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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

(Nilton Fukuda)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

Vera Iaconelli, Tiago Ferro, Jorge Carrión: a sexta-feira nos Tablados Literários

Questões sociais, legado de travestis e literaturas periféricas foram destaques nos três espaços da programação paralela

21jun2025

Vera Iaconelli voltou a lotar um Tablado Literário d’A Feira do Livro 2025, desta vez o Mário de Andrade, na manhã desta sexta-feira (20). Não tinha uma única cadeira vazia — todos queriam escutar o que a psicanalista tinha a dizer sobre suas três décadas no divã. Em uma conversa com a jornalista Anna Virginia Balloussier, falou sobre a escrita do recém-lançado Análise (Zahar), em que destrincha memórias e histórias familiares enquanto tece um questionamento sobre o papel e os desafios da clínica.

No mesmo espaço, o escritor mineiro Roniwalter Jatobá conversou com o paulistano Fernando Bonassi sobre sua obra, as migrações que teve que fazer ao longo da vida e o que o inspirou a escrever. Em seguida, o escritor Elias Louzeiro falou sobre seu romance Os meandros do vale (Urutau, 2024), que acompanha personagens escravizados entre os vales do Paraíba, Tietê e Saracura, em meio a disputas sociais do fim do século 19.

Tablado O legado travesti de Brenda Lee e Claudia Wonder (Agência Terebi)

As travestis Claudia Wonder e Brenda Lee foram homenageadas em uma mesa que reuniu a dramaturga Fernanda Maia e o cineasta Dácio Pinheiro. Maia é o nome por trás da peça Brenda Lee e o palácio das princesas (Ercolano, 2024), e Pinheiro, do livro Flor do asfalto (Ercolano, 2025), que compilou entrevistas com Wonder. Os convidados conversaram sobre a vida e obra das artistas, o legado que deixaram, e frisaram a importância da luta travesti. “Somos o sonho vivo das nossas ‘transcestrais’. Mas ainda somos empurradas o tempo todo pra marginalização”, disse a mediadora da mesa, Verónica Valenttino.  

Violência e futuro

Tiago Ferro, autor do recém-lançado Prisão perpétua e outros escritos (Boitempo), e a deputada estadual Paula Nunes (PSOL) também estiveram no Tablado Literário Mário de Andrade para a mesa Chacina x mass shooting: diferenças e remissões, que rendeu boas reflexões. “Essa violência como espetáculo não é mais exclusividade dos EUA”, disse Ferro. Nunes complementou: “Existe uma falsa compreensão de que mais polícia significa mais segurança”.

Já no Espaço Motiva Tablado Literário, o escritor espanhol Jorge Carrión e o brasileiro Reginaldo Pujol Filho conversaram sobre seus livros inspirados na linguagem dos museus e nas artes visuais, na mesa Arte, humanidade e futuro. Carrión compartilhou de onde surgiu a ideia para Membrana (Relicário, 2024), traduzido por Michelle Strzoda. 

Jorge Carrión e Reginaldo Pujol Filho n’A Feira do Livro (Matias Maxx)

“Em cada país da América Latina, há um livro que é o primeiro livro de literatura nacional. Minha ideia era: como seria o primeiro livro de independência cultural feito pela Inteligência Artificial? Como escreveria a Inteligência Artificial quando se tornasse independente da nossa cultura?”

Ainda no Espaço Motiva, a escritora e pesquisadora Ana Rüsche refletiu sobre os desafios de pensar a crise climática por meio da literatura. Rüsche acredita que um dos maiores entraves atuais é a dificuldade de imaginar a real escala do colapso climático. Nesse cenário, a arte cumpre um papel fundamental: ajuda a construir imagens e narrativas capazes de dimensionar a crise e abrir brechas para futuros possíveis. Segundo ela, sem imaginação política, corre-se o risco de acreditar que o possível se resume ao que já existe.

Infâncias e periferias

Em lançamento conjunto no Espaço Motiva Tablado Literário, as autoras Aline Macedo, Dinha, Miriam Baião e Sonia Bischain leram trechos de seus livros mais recentes e conversaram sobre a pluralidade de narrativas que existem nas periferias das grandes cidades brasileiras. Já a mesa A borda da borda: o experimental na escrita periférica reuniu os escritores Andreas Chamorro e Samara Belchior, que discutiram como a experimentação que aparece em seus escritos, embora seja consciente, é a forma que encontraram de transpassar as sensações vividas na periferia. 

Perto das praças de alimentação, muitas crianças e pais foram atraídos pela animação e cantoria de Gislaine Caitano. Com uma canga estendida em frente ao palco do Tablado das Bancadas, ela fez crianças sentarem e outras ficaram no colo dos pais curtindo a contação de histórias com muita música. A partir de livros como Você consegue ver o vento? e Os bocejos do sapo, Caitano usou elementos visuais, sonoros e táteis para estimular a curiosidade das crianças presentes.

Mesa Infâncias negras e indígenas no papel: por uma literatura que reflita o Brasil (Agência Terebi)

Durante a mesa Infâncias negras e indígenas no papel: por uma literatura que reflita o Brasil, Juliana Piauí e Marcia Licá afirmaram que a mistura de realidades é importante especialmente para as crianças. As especialistas em literatura infantil trouxeram a ideia de que a produção de livros precisa passar pela escuta dos pequenos, que segundo elas têm uma capacidade crítica muitas vezes subestimada. “A literatura tem um espírito próximo da infância, um espaço da inventividade, da criação, da memória”, disse Piauí.

Lançamentos e design

Em meio às conversas sobre literatura, a mesa Projetos gráficos experimentais trouxe uma discussão sobre o livro como objeto, com foco na forma, não no conteúdo. As designers gráficas Elaine Ramos e Giovana Cianelli, junto da diretora editorial da editora Carambaia, Graziella Beting, refletiram sobre como o mercado editorial tem olhado para o projeto gráfico dos livros para além das capas. “Existe uma demanda muito grande da geração mais nova por livros de capa dura. Eles querem fotografar a capa para postar no Instagram, exibir a estante com as lombadas organizadas. É um carinho a mais para incentivar esse público a ler”, afirmou Cianelli.

Graziella Beting, Giovana Cianelli e Elaine Ramos (Camila Almeida)

A Feira do Livro está repleta de lançamentos, e um deles é o Mundos do futebol: 11 contos e 1 crônica (Cambalache), compilado de histórias que usam a temática do futebol como inspiração. O evento foi bem animado, com direito a “substituição” de autores convidados, que relataram suas histórias com o esporte e de onde surgiram as ideias para os textos. 

Outro lançamento da tarde desta sexta (20) foi A revista é uma cápsula do tempo (seloceleste), que reúne textos publicados na revista seLecT ao longo dos seus quinze anos de existência. O debate envolveu as mudanças que a revista passou durante esse tempo. 

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.