A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
Temos poucas pontes geracionais, diz Cidinha da Silva ao lançar ‘declaração de amor’ a Sueli Carneiro
Autora discutiu livro no qual compila 81 lições que aprendeu em seus quase quarenta anos de convivência com a filósofa
22jun2025Para a escritora Cidinha da Silva, é preciso mais diálogo geracional entre os mais jovens e os nomes cujo trabalho foi crucial para as conquistas em termos de direitos humanos e de direitos políticos de grupos subalternizados no Brasil. Seu novo livro, Só bato em cachorro grande, do meu tamanho ou maior (Rosa dos Ventos, 2025), com lançamento previsto para 30 de junho, busca combater esse problema ao compartilhar tudo o que a autora aprendeu em seus quase quarenta anos de convivência com Sueli Carneiro. “Temos poucas pontes geracionais, bem menos do que precisamos e merecemos”, afirmou durante a mesa A obra de Sueli Carneiro como método pedagógico, mediada por Bel Santos Mayer, neste domingo (22).
O livro, que inicialmente se chamaria “Carinho de jumento é coice”, compila 81 lições que Silva aprendeu com a pensadora, divididas em três grandes blocos: as orientações expressas diretamente, o aprendizado a partir do exemplo, e o que ela chama de “tempo espiralar”, conceito emprestado de Leda Maria Martins para se referir ao conhecimento ganho com a maturidade.
“É um livro de memórias. A Sueli tem brincado e dito que é uma biografia não autorizada. Isso me alegra porque fico com a sensação de que ela se reconhece no livro, mas não se trata de uma biografia. É um livro que nasce da minha cachola e do meu coração”, afirmou, diante de uma plateia lotada. “Esse livro é uma declaração pública de amor a Sueli Carneiro.”
É também um presente antecipado à pensadora, que completa 75 anos esta semana, segundo Silva. “Esse livro me libera de uma responsabilidade grande porque é um livro que eu precisava fazer e entregar como presente”, brincou.
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Isso não quer dizer que o retrato feito por Silva não comporte discordâncias. “Relações como a nossa têm muitas tensões, desencontros, silêncios, para além de todas as coisas boas, que prevalecem”, disse. Para Carneiro, independente de divergências, o que é fundamental nas relações é a lealdade, afirmou.
“Eu vejo Sueli como uma filha de Ogum com coração de água”, explicou. “O jeito de amar dos filhos e das filhas de Ogum é um jeito de quem guerreia pela paz, que tem motivação de amor muito grande.”
Felicidade guerreira
Essa visão é, de certa forma, próxima de como Silva caracteriza a própria história do povo negro. “Muitos dos nossos antepassados ficaram pelo mar. Os que chegaram conseguiram ultrapassar uma travessia imensa, e depois reinventar a vida aqui. É uma vida que tem por princípio o que o poeta Gilberto Gil nos dizia: ‘a felicidade do negro é uma felicidade guerreira’”, afirmou.
Em um texto anterior dedicado a Carneiro, Silva conta que criou uma imagem da pensadora como uma integrante da ala das baianas que desfilam vestindo fantasias de mais de 12 quilos e evoluem na avenida como se carregassem plumas. “Isso de desfilar com algo muito pesado, e a despeito disso você evolui… A história da gente é densa, e a despeito dela a gente vem se firmando no mundo em um país racista como o Brasil.”
Segundo a autora, Carneiro afirma que o que a fez escolher a luta contra o racismo como sua missão de vida foi uma indignação profunda com o que ele impõe ao seu alvo. “Isso é verdade, mas também acho que tem um motor forte de amor da Sueli pela gente negra”, acrescentou.
Mayer apontou como a importância de Carneiro vem sendo reconhecida, e que o livro pode impulsionar ainda mais a divulgação da pensadora para círculos cada vez mais amplos. “Estou imaginando um efeito Mano a Mano”, disse, rindo, em referência ao podcast de Mano Brown cuja entrevista com Carneiro viralizou.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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JUNHO, 2025