A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
Quem traduziu o livro que você está lendo?
Coletivo de tradutoras lotou o Tablado Literário Mário de Andrade em mesa sobre reconhecimento e melhores condições de trabalho
21jun2025“Que emocionante ver uma mesa tão cheia para falar sobre tradução!”, começou a editora e tradutora Julia Bussius, mediadora da mesa Quem traduziu o livro que você está lendo?, que reuniu as companheiras de profissão Elisa Menezes, Lígia Azevedo e Rita Kohl, do coletivo Quem Traduziu, no Tablado Literário Mário de Andrade neste sábado (21). Não é todo dia que o ofício ganha esse tipo de atenção, e é justamente por isso que o grupo tem se mobilizado.
Kohl, que verteu do japonês para o português autores como Haruki Murakami e Yoko Ogawa, contou que o coletivo surgiu depois que ela conversou com outras tradutoras e percebeu que todas, como ela, tinham dúvidas sobre valor de lauda, acordo, prazo e outras questões concretas. “Começamos a discutir e nos unir para aprendermos juntas a negociar e para entendermos o mercado.”
Um dos pontos de discussão, por exemplo, foram os direitos morais e patrimoniais — os últimos são cedidos à editora, mas os morais devem ser mantidos. “A lei está lá: tradutor é autor da obra em português. Mas quando o leitor pensa que o livro apenas brota, que ele está lendo o que o autor escreveu, fica mais fácil não nos pagarem à altura”, afirmou Azevedo, que traduziu livros de Barack Obama e Jonathan Haidt.
De acordo com as convidadas, mesmo que o título traduzido seja um sucesso de vendas, ganhe novas tiragens, prêmios ou seja adquirido por programas do governo, quem traduz não recebe nada além do valor inicial.
Tá, mas quem traduziu?
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Além de burocracias de acordo e direitos, a mesa discutiu reconhecimento. Mencionaram livros internacionais em destaque nas mídias e na imprensa, e cujos tradutores raramente eram citados. “Falavam do livro, mas não falavam de nós. Então começamos esse movimento: mas quem traduziu?”, provocou Kohl.
Com adesivos do slogan do movimento no peito, as tradutoras reforçaram a importância de “criarmos a cultura de sempre creditar quem traduziu. Ninguém lê um livro como um tradutor”, afirmou Menezes, que é tradutora de obras da argentina Mariana Enriquez e da catalã Xita Rubert.
Conversaram também sobre como a tradução é uma atividade autoral e criativa. “É um exercício de se colocar na cabeça do autor e fazer escolhas pensando nas suas intenções”, disse Menezes. “As pessoas acham que colocar na capa [o nome de quem fez a] tradução é questão de ego, o que acho válido, porque traduzir dá muito trabalho”, complementou Kohl. “Mas é mais do que isso: é honesto com o leitor, porque são minhas palavras que ele está lendo.”
Bussius resumiu a relevância da tradução relembrando ao público que “boa parte dos livros n’A Feira foram escritos em outras línguas, e se os brasileiros podem ler essas histórias é graças aos tradutores”.
Na última semana, o coletivo publicou um manifesto em prol de melhores condições de trabalho. A mesa terminou com a leitura do documento na íntegra, que define o paradoxo de quem traduz literatura no Brasil: são peça-chave da indústria livreira, por um lado, mas sofrem com a invisibilidade e a desvalorização profissional, por outro. O público aplaudiu de pé.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.