
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM


A FEIRA DO LIVRO 2025,
Tati Bernardi celebra os momentos ruins da vida como fonte para sua escrita
Escritora e podcaster refletiu sobre os prazeres e as complicações de narrar a si mesma, no encerramento do segundo dia d’A Feira do Livro
16jun2025A escritora Tati Bernardi arrancou risadas do público d’A Feira do Livro neste domingo (15) ao refletir sobre o seu livro mais recente, a autoficção A boba da corte (Fósforo, 2025), ao lado da jornalista Aline Midlej.
No livro, a autora se inspira na autossociobiografia francesa de Annie Ernaux e Édouard Louis para tratar da própria ascensão social, da classe média da zona leste paulistana à elite intelectual e econômica da cidade, em parte residente da área central e oeste.

A incursão de Bernardi pelo gênero tem duas grandes diferenças em relação ao modelo francês. Em primeiro lugar, sua trajetória enquanto mulher branca, heterossexual, de família burguesa estável não foi marcada pela mesma violência oriunda da pobreza que Ernaux e Louis experimentaram. Além disso, A boba da corte apresenta o humor característico da autora, diferente dos franceses mencionados.
Seus três livros anteriores — as coletâneas de crônicas Depois a louca sou eu e Homem-objeto e outras coisas sobre ser mulher, além do romance Você nunca mais vai ficar sozinha, todos publicados pela Companhia das Letras — já carregavam um importante aspecto em comum com sua autoficção: narradora em primeira pessoa.
Olhar para si
Bernardi afirmou na mesa que essa opção de ponto de vista parte sim de um certo egocentrismo, mas que também tem origem em uma vontade de denunciar suas próprias incoerências e falhas de caráter.
“Quando eu era pré-adolescente, o Fantástico exibia o quadro “A vida como ela é…”, série baseada nos contos de Nelson Rodrigues. Ele tirava sarro justamente daquela burguesia carioca, daquelas famílias perfeitas, e eu ficava alucinada com aquilo, aquele furo de discurso me pegava muito. Conforme eu me tornei adulta, fui entendendo que o furo de discurso que mais me perturbava, sobre o qual eu mais queria escrever, era o meu”, afirmou. “Esse livro é um pouco o meu olhar afiado para o quanto as pessoas podem ter esses furos, mas o tempo inteiro apontando que eles também estão em mim.”
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Dezenas dessas contradições são encontradas nas páginas de A boba da corte. Algumas são observadas na bolha progressista da autora, caso de uma competição entre suas amigas para se aproximarem de um menino imigrante que passa a frequentar a escola dos filhos, ou as deprimentes categorias de homens da elite paulistana com potencial de namorado que ela elenca — uma lista que inclui “aristogatos” e “herdeiros”.
Mas a maioria dos paradoxos diz respeito à própria Bernardi. É o caso de seu autoproclamado deslumbramento por dinheiro, ou a culpa que sente ao se entediar com as conversas de sua família inculta. “Acho que vivemos um momento importantíssimo de militância, e nas redes sociais estou lá, me colocando como uma mulher feminista, de esquerda. Mas, para a literatura, acho importante que o escritor fale sobre as suas sombras”, disse ela.
Além disso, afirmou: “Acho que só dá para aturar uma pessoa falando há 25 anos de si mesma se ela estiver tirando muito sarro da própria cara”.
Ao longo da conversa, Bernardi ainda contou como achou não em um lugar físico, mas na escrita, o lugar de pertencimento que por tanto tempo buscou. “Fui uma criança, uma adolescente que se sentia muito sozinha. Escrever fez com que eu tivesse leitores, e isso me faz sentir que a minha angústia está conectada”, disse ela.
“Eu celebro quando minha vida está cagada, porque sei que vou ter sobre o que escrever”, arrematou.A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.