A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
‘Só vou parar se cair, mas eu me levanto’, diz Ignácio de Loyola Brandão
N’A Feira do Livro, escritor, imortal da ABL, lê trecho do romance inédito Risco de queda, relembra trajetória e diz não se render nem diante dos fracassos
19jun2025Nem bem começou sua participação n’A Feira do Livro, na tarde desta quarta (18), Ignácio de Loyola Brandão anunciou que faria algo inédito na carreira: “Nunca ninguém, nem minha mulher, leu nada meu antes de publicar, mas hoje vou ler aqui”, anunciou. Disposto e bem-humorado, o escritor de 89 anos celebrou os sessenta anos de literatura relembrando o início da carreira, refletindo sobre o presente e o futuro e fazendo aquilo que mais sabe: contar histórias.
Como a que deu origem ao título do romance ainda inédito, Risco de queda. Segundo o escritor, o título veio durante uma ida ao hospital para tratar uma dor lombar, quando uma enfermeira colocou no seu pulso uma pulseira cor de abóbora. Ao questionar para que seria aquilo, ouviu a resposta que precisava: “Na sua idade, é para risco de queda”. “Pronto, o título está aí”, disse.
Durante mais de uma hora, o imortal da Academia Brasileira de Letras desfiou casos, da infância em Araraquara aos muitos projetos que diz ainda querer realizar. Mediadora da mesa, a editora da Quatro Cinco Um Iara Biderman abriu a conversa lendo um trecho de Não verás país nenhum (1981), em que o cenário distópico descrito pelo autor era de um futuro de isolamento, mortes e máscaras. “Portanto, eu previ a Covid. Pura imaginação e loucura”, brincou.
Uma das cenas presentes no romance, segundo o autor, foi testemunhada por ele em plena rua Bela Cintra, nas suas andanças em São Paulo, num dia de grande congestionamento. Ao descer do prédio em que morava, Ignácio contou ter ouvido um diálogo em que um motorista dizia a outro que decidira deixar o carro na rua, ao que o primeiro respondeu: “Prefiro ser morto do que perder meu carro”.
Crônicas das ruas
Da observação atenta surgiram e ainda surgem muitas histórias. Como a do dia em que, numa cena corriqueira, quase esbarrou na rua com uma senhora muito elegante e, num impasse, foram para a esquerda e para a direita sem avançar. Quando esperava ouvir um “sai da frente” na pressa da cidade, o escritor diz ter ouvido da mulher: “Muito obrigado por ter dançado comigo esta manhã”.
“Pronto, a crônica estava pronta”, brincou ele, que diz ainda manter as mais de 2,7 mil cadernetas de anotações. “A crônica é literatura. E é fácil de fazer, só é preciso capturar. Já reescrevi algumas mais de dez vezes até ficar satisfeito. Mas é um instante na nossa vida, percebam isso, o tempo inteiro.”
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Inspirada em Só sei que nasci (Global, 2024), livro infantojuvenil que escreveu após o nascimento da neta, Iara Biderman devolveu ao autor uma das muitas perguntas da história: como se aprende a viver? “Vivendo, fazendo o que quer na vida”, disse, sem hesitar. Ignácio relembrou como resistiu ao apelo dos pais na infância para não deixar Araraquara, em março de 1967.
“Pai, emprego é uma coisa para pagar aluguel. Trabalho é isso mais um sonho”, contou. “Eu queria escrever roteiro de cinema, mas escrevi contos, romances, crônicas. É preciso ter um objetivo, um projeto.”
Ao responder às perguntas da plateia, o escritor também disse temer o futuro, diante das ameaças de guerra e do retorno dos fascismos. “Vai ter futuro? Está lá o Irã ameaçado. O Trump vai qualquer dia pegar em armas. Tenho uma neta. Minha angústia é: vai ter futuro pra ela?”
Ignácio também relembrou fracassos, contou ter escrito uma biografia sob encomenda que foi recusada e falou também do seu penúltimo livro, Deus, o que quer de nós? (Global, 2022), que, segundo ele, “não vendeu nada”. O autor citou Winston Churchill sobre sua visão dos revezes: “Não importa quantas vezes você fracasse, desde que não perca o entusiasmo. Eu estou aqui.”
Ao responder a mais perguntas do público, o escritor também contou que conselho daria ao jovem Ignácio de Loyola Brandão antes de se tornar escritor. “Nunca pare, Ignácio. Só isso. E não vou parar, só se cair. Mas eu me levanto”, disse, sob aplausos.
E refletiu sobre a morte: “Espero ir para o céu. Ninguém acreditou mais no céu do que minha mãe, e até hoje eu acredito. Acredito que tenha um Deus, mas por outro lado, não sei, não. Gostaria que apagasse e acabasse. Não sei como seria outra vida. Só se pudesse escolher, aí eu queria ser Alain Delon, Hemingway, Brad Pitt, Angelina Jolie.”
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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