A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
Papel da crítica não é dizer se livro é bom ou ruim, mas dialogar, defendem colunistas da Quatro Cinco Um
Paulo Roberto Pires, Bianca Tavolari, Juliana Borges e Renan Quinalha debateram também como ampliar o diálogo com os leitores
20jun2025O papel do crítico literário não é dizer se um livro é bom ou ruim — por mais que ele possa objetivamente ser —, mas dialogar com a obra para refletir sobre o mundo em que ela está inserida.
Em meio à diversidade de perfis e olhares dos colunistas da Quatro Cinco Um, esse foi um dos principais consensos do encontro entre Paulo Roberto Pires, Bianca Tavolari, Juliana Borges e Renan Quinalha nesta sexta-feira (20) n’A Feira do Livro, com mediação da editora executiva da revista, Beatriz Muylaert.
“Não se trata de ser prescritivo, dizer se algo é bom ou ruim etc., porque não temos importância nenhuma. Mas temos que nos posicionar com essa perspectiva de crítica cultural. Um dos horizontes dessa crítica hoje é a reação ao ‘ai, o mundo tá chato’. Temos que fazer frente a isso o tempo todo”, disse Pires, autor da coluna Crítica Cultural.
“Não somos donos da verdade, não vamos mudar o mundo, não vamos fazer vender livro nem parar de vender, mas podemos atrapalhar muito”, brincou.
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Na mesma linha, Tavolari, responsável pela seção As Cidades e As Coisas, disse que já resenhou muito livro de que não gostou, mas que avaliou ter sido importante escrever sobre eles em razão das ideias que traziam.
“Para mim, há uma diferença grande entre uma crítica normativa, no sentido de ‘esse livro é ruim’, e [uma] como sintoma. Podem ser livros muito ruins, mas sintomáticos do momento em que vivemos, e merecem crítica porque a ancoragem deles mostra algo que não estamos vendo”, afirmou ela.
Borges, por sua vez, vê uma boa crítica não como aquela que busca destruir um livro, mas dialogar com ele. Autora da coluna Perspectiva Amefricana, ela disse que, mesmo quando não gosta de um texto, busca tratar disso com cuidado em suas resenhas. “Já vivemos em um ambiente violento e polarizado. O papel do crítico é, sim, apontar questões. Mas com certa classe, no sentido de promover a discussão.”
Já Quinalha disse que prefere abordar na seção Livros e Livres o que acha valer a pena. “Os textos são curtos na revista, às vezes temos que fazer análise de uma obra de quinhentas páginas. É um pouco trazer as impressões da leitura, destacar alguns aspectos, alfinetar lacunas, o que não foi bem abordado, aprofundado”, apontou.
Provocações
Durante a conversa, Muylaert contou que é comum que colaboradores convidados pela revista a escrever resenhas desistam de escrever depois de não gostarem do livro. “Como gerar mais crítica que gere atrito, discussão?”, ela perguntou aos colunistas.
“Dar mais espaço para o Paulo [Roberto Pires]”, respondeu com bom-humor Tavolari, em referência ao colunista considerado o mais ácido do grupo.
“Não se faz reflexão com gentileza”, ponderou Pires. “A pecha de não gostar de nada é preferível a gostar de tudo. A pessoa acha que todos os livros são interessantes, tudo vale a mesma atenção. Não são, não vale. Tem autor melhor que outro. Tem autor bom e autor ruim.”
Em resposta a uma pergunta da plateia, Borges avaliou que há certa complacência na crítica com obras de autores negros. “Tem muita coisa de qualidade sendo produzida, e às vezes acabamos não fazendo uma crítica mais pesada porque justamente temos uma avaliação política do que é o mercado editorial e da pouca abertura a autores negros e autoras negras, então pensamos: ‘não vou sair detonando uma pessoa que teve possibilidade de publicar’”, disse.
A colunista defendeu que autores negros podem passar pelo crivo da análise literária criteriosa tanto quanto brancos. E também escrever coisas boas ou coisas ruins, assim como brancos escrevem.
Ampliar o diálogo
Dos quatro colunistas no encontro, apenas Borges tem uma conta no TikTok — onde diz ser apenas uma “observadora”. Entre memes e conteúdos sobre organização doméstica, ela eventualmente cruza com vídeos sobre livros. Um deles trata, com humor, de um livro em que o autor do vídeo não consegue, de jeito nenhum, lembrar do nome da protagonista. Borges diz que ficou tão intrigada, que foi atrás do livro (e repetiu o meme ao não lembrar o nome da personagem).
Professores universitários, Quinalha e Tavolari comentaram a dificuldade de os alunos encararem textos mais longos e profundos nas disciplinas que lecionam. Nesse cenário, Quinalha disse achar importante ampliar o diálogo para além da escrita. “Temos que dar uma saída do texto para outras linguagens e formatos, para comunicar. Se não saímos, fazemos resenhas lindas, mas o alcance é muito pequeno. É importante envolver mais gente”, defendeu.
Tavolari concorda que é preciso furar as bolhas literárias, mas fez a ressalva de que também é importante não se vincular totalmente ao que acontece nas redes sociais. Nessa seara, ela destacou o Substack — site de compartilhamento de textos mais longos — como um espaço que acabou assumindo o papel de rede social para textos, em face do descrédito do X (ex-Twitter) e das limitações do Instagram e do Facebook.
Autodeclarado “leitor caótico”, Pires disse que no Substack tem de fato encontrado coisas mais interessantes, das acadêmicas às “muito loucas”. E sugeriu, brincando, que todos os colunistas passem a ter contas no TikTok — se ganharem um aumento. “Mas não prometemos dancinha”, disse Borges. “Depende do aumento”, devolveu Pires.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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