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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A jornalista Aline Midlej (Nilton Fukuda)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘Pobreza não tem solução definitiva porque sempre muda’, diz Aline Midlej

Falando sobre livro em que apresenta projeto da ONG Gerando Falcões, jornalista ressaltou necessidade de soluções que se adaptem continuamente

15jun2025

A necessidade de soluções multifacetadas para a pobreza, que estejam sempre se adaptando e incentivem a participação das próprias pessoas atingidas, foi a tônica da mesa De Marte à favela, que aconteceu neste domingo (15) n’A Feira do Livro com a jornalista Aline Midlej, da GloboNews, e mediação da jornalista e escritora Eliane Trindade. “A pobreza não tem solução definitiva. Quem disser que tem está mentindo. Porque é algo que está sempre mudando, que precisa de soluções que se adaptem sempre”, disse Midlej, comentando o trabalho da ONG Gerando Falcões, liderada pelo empreendedor e ativista social Edu Lyra.

Um projeto da ONG é apresentado em De Marte à favela: como a exploração espacial inspirou um dos maiores projetos de combate à pobreza do país (Planeta, 2024), que Midlej escreveu a partir de uma proposta de Lyra. “Nesses dois anos [de escrita], eu entendi o quanto o problema [da pobreza] é complexo. E não tem solução simples para problemas complexos.”

A obra aborda especificamente o projeto Favela 3D (Digital, Digna e Desenvolvida), que já foi implementado em quatro comunidades do país para diagnosticar junto com os moradores os principais problemas e buscar junto ao poder público e à sociedade civil soluções que possam ser reproduzidas posteriormente em grande escala. Para escrever, a âncora da GloboNews visitou os locais e acompanhou famílias durante dois anos.

As jornalistas Aline Midlej e Eliane Trindade (Nilton Fukuda)

“Uma das coisas que aprendi com o Edu Lyra é que o contrário de pobreza não é riqueza, é dignidade. Parece óbvio, mas eu ainda não tinha enxergado isso. Dignidade é ser visto, ser enxergado nas suas complexidades, ter tempo de contar quem você é e o que te levou àquele lugar”, ela explicou, ressaltando que o projeto se preocupa em olhar individualmente para as pessoas, para que as políticas públicas possam de fato alcançá-las.

Ela exemplificou com algo que aconteceu em São José do Rio Preto, um dos primeiros lugares onde o Favela 3D foi implementado. “Quando teve a passagem dos barracos de madeira para casas de alvenaria, algumas famílias não conseguiram se adaptar, porque aquilo era hostil para elas, o conforto era hostil para elas. Essas pessoas precisam de um tempo, porque elas nunca tiveram isso. Elas enfrentam muitas questões de saúde mental que precisam ser levadas em consideração.”

Provocações

Sobre o título do livro, Aline contou que veio de uma provocação que Edu Lyra costuma fazer. “Ele fala: ‘como a gente pode estar hoje investindo tantos bilhões na exploração espacial e ainda ter tantas pessoas agonizando com a pobreza?’. Tem 60 milhões de pessoas em insegurança alimentar neste momento. Por que a gente não está falando desse Brasil todos os dias? A gente tem que falar disso até que não tenha ninguém pobre, isso não é política de esquerda ou de direita”, defendeu Midlej, sob aplausos da plateia.

Outra provocação que o livro traz é direcionada especificamente ao 1% mais rico do país que, nas palavras da jornalista, tem bilhões, doa um milhão para algum projeto e acha que fez sua parte. “Eu falei para o Edu que eu, como jornalista, não tinha como não falar dessa hipocrisia da elite brasileira. E ele falou: ‘É isso aí, a gente tem que falar disso. Porque o que eu quero é a consciência dessas pessoas, não o dinheiro. Quero que elas voltem para casa pensando porque é tão rica enquanto tem tantas pessoas na pobreza’.”

Aline Midlej ainda relatou que perguntou a Jorge Paulo Lemann, um dos homens mais ricos do Brasil e grande doador do Gerando Falcões, se ele doava dinheiro para aliviar a consciência ou se de fato quer um Brasil em que seus netos frequentem a mesma escola que os netos da empregada. “A sociedade brasileira é muito calcada nos privilégios. É uma elite que quer doar, quer ajudar, mas que não quer que as estruturas mudem. Eu quero que a gente não normalize a pobreza.”

A autora acredita que essa sensibilização deve vir da educação, mas também espera conseguir despertá-la em seus leitores. “Eu quero que vocês se sintam mobilizados dentro do que cada um consegue fazer”, afirmou.A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.