A Feira do Livro,

Foro de Teresina ao vivo reúne plateia recorde n’A Feira do Livro

Edição especial do podcast discutiu a relação de Lula com o STF e os dez anos de Junho de 2013 e estreou uma nova modalidade do bloco Kinder Ovo

11jun2023 | Edição #70

O trio de comentaristas de política mais amado da podosfera lotou o Palco da Praça na tarde deste domingo, 11. Fernando de Barros e Silva, José Roberto de Toledo e Thais Bilenky, jornalistas da revista piauí e apresentadores do Foro de Teresina, trouxeram uma edição ao vivo do programa para a mesa Foro na Feira.


A jornalista Thais Bilenky [Sean Vadaru/Divulgação]

O primeiro bloco focou na relação de Lula com o STF e a indicação de Cristiano Zanin para a vaga do ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou. “Para entender a relação do Lula com o Supremo agora é bom olhar para o Gilmar Mendes, uma figura que atravessa essas últimas décadas. Quando Toffoli foi indicado, disse que o Lula queria alguém como o Gilmar tinha sido para os tucanos. Mas se o Toffoli articulou alguma coisa, foi o bolsonarismo. Então coube ao Gilmar fazer isso”, explicou Bilenky.

A relação de Lula com Gilmar Mendes se transformou com o tempo. Quando o líder petista assumiu a Presidência, estabeleceu uma relação com Mendes por sua capacidade política, que virou uma relação quase pessoal. Depois, veio o impeachment e Mendes vetou Lula como ministro. “Isso foi um grande espanto para o entorno do Lula”, disse Bilenky.

“Eles se afastam, mas quando o Bolsonaro pipoca e dá sinais de que veio pra ficar, o Gilmar começou a se movimentar. Nas palavras de um petista, ele ‘volta pra ser o novo campeão da democracia mais uma vez’, e vai se aproximando de novo”, disse Bilenky, pontuando também que, quando Geraldo Alckmin se aliou a Lula, o ministro Alexandre de Moraes se aproximou do então candidato à Presidência.

“Diziam que o Lula tinha uma relação meio descuidada com o Supremo nos dois primeiros mandatos, ele mesmo não se envolvia muito. Mas o fato de ele indicar o Zanin agora demonstra a posição dele. Dizem que ele queria alguém que fosse aguentar a pressão, que não fosse se dobrar como se dobraram ministros indicados por ele durante sua prisão”, disse Bilenky.


O jornalista Fernando de Barros e Silva [Sean Vadaru/Divulgação]

Toledo relembrou como em 5 de outubro de 1988 recebeu uma pauta para entrevistar o presidente do STF sobre a Constituição, que seria promulgada naquele dia. “Eu fiquei chocado quando fui pesquisar e descobri que o Sarney tinha naquela época a idade que eu tenho hoje”. Em cima de Foro, Barros de Silva não perdeu a piada: “Mas o seu bigode está mais bonito”, levando a plateia cheia às gargalhadas.

“O presidente do STF era Rafael Maia e ninguém se lembra quem ele é. Naquela época não tinha nem jornalista setorista no STF, porque nada acontecia lá”, disse Toledo. “Por que o Supremo saiu desse ostracismo completo para estar na mídia, ter mobilização contra nas redes etc.?”

Toledo argumentou que o Supremo ganhou essa importância porque passou não só a interpretar a Constituição, mas até a legislar, quando tinha alguma lacuna, “o que é polêmico”.

Dez anos de Junho de 2013

Fernando Barros de Silva abriu o segundo bloco falando do livro Treze: a política de rua de Lula a Dilma (Companhia das Letras), de Angela Alonso, professora livre-docente do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

Nele, Alonso elenca e desconstrói quatro teses que apareceram sucessivamente para explicar as manifestações de Junho de 2013: as demandas pós-materiais por qualidade de vida, uma onda de descontentamento político, uma associação com maio de 1968 e o sequestro da mobilização da esquerda pela direita, tese encampada principalmente por Marilena Chauí.


O jornalista José Roberto de Toledo [Sean Vadaru/Divulgação]

“Não sei o que aconteceu em 2013, mas seguramente não foi um fator só”, disse Toledo, que citou também o livro que Conrado Corsalette lançou na Feira, Uma crise chamada Brasil (Fósforo) e Operação impeachment: Dilma Rousseff e o Brasil da Lava Jato (Todavia), de Fernando Limongi. “Tem ‘n’ explicações. O que a Angela aponta é que são causas multifatoriais”, disse Toledo.

O trio explicou como as manifestações começaram contra o aumento do transporte público e como evoluiu. Muitos movimentos de direita ou liberais já estavam se organizando bem antes de junho de 2013.

“Até aquela grande manifestação que pegou a Paulista, era pelos vinte centavos. Até ali, os manifestantes eram tratados como baderneiros, até a segunda batalha da Maria Antonia, aquele enorme conflito entre manifestantes e polícia que virou a opinião pública. Mas até ali teve pouca presença do PT e dos movimentos mais tradicionais de esquerda, o que abriu o caminho para esses grupos de direita”, disse Bilenky.

Eles também falaram sobre a pouca relação de Junho de 2013 com a eleição de Bolsonaro. “Atribuir Bolsonaro a junho de 2013 é muito pouco. Tem a imagem da primeira posse [de Dilma] em que ela chega sozinha, uma mulher independente no poder. Ela faz um discurso forte anticorrupção, e depois demitiu vários ministros no início do governo por isso.

Ela também relembra o passado de guerrilheira e rompe com a relação que o Lula tinha de passar um pano para os militares, e esse é um tema forte. Tem a Comissão da Verdade, que gera cenas como aquela do Brilhante Ustra. Ela também acossa os militares, rebaixa o status do GSI. E isso atiça grupos que já se identificavam com essas ideias de direita, conservadoras”, disse Bilenky.

“Uma das ironias da história é que não haveria a Lava Jato se não fosse a Dilma. Isso foi possível porque teve um projeto da Dilma que mudou a legislação sobre delações premiadas”, disse Barros de Silva.

Kinder da praça

Mari Faria, diretora do Foro de Teresina, se juntou aos jornalistas no terceiro bloco para uma versão festiva do bloco Kinder Ovo. Faria pensou em três nomes da política e os jornalistas poderiam fazer perguntas, às quais ela responderia sim ou não, para adivinhar quem eram.

A dinâmica não seguiu exatamente os planos da diretora, trazendo ainda mais diversão para a plateia. Como de costume, Bilenky acertou quem era o primeiro, Alexandre Frota, e foi muito aplaudida. “A que ponto o Foro de Teresina chegou, de fazer o Alexandre Frota ser ovacionado aqui n’A Feira do Livro. Duvido que ele tenha lido três livros na vida”, disse Barros de Silva.

Os outros dois eram Renan Calheiros e Benedita da Silva. Bilenky também acertou esses, alguns com a ajuda do público, fechando o Foro na Feira com um lindo “3×0”.

A Feira do Livro acontece de 7 a 11 de junho na praça Charles Miller, no Pacaembu, em São Paulo.

outros textos sobre A Feira do Livro

Matéria publicada na edição impressa #70 em maio de 2023.