
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
Diagnóstico alivia sofrimento, mas pode empobrecer vivência, afirmam Vera Iaconelli e Juliana Belo Diniz
A psicanalista e a psiquiatra discutiram dilemas e limites da psicoterapia, a patologização de sentimentos e terapeutas de IA
15jun2025Tablado lotado, todos os bancos preenchidos, gente de pé e o mais puro silêncio para escutar o que a psicanalista Vera Iaconelli e a psiquiatra Juliana Belo Diniz tinham a dizer. Na mesa Muito além da psiquiatria, mediada pela jornalista Cláudia Colucci no Espaço Motiva Tablado Literário, elas conversaram sobre as complexidades do adoecimento psíquico contemporâneo.
As duas tiveram como cerne da conversa os desafios da psicoterapia hoje. “Enxergamos tudo como sintoma, quando na verdade são limites da vivência humana”, disse Diniz, que estreia no mercado editorial com O que os psiquiatras não te contam (Fósforo, 2025). “Não podemos colocar a psiquiatria para resolver problemas estruturais: excesso e más condições de trabalho, desigualdade social etc. A psiquiatria deve fazer parte do debate, mas não temos a solução.”

“O sintoma é sempre relacional, datado e funciona para uma certa cultura. O que para nós é um sintoma, pode ser totalmente normal em outras épocas, outras culturas”, complementou Iaconelli, que lança Análise (Companhia das Letras, 2025), mistura de memórias pessoais e reflexões teóricas de clínica.
Remédios e IA
As convidadas comentaram sobre a expectativa de que o tratamento psiquiátrico, aliado sempre à prescrição de fármacos, resolva todo e qualquer obstáculo na vida do paciente. “É preciso implicá-lo no tratamento. Não é culpá-lo, mas ele produziu o sintoma de alguma forma. O remédio não deve impedir a reflexão”, disse Iaconelli.
Diniz explicou que a indústria é refém de críticas que muitas vezes não passam de teorias da conspiração. “Mas, sim, a indústria farmacêutica vai sempre ter um discurso de solução e focar os investimentos onde sabe que vai haver retorno financeiro.”
Para ela, a hipermedicalização e um diagnóstico protocolar podem camuflar a importância de um processo mais demorado e nem sempre confortável. “As terapias não são longas por acaso, a vivência singular do ser humano demanda esse tipo de escuta e espaço”, disse a psiquiatra. “E essa psicoterapia corre o risco de ser substituída por terapeutas de IA. Isso é assustador.”
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Iaconelli, por sua vez, trouxe um pouco de alento. “O Álvaro Machado Dias, que é neurocientista e um colega meu, diz que [a IA] pode substituir o coach, apenas”, contou, rindo. “A psicanálise é um caminho bem mais tortuoso, faz o sujeito pensar.”
Ainda sobre os diagnósticos, ela finalizou: “As pessoas são ávidas por nomear seu sofrimento. Nos dá um lugar no mundo, nos dá identidade. Mas quando você senta na análise, sua experiência é única, só serve para você”.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.