
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM


A FEIRA DO LIVRO 2025,
‘Se o Dom Phillips e o Bruno Pereira voltassem para o Javari hoje, seriam assassinados de novo’, diz jornalista
Em mesa com Alessandra Sampaio, Tom Phillips celebra memória do jornalista britânico e do indigenista brasileiro assassinados em 2022
19jun2025“Mais do que nunca o legado do Dom está vivo”, disse Alessandra Sampaio, emocionada e sorrindo, durante a mesa Homenagem a Dom Phillips, que lotou o Auditório Armando Nogueira na noite desta quarta-feira (18) n’A Feira do Livro. A viúva do jornalista britânico, assassinado em 2022 junto do indigenista Bruno Pereira, celebrou a memória do marido ao lado de Tom Phillips, correspondente do jornal The Guardian no Brasil, na conversa mediada por Otavio Haddad Cury.
Tom é um dos jornalistas que finalizaram o livro que Dom escrevia quando desapareceu no Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, em 2022. Como salvar a Amazônia (Companhia das Letras, 2025) reúne os quatro capítulos escritos por Dom e outros seis compostos com base nas anotações do britânico por um time de colaboradores — e amigos: além de Tom, Andrew Fishman, Beto Marubo, David Davies, Eliane Brum, Helena Palmquist, Jon Lee Anderson, Jonathan Watts, Rebecca Carter, Stuart Grudgings e Tom Hennigan.

“Esse livro, a última mensagem do Dom, ele realmente colocou o coração dele nesse projeto. É uma mensagem muito bonita, uma mensagem coletiva de que a gente tem que participar de alguma forma”, disse Alessandra.
Foi logo após o descobrimento dos corpos que ela pensou: o livro não pode ficar inacabado. “Fui conversando com amigos jornalistas, o Tom, por exemplo, estava lá nas buscas no Vale do Javari. Foi acontecendo uma conversa entre os amigos jornalistas próximos, e eles tinham o mesmo sentimento. Apesar da tristeza e da raiva, fomos entendendo a importância de terminar o livro. Foi-se formando um time para isso. São 33 pessoas envolvidas, entre jornalistas, editores e fotógrafos.”
Tom, que conheceu “o Dom carioca” em 2018 no Rio de Janeiro, recordou que a crescente devastação da Amazônia durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro levaram o amigo naturalmente à cobertura de temas ligados ao meio ambiente.
“O capítulo que tive o privilégio de escrever com o Dom mistura experiências que ele teve na Terra Yanomâmi, em Roraima, uma viagem incrível e rara que ele fez em 2019. Era o primeiro ano do governo Bolsonaro, muitos jornalistas queriam entrar lá. O único estrangeiro que eu conheço que conseguiu foi o Dom. Ao longo dos anos seguintes, e principalmente depois do assassinato, eu fiz várias viagens para a mesma terra indígena”, afirmou Tom, que não deixou de brincar com a dupla de assinaturas quase idênticas que deixava o leitor do texto pensando se lera algo errado.
Retrocessos na política
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A frustração com os retrocessos na agenda ambiental patrocinados pelo Congresso Nacional e mesmo pelo governo Lula também foi tema da conversa. Para Alessandra, seu marido hoje “estaria frustrado”. “Entendendo que a gente tem a maior floresta tropical do mundo, com uma biodiversidade incrível, com a sabedoria ancestral de mais de trezentos povos indígenas, o Brasil poderia estar liderando uma agenda de proteção ambiental que seria exemplo para o mundo inteiro. Era uma proposta inicial desse governo, mas algumas coisas acontecem, como o leilão [de blocos de exploração de petróleo na foz do Amazonas] de ontem.”
Ao comentar a atmosfera de ameaça que ainda paira sobre defensores do meio ambiente na Amazônia, Tom fez referência a uma frase de Beto Marubo, liderança do Vale do Javari. “O Beto tem falado muito isso nos últimos três anos: se o Dom e o Bruno voltassem para o Javari hoje, eles seriam assassinados de novo. Infelizmente é a mais pura verdade.”
Alessandra citou o livro como parte do legado deixado pelo marido, mas não só. “Tem o Instituto Dom Phillips, estamos trabalhando com jovens do Vale do Javari a partir da demanda deles. Eles querem formação sociopolítica, querem ser protagonistas das tomadas de decisão.”
“A dimensão dessa tragédia é muito triste, mas ao mesmo tempo traz uma força, um chamado para todo mundo que, se você tiver um pouco de sensibilidade, você escuta”, completou ela. “O Dom e o Bruno estão presentes neste livro, no instituto, nas jovens lideranças. Por mais que tenham tentado calar o Dom e o Bruno, a semente está plantada e espalhada.”
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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JUNHO, 2025