Listão da Semana,

Poetas de Gaza, Fran Lebowitz e mais cinco lançamentos

Antologia de poemas escritos por jovens poetas nascidos em Gaza, na Palestina, chega às livrarias nesta semana

01jul2022 | Edição #58

Um projeto coletivo traz ao público brasileiro uma antologia de poemas escritos por jovens poetas nascidos em Gaza, na Palestina, dentre os quais o organizador da coletânea, Muhammad Taysir. É a primeira tradução da obra desses novíssimos poetas, feita por alunos e ex-alunos de Língua e Literatura Árabe da USP com a coordenação de Michel Sleiman e Safra Jubran. Também nesta semana, está sendo lançado um conjunto de cartas nas quais o escritor americano Yossi Klein Halevi, que vive em Jerusalém, tenta estabelecer um diálogo com seus vizinhos palestinos. 

Completam a seleção da semana os poemas da norte-americana Edna St. Vicente Millay, uma coletânea de textos de Fran Lebowitz, uma reflexão sobre os mistérios da mente a partir da vida marinha do professor de filosofia da ciência Peter Godfrey-Smith, uma radiografia do capitalismo na pandemia, do sociólogo Ricardo Antunes, e um panorama do feminismo na América Latina da historiadora argentina Dora Barrancos. 

Viva o livro brasileiro!

Poemas, solilóquios e sonetos. Edna St. Vicent Millay.
Org. e trad. Bruna Beber • Âyiné • 270 pp • R$ 69,90 

Uma das principais poetas americanas do século 20, Edna St. Vincent Millay (1892-1950) publicou Renascimento e outros poemas, seu primeiro livro de poesia, em 1917, e alcançou um imenso sucesso – ganhadora do Pulitzer de poesia de 1923, foi uma das poucas autoras da época que conseguiram viver apenas da venda dos livros. Mas sua decidida preferência pelas formas poéticas mais tradicionais (como os sonetos) a afastou dos críticos literários modernistas, o que a deixou relativamente esquecida após a década de 1930. Escritora engajada, feminista, pacifista e simpática ao comunismo, sua obra vem sendo resgatada. 
 
Trecho do livro:
"Figo fundamental
 
Minha vela queima dos dois lados;
A noite inteira ela não dura;
Mas ah, contendores, ah, meus chegados —
A luz dela é uma pintura!"
 
Leia também: Incompreendida pela crítica de seu tempo e de hoje, Cecília Meireles abriu caminhos que precisamos conhecer melhor.

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O almanaque de Fran Lebowitz. Fran Lebowitz.
Trad. André Czarnobai • Todavia •  288 pp •  R$ 74,90

Reúne textos irônicos da escritora norte-americana, que vive em Manhattan desde a década de 1970 — no documentário de Martin Scorsese Faz de conta que NY é uma cidade, Lebowitz apresenta a metrópole estadunidense (e conta sobre sua própria vida). A coletânea reúne textos publicados na Interview de Andy Warhol, na Mademoiselle e na Vogue britânica e depois compilados nos livros Vida metropolitana (1978) e Estudos sociais (1981), nos quais fala da arte contemporânea, dos achados da ciência, das pessoas e da vida na metrópole.

Leia também: Personagem de documentário e de si mesma, a escritora que não escreve faz da idiossincrasia uma arte divertida e cruel.

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Gaza, terra da poesia. Muhammad Taysir (org.).
Trad. Michel Sleiman, Safa Jubran e outros • Tabla • 120 pp • R$ 30

Antologia com escritos de dezessete jovens poetas nascidos na Faixa de Gaza. O livro foi publicado no final do ano passado em Beirute, e a edição da Tabla é a primeira tradução da obra no mundo. O dinheiro arrecadado com a venda do livro será revertido para o Tamer Institute, instituição sediada em Ramallah que trabalha com a literatura e a educação em Gaza. 

Leia também: Mahmud Darwich, um dos mais importantes autores da Palestina, ganha uma tradução à altura da sua prosa poética.

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Capitalismo pandêmico. Ricardo Antunes.
Boitempo • 152 pp • R$ 47

Professor titular de sociologia da Unicamp traça uma radiografia do capitalismo contemporâneo, mostrando como a pandemia da Covid-19 atingiu de forma extraordinariamente desigual as diversas classes sociais. Ele aponta como a doença agravou a vulnerabilidade dos segmentos precarizados da classe trabalhadora, que perdeu muitos direitos após a aprovação da reforma trabalhista do governo Temer. Analisa ainda o receituária toyotista do Japão e o trabalho uberizado da era digital.
 
Trecho do livro: “Não é demais recordar que as classes burguesas comemoraram com festa e champagne quando o tenebroso Temer aprovou a contrarreforma trabalhista. Um vilipêndio que se anunciava mistificadoramente como ‘modernização’ para ofuscar o embuste, puro e duro. O que, segundo o impostor, geraria milhões de empregos foi responsável não só por muito mais precarização e desemprego, como também pelos níveis de mortalidade que atingiram a população trabalhadora mais pauperizada, que se encontra à margem da legislação protetora do trabalho. E foi exatamente essa mesma classe que preencheu em maior quantidade as valas dos cemitérios das periferias, abertos diuturnamente durante as piores fases da pandemia”.

Leia também: Antropólogo analisa por que o sistema capitalista mantém ‘bullshit jobs’, os trabalhos que não produzem nada.

 

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História dos feminismos na América Latina. Dora Barrancos.
Trad. Michelle Strzoda •  Bazar do Tempo • 288 pp • R$ 75

A historiadora argentina – que começou a participar do movimento feminista quando estava exilada no Brasil, entre 1977 e 1984 – apresenta um panorama do feminismo na região nos séculos 20 e 21, destacando a atuação das guerrilheiras indígenas Gregoria Apaza e Bartolina Sisa na Bolívia; de Serafina Dávalos, a primeira advogada formada no Paraguai; Berta Cáceres, líder indígena de Honduras; Amalia Ostolaza, ativista cubana; Paulina Luisi, primeira mulher a se formar em medicina no Uruguai, e Helena Greco, fundadora do Movimento Feminino pela Anistia e as Liberdades Democráticas, que lutou contra a ditadura militar no Brasil.

Leia também: Livros de Silvia Federici e de Patricia Hill Collins e Sirma Bilge mostram a importância de discutir gênero para a luta política.

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Cartas ao meu vizinho palestino. Yossi Klein Halevi.
Trad. Margarida Goldsztajn • Contexto • 224 pp • R$ 45

O escritor americano, que vive em Jerusalém desde 1982, afirma que um dos obstáculos para a paz é a incapacidade de ouvir o outro lado. Por isso ele procura, nesta série de dez cartas, estabelecer um diálogo aberto com os palestinos, expondo a história e a identidade judaica para os palestinos, e analisando os complexos emocionais envolvidos nos dois lados do conflito. O livro traz ainda as respostas de alguns palestinos às cartas.
 
Trecho do livro: “A Segunda Intifada é o momento em que a maioria de nós, israelenses culpados, perdeu a fé nas intenções pacíficas da liderança palestina. E não apenas por causa do terrorismo. Perdemos a fé porque a pior onda de terrorismo em nossa história ocorreu depois de Israel ter feito o que considerávamos uma proposta crível – duas propostas, na verdade, para pôr fim à ocupação”.

Leia também: Gershon Baskin mostra que não haverá paz no Oriente Médio sem a construção de uma cultura compartilhada entre israelenses e palestinos.

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Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #58 em fevereiro de 2022.