i

A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Bianca Tavolari e Paris Marx na mesa Estrada para lugar nenhum (Flavio Florido)

A FEIRA DO LIVRO 2025, Editora 451,

‘As big techs conseguiram dominar nossas ideias de como será o futuro’, diz Paris Marx

Em conversa com Bianca Tavolari, o jornalista canadense critica falsas soluções das grandes empresas de tecnologia, como carros elétricos e IA

20jun2025

Autor de Estrada para lugar nenhum (Ubu, 2024), uma crítica à visão das empresas de tecnologia sobre as soluções para a mobilidade urbana, Paris Marx se apresentou nesta quinta (19), no Palco Petrobras, na praça Charles Miller — uma praça no centro de São Paulo, na maior parte do ano ocupada por carros, mas que durante os dias d’A Feira do Livro é tomada por livros e leitores.

Em conversa com Bianca Tavolari, professora, pesquisadora e colunista da seção As Cidades e As Coisas na Quatro Cinco Um, o jornalista canadense falou sobre o futuro dos transportes urbanos que as empresas de tecnologia querem oferecer, os mitos da Inteligência Artificial e como as soluções reais aos problemas urbanos e ecológicos devem ser buscadas nos movimentos coletivos e nas políticas públicas.

Paris Marx (Flavio Florido)

Uma das apostas da tecnologia para os problemas urbanos e a crise climática são os carros elétricos e autônomos. Tavolari perguntou a Marx se essa seria de fato uma solução, lembrando que a energia “limpa” aumenta a extração de metais e minerais como lítio e cobalto, necessários para a produção de baterias. E, como solução de mobilidade, continuaríamos a ter nas cidades “engarrafamento verde, morte no transporte verde etc.”, disse Tavolari. 

Para Marx, a obsessão por carros elétricos parte de uma elite que vê a si mesma nesses carros e projeta isso na cidade, que pertence a todos. Essa seria uma intervenção das big techs para fazer cidades à sua imagem e semelhança. O ideal seria concentrar esforços no transporte público e em alternativas para transporte individual, como as bicicletas. “O Vale do Silício é um lugar de homens brancos milionários que fingem ajudar a todos, mas só favorecem a si mesmos”, disse Marx.

“Existe espaço para ônibus elétrico, mas nos estudos que consultei isso não resulta em menos pegada de carbono. É preciso melhorar o transporte público, oferecer condições seguras para que as pessoas andem mais de bicicleta”, afirmou, sob aplausos da plateia, onde estavam os vereadores Nabil Bonduki e Renata Falzoni. Falzoni é uma das autoras, ao lado das vereadoras Marina Bragante e Keit Lima, do projeto de lei que inclui A Feira do Livro no calendário oficial da cidade de São Paulo. 

Tech Won’t Save Us

O canadense também falou do próximo livro que está escrevendo, sobre os grandes centros de dados que, entre outras coisas, geram um custo ambiental no consumo de energia, água e minérios necessários para seu funcionamento. 

Bianca Tavolari (Flavio Florido)

Além da questão ambiental, Marx disse se preocupar com o aspecto ideológico. Para ele, há uma ficção distorcida do futuro da IA, como a ideia de que computadores poderão pensar ou a de fazer a fusão da máquina com o ser humano. “A gente já viu no cinema. É um futuro de ficção científica, mas com orientação comercial”, afirmou.

Tavolari lembrou que Marx, no mais recente episódio de seu podcast Tech Won’t Save Us (“A tecnologia não vai nos salvar”), comentou sobre como o Brasil tem lidado com questões ligadas às big techs e à mobilidade — da suspensão do X, de Elon Musk, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a políticas como Tarifa Zero no ônibus. 

“Sou fã do transporte público gratuito. A infraestrutura já está paga, então por que não ter gratuidade? O movimento [da Tarifa Zero] é muito bom para inspirar outras cidades do mundo”, disse Marx. 

Ele também disse ser simpatizante de medidas como a decisão de bloquear o X por acreditar que, se uma empresa estrangeira não está cumprindo as regras do país, tem que sofrer as consequências disso. Também considera esse tipo de medida uma oportunidade do país criar alternativas locais para não ser tão dependente de plataformas como X, Meta, Google e outras. “Espero que surja uma aliança internacional de países que digam: ‘nós não queremos que a estrutura de tecnologia dos nossos países seja dominada pelas empresas americanas’.” 

A conversa teve tradução simultânea de Lucien Beraha e Ramon de Barros.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, é autora de Tantra e a arte de cortar cebolas (Editora 34).