulher nasceu para ser mãe.”
Juliana Borges
O embranquecimento. Evandro Cruz Silva.
Patuá • 182 pp • R$ 70
“Evandro consegue escrever como se uma carta endereçada a muitos outros, como eu, que vivem a angústia de uma vida de meio, de transição, de contradições. As políticas de ações afirmativas tiveram como uma de suas consequências o surgimento, ainda que tímido, de uma classe média negra para além da única forma de alguma ascensão que era o serviço público. Esses desafios e sentidos estão transpostos em uma personagem e sua dinâmica familiar que, se não retratam fatos, já que não haveria de ser em sendo personagem literária, dialogam fundo com uma geração de primeiros universitários honrando um legado de luta ancestral.”
Stephanie Borges
Sr. Loverman. Bernardine Evaristo.
Trad. Camila von Holdefer • Companhia das Letras • 328 pp • R$ 89,90
“A partir da história de um homem que decide se divorciar e sair do armário por volta dos sessenta anos, a autora entrelaça os conflitos geracionais de uma família, abordando temas como migração e pertencimento. A narrativa é bem-humorada e os personagens são complexos e cativantes. Evaristo alterna os pontos de vida do patriarca Barry e de sua esposa, Carmel, observando como o casamento e a convivência são experiências distintas para cada um. O fim do relacionamento numa idade madura poderia ser uma crise, mas se revela o começo de outra vida, bem mais interessante, para os dois.”
Ronaldo Bressane
Madnaus. Susy Freitas.
Reformatório • 164 pp • R$ 54
“Estreia na ficção da poeta manauara, este livro de contos mostra uma Zona Franca cyberpunk, eletrizante e libidinal, em histórias que evocam tanto transes ancestrais quanto os piores desastres urbanos, em uma linguagem ácida, bem-humorada e cheia de inventividade. É como se a Amazônia tivesse sido destruída pelas queimadas e ressuscitada com LSD. Fora dos eixos, é uma escrita que não se parece com nada do que foi publicado no Brasil este ano.”
Luis Campagnoli
Nosso corpo estranho. Reginaldo Pujol Filho.
Fósforo • 120 pp • R$ 69
“O romance experimenta, e o experimento dá certo. Composto apenas por textos que reproduzem textos de galeria de arte, consegue criar uma narrativa verossímil que prende do início ao fim. Tem a extensão na medida justa, nem mais, nem menos do que o necessário para dizer muito com pouco. Além do arrojo formal, o conteúdo está repleto de ironia para com temas e expressões agora em voga, o que também exige desembaraço por parte do autor. Vale a leitura!”
Ana Paula Campos
Ugh! Um relato do Pleistoceno. Jairo Buitrago e Rafael Yockteng.
Solisluna • 64 pp •R$ 89,90
“Um jeito emocionante e lindo de imaginar o início da linguagem e da arte.”
André Capilé
Estrofes em Meditação. Gertrude Stein.
Trad. Júlia Manacorda • Machado • 448 pp • R$ 60
“Toda a complexidade de ideias, em uma tradução ágil e inteligente de Júlia Manacorda, trazendo o refinamento e humor de Gertrude Stein que, por um turno, emula todo um jogo pronominal inventivo contorcendo o sujeito em suas vozes disruptivas, e por outro turno, também renova em nosso repertório a presença dessa autora incontornável.”
Schneider Carpeggiani
Agosto azul. Déborah Levy.
Trad. Adriana Lisboa • Autêntica Contemporânea • 168 pp • R$ 64,90
“O retorno — em grande forma — do mito do duplo.”
Paula Carvalho
Exploração. Gabriela Wiener.
Trad. Sérgio Molina • Ils. Violaine Cadinot • Todavia • 144 pp • R$ 72,90
“Quem diria que um livro que trata de um explorador suíço no Peru, memórias familiares, relações poliamorosas e decolonização de afetos e da mente funcionaria tão bem?”
Alex Castro
Solenoide. Mircea Cărtărescu
Trad. Fernando Klabin • Mundaréu • 784 pp • R$ 146
“Pode ser um xodó aquele que é um dos livros mais perturbadores que eu já li? Se a principal justificativa da literatura contemporânea é justamente escrever o tipo de livro que só pode ser escrito hoje, e nunca antes, nenhum livro de literatura contemporânea é melhor, e mais contemporâneo, que Solenoide, do romeno Cartarescu. O livro que veio acabar com o próprio conceito de literatura.”
Daniela Costanzo
Mudar: método. Édouard Louis.
Trad. Marília Scalzo • Todavia • 40 pp • R$ 74,90
“Já havia lido outros livros do Édouard Louis e achei que esse é melhor. Isso porque ele consegue estabelecer uma linha narrativa que perpassa toda a sua mudança e a sua desprovincianização de forma bonita, cuidadosa e nuançada.”
Francesca Cricelli
Melhor não contar. Tatiana Salem Levy.
Todavia • 224 pp • R$69,90
“Tatiana Salem Levy é uma autora madura cuja obra sempre me despertou curiosidade, contudo, em seu último romance alcança um patamar ainda mais alto juntando à forma o trabalho com a verdade e a memória, a melhor leitura do ano.”
Rosa Freire d’Aguiar
Victoria Ocampo: concentrado de tensões. Karina de Castilhos Lucena.
Coragem • 136 pp • R$ 50,00
“Esse pequeno livro de Karina de Castilhos Lucena traz um apanhado de cartas que Victoria Ocampo trocou com grandes nomes da literatura, numa época em que Buenos Aires era capital cosmopolita e sua elite intelectual trafegava alegremente entre Walter Benjamin e Evita Perón.”
Sérgio Dávila
Do que eu falo quando falo de corrida. Haruki Murakami.
Trad. Cássio de Arantes Leite • Alfaguara • 152 pp • R$ 79,90
“Porque ele escreve sem floreios — e muito bem sobre corrida.”
Ligia Gonçalves Diniz
Neca: romance em bajubá. Amara Moira
Ils. Alceu Chiesorin Nunes • Companhia das Letras • 120 pp • R$ 59,90
“Ela mostra que a forma é política, que a política é difícil e que a dificuldade pode ser divertida; é um elogio à ficção e ao romance, uma grande celebração.”
Sergio Fausto
Soroca. Angela Marsiaj.
Urutau • 320 pp • R$ 60
“Sim, a autora é minha mulher e minha opinião, claro, enviesada pelo afeto, mas gostei imensamente do livro, pela trama bem construída, em dois tempos, um contemporâneo e outro no século 18, e pela força das personagens, em especial as femininas.”
Sophia Ferreira
Babel: ou a necessidade de violência. R.F. Kuang.
Trad. Marina Vargas • Intrínseca • 592 pp • R$ 89,90
“A aclamação pela literatura de R.F. Kuang não é desmedida. Após demonstrar sua profunda capacidade de prender o leitor na trilogia A guerra da papoula e em Yellowface, Kuang traz de forma arrasadora e brilhante a importância de algo que nos é tão caro: a linguagem. Em Babel vemos como um dos eixos centrais da dominância britânica a linguagem, a tradução, o domínio de uma língua como forma de poder. E é quase metalinguístico esse exercício quando quem escreve é R.F. Kuang, alguém que domina impiedosamente a linguagem. Sinto que sempre serei arrebatada pelos livros dela, seja pela escrita, seja pela quantidade absurda de páginas.”
Guilherme Gontijo Flores
Poesia reunida. Maria Lúcia Alvim.
Org. Guilherme Gontijo Flores e Ricardo Domeneck. Apres. Juliana Veloso. Posf. Guilherme Gontijo Flores • Relicário • 564 pp • R$ 89,90
“Eu sou suspeito por votar nesse livro, do qual fiz parte ajudando na organização, mas considero Maria Lúcia Alvim um nome imenso da poesia brasileira contemporânea, e a publicação de toda sua obra reunida em um só volume é, para mim, o acontecimento literário do ano.”
Guilherme Freitas
Dono das palavras: a história do meu avô | Aki Oto: api akinhagü. Yamaluí Kuikuro Mehinaku.
Todavia • 216 pp • R$ 79,90
“O livro do pesquisador Yamaluí Kuikuro é o primeiro a narrar do ponto de vista dos indígenas a história dos contatos com os brancos no Xingu. Em dez anos de trabalho, Yamaluí reconstituiu a trajetória de seu avô, Nahũ, um dos primeiros xinguanos a aprender português, que se tornou intérprete dos irmãos Villas Bôas e teve papel importante na primeira demarcação de terras indígenas no país. A edição bilíngue, com notas do antropólogo Carlos Fausto, apresenta ao grande público esse personagem singular e ajuda a reescrever a história dos contatos entre indígenas e não indígenas no Brasil.”
Andréa Del Fuego
Cupim. Layla Martínez.
Trad. Joana Angélica d’Avila Melo • Companhia das Letras • 120 pp • 69,90
“Trata-se de um terror psicológico e social no qual as personagens não são amaciadas a serviço da boa digestão. A mentira aparece como icterícia, a pobreza como maldição hereditária. Uma escrita sem respiro e que encena perfeitamente o terror da demência e a casa da família como animal faminto.”
Rafael Gallo
Os grandes carnívoros. Adriana Lisboa.
Alfaguara • 176 pp • R$84,90
“Adriana Lisboa é das minhas escritoras preferidas, é impressionante como ela consegue manter com consistência um nível altíssimo de qualidade em seus livros. Esse novo romance é outro acerto, com uma história que cativa e mostra ser possível colocar certas pautas em discussão — como os direitos dos animais, nesse caso — com complexidade, ambiguidades e alto desenvolvimento narrativo e dramático, em vez de moralismos e proselitismo de Facebook.”
Pablo Gonçalo
Cada um por si e Deus contra todos: memórias. Werner Herzog
Todavia • 368 pp • R$99,90
“Desde Caminhando no gelo, Werner Herzog se revela um hábil e envolvente narrador.”
Marcos Hecksher
Histórias da matemática: da contagem nos dedos à inteligência artificial. Marcelo Viana.
Tinta-da-China Brasil • 256 pp • R$ 84,90
“O autor, presidente do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), é um grande contador de causos, conhecedor de histórias incríveis e um professor e comunicador genial. Diversão garantida para quem gosta de história ou ciências ou português ou geografia ou mesmo matemática, considerando aquele ‘ou’ inclusivo dos lógicos e programadores (no sentido de ‘e/ou’). Para quem ainda não gosta de nada, acredite, é um bom começo. Que bom termos pessoas e instituições capazes de debater com os sabidos do mundo todo o que ninguém sabe ainda e, ao mesmo tempo, de convidar todo mundo — sabido ou não — para participar da conversa!”
Camila von Holdefer
Virgínia mordida. Jeovanna Vieira.
Companhia das Letras • 192 pp • R$ 79,90
“Porque é um tremendo romance de estreia de uma autora, Jeovanna Vieira, que promete.”
Adelaide Ivánova
Patrícia Galvão: Pagu, militante irredutível. Maria Valéria Rezende.
Rosa dos Tempos • 123 pp • R$ 74,90
“Finalmente um texto biográfico sobre a camarada Patrícia Galvão que não apaga, nem trata a sua luta político-partidária como algo secundário. Pagu era uma poeta comunista e o depoimento da também camarada Maria Valéria Rezende, colhido por Joselia Aguiar, coloca a militância da poeta como ponto de partida ou de chegada de tudo que ela fez. Demorou.”
Gabriel Joppert
Não sou poeta: poesia reunida. Victor Heringer.
Apres. Eduardo Heringer • Posf. Ricardo Domeneck • Companhia das Letras • 384 pp • R$ 99,90
“A antologia quase completa da obra poética do brilhante Victor Heringer é um trabalho de anos de organização de seu irmão Eduardo Heringer, que juntou uma obra espalhada por diversas plataformas, uma obra que muitas vezes transcende a forma poética clássica do puro texto e que flerta com formatos audiovisuais, digitais, performáticos, ritualísticos. É mais um documento da genialidade de um dos grandes escritores brasileiros desta geração, que merece cada vez mais reconhecimento. As quase quatrocentas páginas transbordam sensibilidade, humor, lucidez, generosidade, acidez, presciência, conexão sinistra com seu tempo (e outros) e sua história e cultura (e outras). Gênio da raça, antena de nosso tempo, farol no céu noturno, poeta.”
Edma de Góis
Condições ideais de navegação para iniciantes. Natalia Borges Polesso.
Companhia das Letras • 232 pp • R$ 79,90
“Pelo reencontro com a autora por meio do conto, gênero que ela domina bem e pelo qual sempre nos desestabiliza nas nossas verdades (falsas, obviamente!). Excelente ficcionista, Natalia articula, com força e delicadeza similares ao premiado Amora, linguagem e temas urgentes no Brasil violento e intolerante de hoje, dando a ver por que segue sendo uma das nossas principais autoras e uma voz indispensável ao tratar das vivências LGBTQIAPN+.”
Giovana Madalosso
Melhor não contar. Tatiana Salem Levy.
Todavia • 224 pp • R$69,90
“Um livro que cala o ‘melhor não contar’ que ainda ronda a minha escrita.”
Guilherme Magalhães
Babel: ou a necessidade de violência. R.F. Kuang.
Trad. Marina Vargas • Intrínseca • 592 pp • R$ 89,90
“Reflexão poderosa sobre os efeitos nefastos do colonialismo e do racismo embalada como uma fantasia que você não consegue parar de ler.”
Carlos Marcelo
O turista aprendiz. Mário de Andrade.
Apres. Flora Thomson-DeVeaux • Tinta da China • 224 pp • R$ 129,90
“Reedição preciosa, com edição gráfica sofisticada e apresentação inspiradíssima.”
Gabriela Mayer
Nostalgias canibais. Odorico Leal.
Âyiné • 110 pp • R$ 79,90
“Uma estreia e tanto de Odorico Leal. Contos que variam forma e conteúdo, mas repetem o colapso, a afronta e a graça do Brasil. Um livro sofisticado, mas sem empolgação; engraçado, sem despautério.”
Maria Sampaio Mendes
Uma questão pessoal. Kenzaburo Oe.
Trad. Shintaro Hayashi • Companhia das Letras • 224 pp • R$ 69,90
“Um encontro inesquecível com um autor, um país e uma escrita desconcertante.”
Ludimila Moreira Menezes
Nostalgias canibais. Odorico Leal.
Âyiné • 110 pp • R$ 79,90
“Se hoje parece não haver possibilidade de um artista tentar ser original, cabendo a ele se contentar com recombinações, é possível dizer que Odorico Leal consegue em seu livro de estreia recombinações que tem sido infrequentes na literatura brasileira. Com um manejo estilístico irônico e uma erudição incomum, articulados com leveza e humor de franco deboche, é como se a promessa de uma visão oswaldiana da realidade e literatura brasileiras retornasse à pauta de discussão com um tom de novidade. Em tempos de sisudez quase onipresente no campo cultural, a inteligência literária de Odorico se mostra ágil e pertinente.”
Bruno Molinero
O ciclista e Chuva. Dalton Trevisan.
Reco-reco • 40 pp e 56 pp • R$ 59,90
“Já era hora de termos Dalton Trevisan editado como livro ilustrado e para o público infantojuvenil. Até para mostrar que a sua literatura vai muito além dessa historinha de vampiro de Curitiba.”
Eliane Robert Moraes
Livro de erros. Maria Lúcia Dal Farra.
Iluminuras • 148 pp • R$69
“O lirismo no coração dos erros.”
Beatriz Muylaert
Ioga. Emmanuel Carrère.
Trad. Mariana Delfini • Alfaguara • 342 pp • R$ 89,90
“Misto de relato íntimo com doses ficcionais, Carrère narra uma crise depressiva depois de uma década feliz. Em páginas que levam da reflexão ao riso, mergulhamos com o escritor francês em pensamentos sobre meditação, tai chi, encontros, catástrofes e realidades.”
Eric Novello
Tese sobre uma domesticação. Camila Sosa Villada.
Trad. Silvia Massimini Felix • Companhia das Letras • 224 pp • R$ 69,90
“Nesse momento em que o Brasil se mostra perigosamente careta e conservador, foi bom ler um livro com personagens queer, travestis, gays, de grupos marginalizados abraçando seus desejos e vivendo a vida plenamente, sem baixar a cabeça, pedir licença ou se desculpar por isso. Camila Sosa Villada é uma mestra no que faz.”
Gustavo Pacheco
Por que começo do fim. Ginevra Lamberti.
Trad. Cezar Tridapalli • Ayiné • 220 pp • R$ 64,90
“Pela combinação inusitada e divertidíssima de gêneros literários.”
Fernando Paixão
A pura felicidade: ensaios sobre o impossível. Georges Bataille.
Trad. Marcelo Jacques de Moraes • Autêntica • 256 pp • R$ 79,80
“Textos diversos e acessíveis de um escritor filósofo complexo.”
Renato Parada
Passeio com o gigante. Michel Laub.
Companhia das Letras • 160 pp • R$ 69,90
“Final de uma trilogia com voz única e potente que retrata a incomunicabilidade humana perante os temas que dominaram o debate público no Brasil nos últimos anos. ”
João Gabriel Ribeiro Passos
O gaúcho insofrível. Roberto Bolaño.
Trad. Joca Reiners Terron • Companhia das Letras • 152 pp • R$ 69,90
“Desde o fim do ano passado tenho passado por uma espécie de febre bolañiana. É realmente indescritível ler um autor que levou a literatura às últimas consequências — tratando-a sempre como um vício, por vezes maligno e assombroso, mas que ainda assim nos move adiante. Vê-lo cada vez mais publicado no Brasil me faz pensar que, quem sabe, o fígado que Parra disse que devíamos a Bolaño seja como o do herói prometeico: sempre renascido a cada aurora. Façamos jus a ele.”
Guilherme Pavarin
Geografia íntima do deserto: e outras paisagens reunidas. Micheliny Verunschk.
Círculo de poemas • 280 pp • R$ 89,90
“Descobri com Geografia íntima do deserto que Micheliny Verunschk não é só uma prosadora formidável — é, antes disso, uma poeta formidável.”
Antonio Marcos Pereira
Destinatário desconhecido: uma antologia poética (1957-2023). Hans Magnus Enzensberger.
Círculo de poemas • 224 pp • R$ 74,90
“Excelente seleção e uma tradução atenta (que nunca subestima o leitor nem endeusa o autor), o livro é um tesouro a baixo preço, e foi uma leitura que me trouxe, e continuará trazendo, muita alegria.”
Lucas Petroni
A destruição da Palestina é a destruição do planeta. Andreas Malm.
Trad. Natalia Engler • Elefante • 96 pp • R$ 45
“No ensaio de Malm, a guerra na Palestina serve como ponto de partida para uma imersão no cerne de duas crises políticas fundamentais, ainda carentes de conceitos e princípios adequados: a crise climática e o legado colonial da modernidade. A prosperidade e riqueza das democracias liberais do Norte global foram historicamente viabilizadas pela exploração colonial e pelo consumo massivo de energia fóssil, os mesmos processos que agora nos privam de um futuro climático estável para a humanidade.”
Julio Pimentel Pinto
Noites de peste. Orhan Pamuk.
Trad. Débora Landsberg • Companhia das Letras • 672 pp • R$ 169,90
“Forte, denso, antigo e atual.”
Paulo Roberto Pires
Da próxima vez, o fogo. James Baldwin
Trad. Nina Rizzi• Companhia das Letras • 136 pp • R$ 69,90
“No ano de seu centenário, ele brilha como o que sempre foi: o maior ensaísta de língua inglesa do século 20.”
Luisa Plastino
Intermezzo. Sally Rooney.
Trad. Débora Landsberg • Companhia das Letras • 488 pp • R$ 79,90
“Apesar de ser um best seller, Sally Rooney é uma autora que me traz muito afeto e conforto por ter sido importante na minha formação como jovem leitora. Adoro a forma como ela descreve relacionamentos e conflitos de classe. Ler Intermezzo, de certa forma, foi como voltar no tempo.”
Natércia Pontes
Nostalgias canibais. Odorico Leal.
Âyiné • 110 pp • R$ 79,90
“Porque é um livro sublime, engraçado e inteligente.”
Vinícius Portella
Nostalgias canibais. Odorico Leal.
Âyiné • 110 pp • R$ 79,90
“O livro é todo bom, mas o primeiro conto foi das coisas mais divertidas que li em 2024.”
Lubi Prates
O embranquecimento. Evandro Cruz Silva
Patuá • 182 pp • R$ 70
“Trata-se do romance de estreia do autor. Foi uma surpresa, pra mim, uma estreia ser marcada por tanta qualidade literária e profundidade temática. Fala sobre questões incômodas, portanto necessárias, para a sociedade brasileira. Além de ser muito gostoso de ler!”
Renan Quinalha
Carta de uma orientadora: sobre pesquisa e escrita acadêmicas. Debora Diniz.
Civilização Brasileira • 210 pp • R$ 49,90
“Um livro que supre uma lacuna entre os sisudos manuais de pesquisa e escrita acadêmica. Com sensibilidade, experiência e rigor únicos, Debora amplia os caminhos para estimular jovens pesquisadoras e pesquisadores no fazer científico.”
Marina Quintanilha
Édouard Louis.
“Porque é perfeito.”
Gustavo Silveira Ribeiro
O corpo vulnerado. Maria Angélica Melendi.
Org. Eduardo de Jesus • Cobogó • 344 pp • R$ 90
“Maria Angélica Melendi escreve sobre uma questão decisiva dos nossos dias, não apenas para o mundo da arte: a vulnerabilidade dos corpos, a fragilidade da vida e dos materiais com que construímos nossas identidades e tratamos de inventar sentido para o que fazemos. Pensar a vulnerabilidade a partir da arte brasileira e latinoamericana significa pensar as fissuras da história, as ameaças políticas, climáticas e bélicas que nos cercam, mas também implica considerar os modos de resistência, as estratégias de sobrevivência e de reinvenção do corpo que artistas desenvolveram, e continuam a desenvolver, para tornar mais habitável o mundo precário que nos cerca e nos constitui.”
Nina Rizzi
Você lembrará seus nomes. Lubi Prates (org.).
Bazar do Tempo • 264 pp • R$ 85
“Uma antologia de poesia negro-estadunidenses traduzida por poetas negro-brasileiras. O volume é a um só tempo um registro de distintas negras vozes dos EUA, assim como do Brasil. Um mosaico de formas, sons e sentidos: poesia pura.”
Ana Rüsche
O acontecimento Antropoceno: a Terra, a história e nós. Christophe Bonnneuil e Jean-Baptiste Fressoz.
Trad. Marcela Vieira • Quina + Unicamp • 400 pp • R$ 79
“Um livro essencial para conhecer melhor toda a discussão científica em torno da crise climática. Didático e objetivo, apresenta um bom equilíbrio entre humanidades e ciências duras.”
Mariana Sanchez
Posta-restante. Cynthia Rimsky.
Trad. Mariana Sanchez • Relicário • 224 pp • R$ 59,90
“É uma pequena joia inclassificável, entre o relato de viagem, a correspondência e a crônica familiar, cheia de fissuras e daqueles craquelados que povoam as memórias imigrantes. Publicado originalmente há mais de vinte anos, é o primeiro título da autora a chegar no Brasil.”
Adriana Ferreira Silva
Sr. Loverman. Bernardine Evaristo.
Trad. Camila von Holdefer • Companhia das Letras • 328 pp • R$ 89,90
“Bernardine atualiza as discussões sobre homossexualidade na velhice numa trama envolvente, criativa e irônica, com um protagonista odiosamente irresistível.”
Gabriel Martins da Silva
A literatura como antropologia especulativa. Alexandre Nodari.
Cultura e Barbárie • 360 pp • R$ 120
“Para mim, A literatura como antropologia especulativa é um dos livros mais esperados da década, no campo da teoria literária no Brasil. Desde que foi anunciado, esperei ansiosamente pela publicação. Assim que chegou, grudei nele e li e reli os artigos reunidos no livro, escritos por um dos maiores expoentes dos estudos literários, colocando questões na fronteira entre a teoria, a antropologia, a tradução, a literatura brasileira e os povos ameríndios.”
Jaqueline Silva
Intermezzo. Sally Rooney.
Trad. Débora Landsberg • Companhia das Letras • 488 pp • R$ 79,90
“O fluxo de consciência em Intermezzo me enlaçou desde as primeiras palavras, ainda que mal soubesse o quão profundamente entraria na cabeça dos personagens principais, sofrendo junto a eles a dor imensurável do luto, da raiva e do medo de nunca mais se sentir bem na própria pele, por causa da ausência de um outro que te fazia sentir completo. Acho que essa foi a grande sacada de Rooney aqui: reunir em uma história simples pessoas e situações comuns do cotidiano, um enredo similar a inúmeros outros romances — e que não à toa são clássicos — e a descrição surpreendentemente precisa de sentimentos e pensamentos que antes pareciam impossíveis de serem traduzidos para a fala e a escrita.”
Leonardo Pinto Silva
Copacabana dreams e Os tais caquinhos. Natércia Pontes.
Companhia das Letras • 176 pp e 144 pp • R$ 84,90 e R$ 74,90
“Ninguém melhor do que Natércia Pontes para personalizar a expressão xodó, cearense que ela é há muito tempo exilada sem perder suas raízes. Copacabana dreams e Os tais caquinhos dão ao leitor essa sensação de afago, de proximidade, de aconchego, de descoberta ou reencontro. O texto da Natércia às vezes faz cócegas, às vezes nos deixa boquiabertos, depois repete esse processo até enfeitiçar.”
Marina de Mello e Souza
Oração para Desaparecer. Socorro Acioli.
Companhia das Letras • 224 pp • R$ 69,90
“Adorei.”
Eduardo Sterzi
Vida: efeito-V. Carlito Azevedo.
7 Letras • 132 pp • R$ 57
“Um novo livro de Carlito Azevedo, um dos maiores poetas de nossa época em qualquer língua, é sempre um acontecimento que deve ser saudado por todos os leitores de poesia. Ainda mais se considerarmos que os intervalos entre a publicação de um livro e outro do autor são sempre grandes (o último tinha sido o Livro das postagens, de 2016). Espero agora que alguma editora se anime a publicar a sua poesia completa, de preferência incluindo as variantes de poemas, que no caso dele são elucidativas de um método compositivo singular e devem ser consideradas partes por direito próprio de sua obra, assim como poemas que ficaram inéditos em livro, tendo sido publicados apenas em revistas.”
Joca Reiners Terron
Não sou poeta: poesia reunida. Victor Heringer.
Apres. Eduardo Heringer • Posf. Ricardo Domeneck • Companhia das Letras • 384 pp • R$ 99,90
“A reunião dos poemas de Victor Heringer, em sua maior parte inédita em livro, mostra o quanto a literatura brasileira perdeu com sua partida tão precoce.”
Natalia Timerman
Melhor não contar. Tatiana Salem Levy.
Todavia • 224 pp • R$69,90
“Trabalho literário rigoroso que se embrenha por questões centrais e espinhosas que uma mulher enfrenta ao escrever (e viver).”
Henrique Torres
Tem um gato no frontispício. Sofia Mariutti e Vitor Rocha.
Baião • 32 pp • R$ 59,90
“Encontrar o gato é fácil para todos. Encontrar o colofão é difícil para quase todos.”
Micheliny Verunschk
A cidade das mulheres. Christine de Pizan.
Trad. Jorge Henrique Bastos • 34 • 304 pp • R$ 91
“A cidade das mulheres, escrito no século XV como resposta à Cidade de Deus, de Santo Agostinho, é um livro revolucionário. Christine de Pizan propõe, nesse documento corajoso, uma imaginária cidade governada por mulheres, enquanto reflete sobre direitos femininos, opressão, acesso à educação e violência patriarcal, entre outros temas. Havia uma edição anterior, há muito esgotada e é muito bom saber que tão importante obra circula novamente.”
Aparecida Vilaça
Coelho maldito. Bora Chung.
Trad. Hyo Jeong Sung • Alfaguara • 232 pp • R$ 59,90
“Originalidade e surpresa.”
Guilherme Werneck
O vestido rosa. César Aira.
Trad. Joca Wolff e Paloma Vidal • Fósforo • 144 pp • R$ 44,90
“Diante de tanta transfobia (de pessoas dos mais variados espectros políticos), a publicação de uma narrativa tão sensível sobre a não binariedade em uma grande editora é um feito e tanto deste ano. Que essa presença inspire mais publicações de literatura trans, que ainda têm tão pouco espaço no mercado editorial.”
José Miguel Wisnik
A literatura como antropologia especulativa. Alexandre Nodari.
Cultura e Barbárie • 360 pp • R$ 84
“A literatura como antropologia especulativa, de Alexandre Nodari, é um livro espantoso pela densidade imaginativa com que renova a teoria literária no Brasil. Livro difícil e exigente, mas impactante, generoso e sem nenhuma exibição gratuita.”
Porque você leu Xodó literário
Os xodós literários de 2023
Colaboradores da Quatro Cinco Um compartilharam a leitura deste ano que mais os marcou
DEZEMBRO, 2023