
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM


A FEIRA DO LIVRO 2025, Editora 451,
‘Não podemos domesticar o fascismo’, diz a ativista antiprisional Ruth Wilson Gilmore
A geógrafa estadunidense conversou com Juliana Borges sobre abolicionismo prisional, racismo estrutural e crescimento da extrema direita, n’A Feira do Livro
16jun2025A punição nos sistemas neoliberais sustenta o capitalismo racial e, por isso, a conquista de uma verdadeira abolição começa na luta contra o encarceramento, afirma Ruth Wilson Gilmore. A geógrafa e ativista antiprisional estadunidense esteve, no final da tarde de domingo (15), no Palco Petrobras d’A Feira do Livro, em conversa com a feminista negra antipunitivista Juliana Borges, colunista da Quatro Cinco Um.
Borges ofereceu a mesa em homenagem a Seu Bira, fundador e presidente do grupo Fundo de Quintal, que havia falecido na madrugada de sábado para domingo. “O samba é um rito coletivo de resistência, constrói espaços abolicionistas. O legado e a luta têm que continuar. O show tem que continuar”, lembrou.

As duas ativistas conversaram sobre a lógica sistêmica do racismo, que leva ao abandono organizado de populações negras, pobres e periféricas, e sobre como a violência organizada (de forças policiais ou de milícias) é usada para excluir ainda mais essas populações sob pretextos como “guerra às drogas”. “O racismo não é uma falha moral e sim uma lógica sistêmica”, disse a geógrafa, que está lançando Geografia da abolição: ensaios rumo à libertação pela editora Boitempo.
Gilmore contou que um assassinato ocorrido dentro da sua família, quando ela tinha doze anos, foi a semente do que veio a se tornar, trinta anos depois, o movimento abolicionista prisional. A pessoa que foi assassinada era um primo seu, integrante do Partido dos Panteras Negras, que foi morto pela polícia. “O racismo tem que ser pensado de uma forma mais profunda do que ‘brancos não gostam de negros’. É preciso ver que, simbólica e materialmente, o racismo produz raça”, afirmou.
Ela explicou que o abolicionismo penal não significa o fim imediato das prisões; trata-se, antes, de um modelo de estar junto para melhorar o presente e fazer com que o futuro seja ainda melhor. “O Estado mata meu filho; eu sou uma mãe que sofre e precisa de apoio, outras mães se unem em solidariedade. Dessa ajuda mútua surge um movimento de emancipação”, exemplificou.
Fascismo
As atuais medidas do governo Trump contra as conquistas antirracistas também foi um tema abordado na mesa. A pressão do atual governo dos Estados Unidos para restringir a diversidade nas universidades é, para Gilmore, uma oportunidade para o retorno dos estudos negros mais radicais, surgidos nos anos 60 e que, com o tempo, se conformaram mais ao establishment. “As universidades são concebidas para serem conservadoras. Mas elas têm recurso. O que digo para fazer é ‘pegue o dinheiro e corra’. Isto é, usar os recursos e nossa presença para mudar não só a instituição em si, mas também mudá-la em nosso favor.”
Mais Lidas
Para Gilmore, é preciso estar atento ao surgimento de governos e movimentos reacionários no mundo todo. “Precisamos reconhecer que não podemos domesticar o fascismo. O crescimento do fascismo gera mais fascismo.”
Para encerrar a conversa densa, Gilmore propôs algo simples: “Comprem esse livrinho: 12 coisas que você pode fazer ao invés de chamar a polícia”, sugeriu, mostrando à plateia o exemplar do livro publicado pela Igrá Kniga, que se define como uma editora independente abolicionista, anticapitalista, antirracista e antipatriarcal.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
Porque você leu A FEIRA DO LIVRO 2025 | Editora 451
Não entender é premissa para conversar, diz Edimilson de Almeida Pereira
Poeta e ensaísta mineiro falou n’A Feira do Livro sobre o sentimento de liberdade na escrita de livros infantojuvenis
JUNHO, 2025