Listão da Semana,

Quentin Tarantino, psicanálise não é pseudociência e mais 10 lançamentos

O diretor de 'Pulp fiction' comentando filmes que assistiu na juventude e um livro-resposta para quem acha que psicanálise é bobagem são lançamentos da semana

21dez2023 | Edição #77

Primeira obra de não ficção do cineasta Quentin Tarantino, Especulações cinematográficas, sobre filmes norte-americanos da década de 70, chega às livrarias nesta semana, que também traz um livro-resposta de Christian Dunker e Gilson Iannini para quem acha que psicanálise é pseudociência; um romance de Marguerite Duras; um ensaio sobre Stella do Patrocínio; um romance de Georges Perec; a história de um homossexual em um campo de concentração nazista; um infantojuvenil de Gramsci; romances do russo Serguei Dovlátov e do brasileiro D. B. Frattini; e mais novidades quentinhas. 

A newsletter Listão da Semana se despede assim de 2023. Voltamos a partir de 8 de janeiro de 2024 com nossa seleção semanal dos lançamentos do mercado editorial. Boas leituras e até a volta. 

Viva o livro brasileiro!

 

Especulações cinematográficas. Quentin Tarantino. 
Trad. André Czarnobai • Intrínseca • 400 pp • R$ 89,90

O diretor de Pulp fiction e Era uma vez em Hollywood comenta os filmes que assistiu na infância e na juventude, falando do trauma de assistir à morte da mãe de Bambi e de como as películas de Pedro Almodóvar lhe mostraram que poderia existir algo muito sexy na violência. Discute a influência de John Ford sobre os realizadores norte-americanos e analisa filmes de Peter Yates, Robert Altman, Sam Peckinpah, Don Siegel, Peter Bogdanovich e Martin Scorsese — especulando o que teria sido de Taxi Driver se Brian De Palma o tivesse feito. 

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Ciência pouca é bobagem: por que psicanálise não é pseudociência. Christian Dunker e Gilson Iannini.
Ubu • 288 pp • R$ 69,90

Em um livro-resposta para quem afirma que psicanálise é bobagem, os dois psicanalistas e professores rebatem as críticas epistemológicas formuladas por pensadores como Ludwig Wittgenstein, Karl Popper, Mario Bunge e Adolf Grünbaum e refutam os ataques infundados que ela vem sofrendo nos últimos anos. Dunker e Iannini explicam as razões pelas quais a psicanálise é um conhecimento científico por meio de descrições dos experimentos que comparam os resultados dos tratamentos psicanalíticos e não psicanalíticos em pacientes ao longo de décadas e de uma reflexão sobre o fazer da psicanálise. 

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da UbuConheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e mais.

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O arrebatamento de Lol V. Stein. Marguerite Duras.
Trad. Adriana Lisboa • Relicário • 244 pp • R$ 65,90

Publicado em 1964, este romance central na trajetória de Duras é protagonizado pela personagem Lola Valérie Stein, cuja vida sofre um abalo profundo durante um baile no qual ela fica fascinada por uma mulher fatal, que lhe rouba o noivo. Abandonada, ela se casará com um músico e terá três filhas, mas depois iniciará um relacionamento difícil com outro casal na tentativa de reparar o que não se completou naquele baile. O texto, enigmático, motivou Jacques Lacan a escrever um ensaio nos Cahiers Renaud-Barrault, que serve de posfácio à atual edição.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da RelicárioConheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e mais.

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Stella do Patrocínio, ou o retorno de quem sempre esteve aqui. Anna Carolina Vicentini Zacharias.
Telha • 406 pp • R$ 98

Estudiosa de obras de arte produzidas por sujeitos psiquiatrizados apresenta o pensamento de Stella do Patrocínio, empregada doméstica, negra e pobre, que passou mais de trinta anos internada em instituições psiquiátricas (Centro Psiquiátrico Pedro 2º e Colônia Juliano Moreira) e, aos 45 anos, começou a participar de oficinas de arte e chamou a atenção por sua voz potente e lúcida.

Ouça também: Na encruzilhada com Stella do Patrocínio — Uma conversa sobre a internação da poeta, o seu falatório e por que Stella vai além da poesia

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Qe regressem. Georges Perec.
Trad. Zéfere • Autêntica • 144 pp • R$ 69,80

Obra experimental em que o E é a única vogal empregada, publicada em 1972 pelo escritor francês, um dos integrantes da Oficina de Literatura Potencial (Oulipo). O grupo formado nos anos 60 por Raymond Queneau, Georges Perec e Italo Calvino, entre outros, usava regras para escrever (abrir mão de uma vogal em um romance ou usar a álgebra em um poema). Três anos depois de publicar O sumiço, no qual a letra E nunca é usada, Perec lançou Qe regressem, uma mescla cômica de romance policial e erótico ambientada na Inglaterra em que gangues planejam roubar joias num enredo rocambolesco, com fetiches escandalosos e conluios.

“Chegamos à face propriamente literária da obra de Perec. Não seria a literatura um lugar de subversão da língua esquematizada, com suas normas sociais embutidas? A literatura é um espaço em que é possível incluir variedade de registros e invenções em um idioma, surrupiando-o dos defensores do status quo, liberando sua condição mutável por meio do uso e das pessoas que transformam a língua. Esta, sugere Perec, é agregadora: oralidade, transgressões, rebuscamento e até estrangeirismos convivem em Qe regressem — que talvez possa ser compreendido no espírito de quem escala uma montanha pedra por pedra, porque a vista vale a pena. Persevere.”

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da AutênticaConheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e mais.

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Triângulo Rosa: um homossexual no campo de concentração nazista. Rudolf Brazda e Jean-Luc Schwab.
Trad. Angela Cristina Salgueiro Marques • Mescla • 196 pp • R$ 70,60

Enviado ao campo de concentração de Buchenwald em 1942 por ser gay, Rudolf Brazda foi um dos milhares de homossexuais perseguidos pelo regime nazista. Libertado em 1945, morreu aos 98 anos, pouco depois de receber a Legião de Honra francesa. Neste livro ele narra sua vida na prisão. Esta edição foi acrescida de um epílogo escrito por seu amigo, o historiador Jean-Luc Schwab.

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Um homem no buraco. Antonio Gramsci.
Trad. Daniela Mussi e Alvaro Bianchi • Ils. Raysa Fontana • Boitatá • 32 pp • R$ 69

Adaptação ilustrada de um conto do escritor proletário Lucien Jean, narrado numa carta enviada da prisão por Gramsci para sua mulher, Giulia. Um caminhante cai em um buraco à noite e começa a pedir ajuda aos transeuntes. Ninguém o ajuda, mas ele consegue sair sozinho do buraco e percebe que não foi tão difícil assim.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da BoitempoConheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e mais.

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A mala. Serguei Dovlátov.
Trad. Daniela Mountian e Moissei Mountian • Kalinka • 168 pp • R$ 68

O escritor russo desfaz a mala que levou ao deixar o país em 1978, e cada objeto (um cinto de oficial do Exército, uma jaqueta de Fernand Léger) traz recordações (dramáticas, divertidas ou melancólicas) do país, tocando em temas típicos da obra dovlatoviana, como a censura, o alcoolismo, o antissemitismo e as desigualdades. 

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Meninos suspensos. D. B. Frattini.

Patuá • 234 pp • R$ 60

Romance polifônico em que o narrador prepara o cadáver de seu amigo para o funeral enquanto recorda sua trajetória – o assassinato dos pais durante a ditadura, a internação num colégio de padres franceses, a paixão proibida que o transformou num homem errático, um casamento arrumado pela família que termina mal.

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Um mundo sem chão: escritos sobre arte. Paulo Sérgio Duarte.
Contém artigos do crítico e historiador da arte sobre Antonio Dias, Iole de Freitas, Tunga, Waltercio Caldas, Carlos Vergara, Jorge Guinle, Lygia Clark, Nelson Felix e outros.
Org. Sérgio Martins • Cobogó • 472 pp • R$ 84
 

Diário do inferno: o governo Bolsonaro através das charges e dos textos de Miguel Paiva. Miguel Paiva.
Reúne as charges e textos publicados pelo cartunista e roteirista carioca (autor das tiras Radical Chic e Gatão de Meia Idade) durante o governo Bolsonaro.
Geração Editorial • 200 pp • R$ 130
 

A descoberta do inconsciente: história e evolução da psiquiatria dinâmica. Henri F. Ellenberger.
Obra monumental que expõe as origens da noção de inconsciente desde as mitologias primitivas, passando por Schopenhauer e Nietzsche e pelas investigações de Mesmer, Puységur, Kerner, Charcot e Janet até chegar a Freud, Jung e Adler.
Trad. Paulo Sérgio de Souza Jr. • Perspectiva • 912 pp • R$ 194,90

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Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, , editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34)

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #77 em novembro de 2023.