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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Luiz Schwarcz, editor e fundador da Companhia das Letras (Nilton Fukuda)
Luiz Schwarcz, editor e fundador da Companhia das Letras (Nilton Fukuda)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘Todo sofrimento que um autor tem, eu tenho em dobro’, diz Luiz Schwarcz

Fundador da Companhia das Letras revisita sua carreira de editor ao lançar o livro de memórias O primeiro leitor n’A Feira do Livro

19jun2025

Fundador da Companhia das Letras, o editor Luiz Schwarcz reviu suas mais de quatro décadas de trabalho com livros em uma mesa com o jornalista e editor Paulo Roberto Pires n’A Feira do Livro nesta quinta-feira (19). Na conversa, Schwarcz admitiu que penou ao deixar o posto de editor para assumir o de escritor em seu livro de memórias recém-lançado, O primeiro leitor

“Faço exatamente tudo que um autor inseguro faz”, disse. “Sofro enquanto estou escrevendo. Gosto mais de me editar do que de escrever. Fico querendo que dê certo de uma maneira um tanto patológica. Todo sofrimento que um autor tem, eu tenho em dobro.”

Sua insegurança era tal que ele contou que jamais imaginara que lotaria o auditório com capacidade para cerca de 180 pessoas onde ocorreu a mesa. “Eu tinha certeza que ia ter metade das pessoas aqui.”

Há algo de irreconciliável entre essa modéstia e a trajetória de Schwarcz no meio editorial. Antes de O primeiro leitor, ele já tinha assinado outros cinco livros: os infantis Minha vida de goleiro (1999) e Em busca do Thesouro da Juventude (2003), as coletâneas de contos Discurso sobre o capim (2005) e Linguagem de sinais (2010), e o livro de memórias O ar que me falta (2021), sobre sua depressão.

Ousadia

Ainda antes de fundar, em 1986, a Companhia das Letras — hoje uma das maiores editoras do país — Schwarcz foi responsável por publicar algumas das coleções mais ousadas da Brasiliense, onde trabalhava, como Circo das Letras e Encanto Radical.

O editor creditou o sucesso delas a uma transgressividade que, segundo ele, deve estar presente em qualquer coleção. Uma seleção “toda encaixadinha, certinha” não funciona, disse.

Durante a conversa, Schwarcz também rememorou o momento em que saiu da Brasiliense para fundar a Companhia das Letras ao lado da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, sua esposa. Buscava trazer ao público obras radicais, mas não herméticas — “qualidade com acessibilidade”, como resumiu.

Muitos de seus pares duvidaram de que a empreitada fosse funcionar, relembrou o mediador, o que era compreensível, segundo Schwarcz, pois esses editores conheciam as restrições do público brasileiro. “Mas isso estava mudando. Por causa dos jovens, porque algumas ótimas editoras, como a Record, a Zahar [hoje parte da Companhia], a própria Brasiliense, estavam fazendo um trabalho desbravador”, afirmou.

O jornalista, editor e escritor Paulo Roberto Pires (Nilton Fukuda)

Mudanças

Sua Companhia das Letras, por sua vez, tampouco ficou ilesa às transformações em seus quase quarenta anos de existência — marco que ela completa no ano que vem. Pires lembrou de dois movimentos recentes importantes nesse sentido: a crescente preocupação com a diversidade e a decisão de criar selos literários mais comerciais.

Em ambos os casos, afirmou Schwarcz, as mudanças foram simplesmente uma tentativa de se adaptar aos ventos da mudança no Brasil e fora dele. “Não podemos só ter sensibilidade ao ler um livro. Temos que olhar para o mundo em que vivemos”, afirmou.

Questionado sobre o que faria de diferente caso voltasse ao momento de fundação da Companhia das Letras, o editor respondeu que, desta vez, começaria pela literatura infantil.

“Não é algo que eu sei editar, mas é o que acho mais importante de ser editado, porque é formação de leitores”, afirmou. E “se eu for escolher um papel que quero ter na vida, é o de formar leitores”, declarou sob palmas da plateia.

Nilton Fukuda

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro
14 a 22 de junho de 2025
Praça Charles Miller – Pacaembu – São Paulo/SP
Entrada gratuita

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Clara Balbi