
Flip, Literatura brasileira,
A hora de Walnice Nogueira Galvão
Grande especialista em Euclides da Cunha revela que encontrou várias 'fake news' sobre a Guerra de Canudos
08jul2019O interesse da professora emérita de teoria literária e literatura comparada da Universidade de São Paulo (usp) Walnice Nogueira Galvão por Euclides da Cunha surgiu na forma de uma “perturbação”. Era uma presença que se mostrou constante ao longo da produção da sua tese de doutorado sobre Guimarães Rosa, As formas do falso — Um estudo sobre a ambiguidade no ‘Grande sertão: veredas’, sob a orientação de Antonio Candido: “Percebi que Os sertões estava perturbando Guimarães Rosa, estava ali sempre presente. Então, quis estudar o que estava por trás da obra do Guimarães”, conta à Quatro Cinco Um a professora, que é a convidada da mesa de abertura da Flip nesta quarta-feira, tendo Canudos como tema.
Responsável pela edição crítica considerada definitiva de Os sertões (Ubu/Edições Sesc) e autora de Euclidiana: ensaios sobre Euclides da Cunha (Companhia das Letras), Nogueira Galvão terá sua obra de estreia — No calor da hora, de 1973, sobre a Guerra de Canudos — relançada pela editora Cepe durante o festival literário.
O maior desafio que enfrentou para realizar a pesquisa na época foi fazer um levantamento de fontes perecíveis, como notícias de jornais, pois não havia nenhum material desse tipo sobre Canudos reunido em livro. “Consultava o jornal e, depois de um ano, quando queria consultar de novo, o jornal já não existia mais. Esse foi o maior desafio, achar materiais perecíveis e encontrá-los intactos um tempo depois”, revela.
Foi ao longo dessa pesquisa feita em jornais que ela se deparou com uma série de notícias falsas sobre Canudos — o que hoje é chamado de fake news. “A coisa mais surpreendente que descobri durante minha pesquisa foi a proliferação de fake news sobre Canudos. Só tinha fake news. Não foi o Donald Trump que inventou, já existia antes”, explica a professora, que dá como exemplo a disseminação de uma notícia falsa de que Antônio Conselheiro tinha assassinado sua mulher e sua mãe. “Era o que justificava a perseguição e o genocídio”, esclarece.
É pelo fato de Euclides ter sido “um grande militante da República, dos valores republicanos, que estão em xeque no Brasil e no resto do mundo”, que Nogueira Galvão reafirma a atualidade do autor. Tanto que, a seu ver, os estudos euclidianos vão de “vento em popa. Por exemplo, abriram campos de estudo concernentes a religiosidades populares, a insurreições brasileiras e ao papel da ciência na obra do Euclides. Cada vez se investe sempre mais nesses estudos. Conhecimento a mais nunca faz mal para ninguém”.
Sua presença em Paraty será breve, portanto não conseguirá assistir a nenhuma mesa desta edição do festival. Nogueira Galvão precisa retornar para São Paulo revisar um livro que está organizando para a Edusp sobre a história da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
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