Festival literário,

Mohamed Mbougar Sarr é confirmado na Flip

Autor senegalês participa de mesa com o escritor brasileiro Jeferson Tenório; programação oficial foi divulgada nesta segunda, 9

10set2024 • Atualizado em: 01out2024
O escritor senegalês Mohamed Mbougar Sarr (DR/Divulgação)

Com o anúncio da participação do senegalês Mohamed Mbougar Sarr, autor de A mais recôndita memória dos homens (Fósforo), a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) divulgou na manhã de segunda, 9, o programa principal da sua 22ª edição, que acontece de 9 a 13 de outubro.

Além do francês Édouard Louis, presença já anunciada, Sarr entra na lista das grandes estrelas internacionais deste ano, que ocupam o horário nobre da programação, as duas últimas mesas do sábado, 12 de outubro.

Sarr conversa com um grande nome da ficção nacional, o carioca radicado no Rio Grande do Sul Jeferson Tenório, autor de O avesso da pele  (Companhia das Letras). Mediada pela editora e crítica literária Rita Palmeira, a mesa “A memória dos homens” tratará da ancestralidade, masculinidade e um acerto de contas com a história por meio da literatura.

Já Louis, que acaba de lançar no Brasil Monique se liberta (Todavia), será o único convidado com uma mesa solo, mediada pelo jornalista Paulo Roberto Pires, colunista da Quatro Cinco Um. “Procuramos fazer um balanço entre autores muito conhecidos e outros que queremos apresentar para um público maior. Édouard Louis já tem muitos livros publicados no Brasil, as pessoas querem ouvi-lo, é justo deixá-lo numa mesa sozinho para ele poder se espalhar”, disse Ana Lima Cecílio, curadora da edição deste ano.

Outra diferença em relação à programação dos anos recentes é a mesa de abertura com um único convidado — um modelo que já ocorreu em edições mais antigas. Na deste ano, o professor carioca Luiz Antonio Simas fará uma palestra, espécie de aula-show, nas palavras de Cecílio. 

Simas é autor de O corpo encantado das ruas (Civilização Brasileira), que dialoga com a A alma encantadora das ruas,de João do Rio. “Já vi Simas falando sobre João do Rio, é uma experiência transformadora. Poucas pessoas têm tanto amor pelas ruas, pela história da cidade, das festas, como o Simas”, disse a curadora.

Na Flip em homenagem ao jornalista que ajudou a formalizar o trabalho de repórter no Brasil, os temas quentes do noticiário também estarão presentes. Na sexta-feira (11), às 12h, a polarização político-ideológica e o papel das redes sociais serão discutidos pelo influenciador Felipe Neto, que acaba de lançar Como enfrentar o ódio, e a jornalista Patrícia Campos Mello, autora de A máquina do ódio e que sofreu, com sua família, ameaças de bolsonaristas após denunciar o esquema das rachadinhas e o uso das redes para espalhar fake news. A mediação é de Fabiana Moraes.

Também na sexta, às 19h, a questão da guerra na Palestina se junta ao desastre ambiental das enchentes de Porto Alegre na mesa “Não existe mais lá”. Com mediação da colunista da Quatro Cinco Um Bianca Tavolari, Atef Abu Saif, palestino que registrou em diário o início dos bombardeios em Gaza, conversa com a escritora Julia Dantas, que também registrou em diário a tragédia causada pelas chuvas e descaso do poder público no Rio Grande do Sul.

Outro tema do momento, a inteligência artificial e o uso de dados pelas big techs, será debatido pelo filósofo belga Mark Coeckelbergh e o livreiro norte-americano Danny Caine, que milita contra a Amazon pelo fortalecimento das livrarias.

E a questão indígena, ambiental e política da Amazônia será abordada na mesa “Saber o passado, mirar o futuro”, em que Raoni, uma das mais antigas lideranças indígenas do país, conversa com a jovem líder Txai Suruí, com mediação de Guilherme Freitas.

Brasileiros e estrangeiros

Entre os nomes de destaque na literatura brasileira contemporânea, Bruna Mitrano conversa com José Falero sobre a visão da cidade de quem está fora dos grandes centros, com mediação de Stephanie Borges; Micheliny Verunschk e Odorico Leal debatem as crises formadoras do país, refletidas em seus livros, com mediação de Rita Palmeira.

Da safra de autoras brasileiras contemporâneas, Carla Madeira, Silvana Tavano e Mariana Salomão Carrara falam da “Invenção da linguagem: o romance segue”, mesa de encerramento da Flip, no domingo, 13.

Nas dobradinhas entre autores nacionais e internacionais, Eliana Alves Cruz fala com Léonora Miano sobre o racismo e a posição da mulher na resistência à opressão, com mediação de Adriana Ferreira Silva; a filósofa italiana Ilaria Gaspari conversa com a romancista Marcela Dantés, com mediação de Natalia Timerman; Joca Reiners Terron discute as distopias e os apocalipses do mundo contemporâneo com o argentino Juan Cárdenas, mediados por Noemi Jaffe; Robert Jones Jr. e Evandro Cruz e Silva falam do legado de James Baldwin, com mediação de Juliana Borges, colunista da Quatro Cinco Um; Brigitte Vasallo e Geni Núñez conversam sobre monogamias e poliamor, mediada por Nanni Rios; Jazmina Barrera e Ligia Gonçalves Diniz debatem sobre a mulher na história da literatura, com mediação de Branca Vianna. E a força que a mulher vem ganhando no mundo literário será o tema da mesa com a italiana Lisa Ginzburg e a portuguesa Ana Margarida de Carvalho, mediada por Adriana Ferreira Silva.

Casas parceiras

Sobre a polêmica restrição à venda de livros pelas casas parceiras, o diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz, afirmou ter havido “uma dificuldade de comunicação”. Segundo ele, esse comércio é regulado por instituições estaduais e municipais, e a solução encontrada foi instituir uma contrapartida social por meio de uma contribuição finaceira das editoras, o que pode ajudar o ecossistema de Paraty mas, também, afetar o ecossistema econômico das editoras menores e independentes com um custo extra à já cara participação na Festa Literária.

Casas parceiras na Flip em 2023 (Sara de Santis/Divulgação)

Munhoz também afirmou que a intenção é voltar a realizar a Flip em julho. Para o ano que vem, a organização está trabalhando com três datas: “Começo de agosto; final de agosto e, a terceira e última opção, primeira semana de setembro. A ideia é divulgar a data da próxima edição em dezembro”, disse Munhoz. 

Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34).