Listão da Semana,
Violência sexual, biografia de Caetano Veloso e mais seis lançamentos
‘Em carne viva: abuso sexual de crianças e adolescentes’, ensaio que debate formas de assistir as vítimas de violência sexual, chega nesta semana às livrarias
05jul2022 | Edição #59No Brasil, mais de 30 mil meninas de até treze anos foram vítimas de estupro no ano passado, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Contando todas as faixas etárias e gêneros, foram 66.020 casos de estupro e de estupro de vulnerável. Nas últimas semanas, o país acompanhou o caso de uma menina de onze anos vítima de violência sexual que foi induzida por uma juíza de Santa Catarina a desistir do aborto legal . Acompanhamos também a exposição pública de uma atriz de 21 anos que colocou para adoção um bebê, fruto de estupro. É cada vez mais urgente discutir o assunto e as formas de ajudar as vítimas e transformar esse cenário. Esse é o escopo do lançamento Em carne viva: abuso sexual de crianças e adolescentes, ensaio da argentina Susana Toporosi, que trabalha com saúde mental de adolescentes em Buenos Aires.
Completam a seleção da semana uma coletânea de textos do antropólogo Darcy Ribeiro, uma biografia de Caetano Veloso, o novo romance de Sérgio Rodrigues, uma seleção de palestras proferidas por Margaret Atwood, os romances das escritoras Dulce Maria Cardoso e Eugênia Ribas-Vieira e um ensaio do economista e professor de ciência ambiental Ricardo Abramovay sobre a Amazônia.
Viva o livro brasileiro!
Em carne viva: abuso sexual de crianças e adolescentes. Susana Toporosi.
Trad. Tania Mara Zalcberg • Pref. Juan Carlos Volnovich • Blucher • 204 pp • R$ 85
Coordenadora de Saúde Mental da Adolescência no Hospital Infantil Ricardo Gutiérrez, em Buenos Aires, a psicóloga discute os impactos dos abusos sexuais em crianças e adolescentes (que atingem sobretudo as meninas), os sinais para reconhecer a presença de um traumatismo nos pequenos e nos jovens, a atuação inadequada das instituições de saúde pública, as formas de tratamento e as diferenças diagnósticas em adolescentes com comportamentos sexuais abusivos.
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Os futuros de Darcy Ribeiro. Org. Andrés Kozel e Fabricio Pereira da Silva.
Elefante • 304 pp • R$ 63
Uma seleção de textos extraídos de livros e de artigos do antropólogo brasileiro, publicados entre 1968 e 1995, que refletem sobre as perspectivas futuras da sociedade brasileira, com avaliações sobre os grupos indígenas, a mestiçagem, a
natureza, a civilização ocidental, os avanços tecnológicos e a noção de soberania. O tom dos excertos varia desde o otimismo presente no livro O processo civilizatório, de 1968, no qual imaginava um socialismo universal, até as preocupações expressas no ensaio "A civilização emergente, de 1984, ou em O povo brasileiro (1995).
Mais Lidas
Trecho do livro:
“A maior ameaça que pesa hoje sobre a humanidade — ameaça que, felizmente, não é fatal nem inevitável — é, pois, a de mergulhar mais ainda na penúria até a exaustão, numa era de fome e de estupidificação. Tudo isso apenas para que os povos ricos fruam a riqueza acumulada e reativem uma civilização obsoleta, sem causa, sem missão nem apetite senão o de enricar. Sua última grandeza será a de endurecer os corações e tapar os ouvidos para assistir, impávida, à humanidade morrer de fome”.
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Outras palavras: seis vezes Caetano. Tom Cardoso.
Record • 308 pp • R$ 69,90
O jornalista e crítico musical carioca reconstitui a trajetória pessoal e artística do músico baiano desde a sua juventude em Santo Amaro. Descreve o impacto da obra de João Gilberto, as inovações poéticas do tropicalismo, a falsa rivalidade com Chico Buarque fabricada pela imprensa, os embates com os militantes de esquerda, seus relacionamentos amorosos e o envolvimento e decepção com os projetos políticos.
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A vida futura. Sérgio Rodrigues.
Companhia das Letras • 168 pp • R$ 64,90
Ganhador do prêmio Portugal Telecom de 2014 com o romance O drible, o escritor mineiro cria um romance (com o título inspirado no Inferno de Dante) cujos protagonistas são José de Alencar e Joaquim Maria Machado de Assis. Avisados de que seus livros seriam reescritos para que alcançassem mais leitores, os dois escritores desembarcam no Rio de Janeiro em 2020. Ali os dois Jotas se envolvem com milicianos e se veem às voltas com os debates identitários de nossa época.
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Payback: a dívida e o lado sombrio da riqueza. Margaret Atwood.
Trad. André Costa • Rocco • 192 pp • R$ 44,90
A autora do romance distópico O conto da aia (1985) reúne aqui cinco palestras nas quais expõe uma espécie de história cultural das dívidas. Ela mostra como a sociedade contemporânea induz as pessoas a se endividarem para consumirem mais (o apelo das propagandas, as ofertas de crédito fácil), mas ao mesmo tempo impõe um pesado fardo moral sobre os devedores (neuroses, baixa autoestima, sentimento de pecado). Atwwod analisa ainda contos e romances clássicos de Emily Brontë, Christopher Marlowe, William Thackeray e Charles Dickens.
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Eliete: a vida normal. Dulce Maria Cardoso.
Todavia • 256 pp • R$ 69,90/44,90
Nascida na época da Revolução dos Cravos, Eliete só deseja ter uma vida normal com sua família, mas sofre um abalo profundo ao perceber os sinais de demência em sua avó, que vai morar alguns dias com ela, tensionando seu relacionamento com seu companheiro e suas filhas. Para escapar das inquietações, Eliete se refugia no Tinder, onde finge ser outra pessoa e começa a se encontrar com outros homens.
Na edição deste mês da Quatro Cinco Um, Fabiane Secches escreve sobre o romance de Cardoso: "Há muito tempo a literatura deixou de se ocupar das grandes epopeias e jornadas excepcionais e passou a se interessar também pelas histórias comezinhas, protagonizadas por gente como a gente, sem feitos heroicos. Em certa medida, talvez a forma tenha acompanhado esse deslocamento: o cenário contemporâneo traz consigo bons exemplos de autores que conseguiram, em um artifício ilusionista, mimetizar algo da linguagem comum em suas obras literárias.
Sendo assim, poderíamos nos perguntar por que boa parte das resenhas de Eliete: a vida normal (publicado originalmente em 2018) valoriza justamente o aspecto reforçado pelo subtítulo do romance, já que não estamos diante de um caso isolado, mas de um movimento com bastante estrada. O que haveria de específico nesse último romance de Dulce Maria Cardoso que possa justificar o encantamento com que tem sido recebido?". Leia aqui a resenha completa.
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Onde choram as crianças. Eugênia Ribas-Vieira.
Faria e Silva • 172 pp • R$ 58
Romance de estreia da editora e agente literária, o livro conta a história da pequena vila de Nossa Senhora das Dores, cujas crianças começam a morrer de uma doença misteriosa. Ao perceber que seu filho Luiz foi infectado e que correm rumores de que ele tenha sido amaldiçoado pelo demônio, Sinhá Dora resolve escondê-lo dos olhos alheios. E decide se afastar de seu filho, abandonando-o à própria sorte.
Trecho do livro:
“Ao ver um grupo de pessoas em volta do galinheiro, Sinhá Dora chega rapidamente, está nervosa, carrega uma pressa consequente. Talvez ela mesma teria provocado aquilo tudo, embora não fosse uma perpetuação de seu desejo. Era uma obrigação, e lhe ocorreu de uma hora para a outra, quando soube que teria que esconder o próprio filho. Não era de sua vontade, nunca o fora, mas não poderia deixar que descobrissem o que havia feito”.
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Infraestrutura para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Ricardo Abramovay.
Elefante • 108 pp • R$ 42
Autor de Amazônia: por uma economia do conhecimento da natureza (Elefante, 2019), Abramovay mostra que os projetos infraestruturais na região (da Transamazônica a Belo Monte) provocaram desastres ambientais, pois estavam orientados pelas lógicas da captura privada da natureza e do crescimento econômico incessante. Ele argumenta que para impedir a devastação do bioma é preciso oferecer aos habitantes da Amazônia condições de vida que possibilitem uma nova relação com a natureza, como a bioindústria de essências da floresta para produção de fármacos e cosméticos, o extrativismo e a pesca sustentáveis.
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Matéria publicada na edição impressa #59 em junho de 2022.
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