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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A escritora Cidinha da Silva (Camila Almeida)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘Racismo religioso é a expressão mais torpe do racismo hoje’, diz Cidinha da Silva

A escritora conversou com o quadrinista Marcelo D’Salete sobre livros para crianças que fabulam saberes ancestrais da cultura afro-brasileira

21jun2025

A escritora e historiadora Cidinha da Silva e o quadrinista e professor Marcelo D’Salete se encontraram na manhã deste sábado (21), no Espaço Rebentos d’A Feira do Livro, para um bate-papo sobre livros para crianças que apresentam saberes ancestrais da cultura afro-brasileira, como O mar de Manu (Yellowfante, 2021), de Silva, e Luanda no terreiro (Companhia das Letrinhas, 2025), de D’Salete. Eles conversaram na mesa Culturas irmãs, com mediação do ator, músico e professor Léo de Paula.

Enquanto apontavam a fabulação como caminho para o diálogo com os pequenos leitores, os dois lembraram que terreiros e a livre manifestação das religiosidades de matriz africana continuam sofrendo ameaças e ataques em todas as regiões do país. “O racismo religioso é a expressão mais torpe do racismo no Brasil de hoje”, disse Cidinha da Silva, que convocou “todas as pessoas envolvidas com a defesa dos direitos humanos” a se engajarem no combate ao preconceito religioso.

A escritora também defendeu que falar de cultura afro-brasileira é falar de coisas basilares para o Brasil. “Falar de orixá não é falar de religião, mas de Brasil. As matrizes culturais africanas deram o chão para o Brasil, não seríamos o que somos sem elas. É disso que a gente trata na nossa literatura”, afirmou sobre os escritos dela e de Marcelo D’Salete.

Conexão com ancestralidade 

Na conversa, os dois autores relataram como se aproximaram da literatura infantil. Ativista do movimento negro, ensaísta e ficcionista com dezenas de livros publicados, Cidinha da Silva contou que decidiu começar a escrever para os pequenos a pedido de uma sobrinha que, na época, aprendia a ler. “O desafio é dialogar com as crianças como seres pensantes, elas têm o próprio mundo, e um caminho para isso é a fabulação”, afirmou. 

Já Marcelo D’Salete contou que a vontade de criar para pequenos leitores surgiu com o nascimento de sua filha, Lúcia. Autor de quadrinhos premiados como Angola Janga: uma história de Palmares (Veneta, 2017, ganhador do Jabuti) e Cumbe (Veneta, 2018, ganhador do prêmio Eisner), ilustrador de diversos trabalhos de outros autores, ele então produziu sua primeira HQ infantil, Luanda no terreiro.

Cidinha da Silva, Marcelo D’Salete e Léo de Paula na mesa Cultura irmãs (Camila Almeida)

“A ideia veio também das experiências de amigos que estavam se iniciando no terreiro. Eu quis falar do espaço do terreiro, da relação com as plantas, a mata. O livro é uma forma lúdica de tratar de ensinamentos muito antigos”, disse D’Salete.

“Trazer essas coisas para um texto acontece na verdade de forma muito intuitiva, não precisa de grande elaboração intelectual”, comentou Cidinha da Silva, que em O mar de Manu conta a história de um menino que vive entre três países africanos criados arbitrariamente por colonizadores europeus e que não têm acesso ao mar. “O céu é o mar onde ele sonha pescar estrelas”, disse a escritora.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Vitor Pamplona

Jornalista e roteirista, traduziu As aventuras de uma garota negra em busca de Deus (Bissau Livros)