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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

os jornalistas Natalia Viana e João Paulo Charleaux na mesa O arrebatamento digital e as novas formas de fazer política

A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘O debate está muito contaminado pelo pessimismo’, diz Natalia Viana

A co-fundadora da Agência Pública Natalia Viana conversou com o jornalista João Paulo Charleaux sobre o futuro da internet na era da inteligência artificial e da desinformação

14jun2025

No sábado (14), a mesa O arrebatamento digital e as novas formas de fazer política, realizada no Tablado Mário de Andrade, reuniu a cofundadora e diretora executiva da Agência Pública Natalia Viana e o jornalista João Paulo Charleaux para discutir os desafios da era digital — em especial, a necessidade de regulação das redes sociais e os caminhos para enfrentar a desinformação online.

Natalia Viana lembrou o entusiasmo que marcou o início da década passada, quando a internet ainda era vista como um espaço de potencial transformação democrática. “Eu acho que o tema da nossa conversa aqui hoje é justamente a gente se lembrar de como era esperançoso aquele momento no começo de 2010 até 2013, quando a gente tinha esperança de uma mudança efetiva da democracia. Quando fomos para a rua e acreditamos que a internet ia nivelar não só a comunicação, mas também a política, e que todo mundo ia poder participar.”

Esse também é o tema de O vazamento (Fósforo, 2024), livro em que Viana narra sua experiência junto à equipe do WikiLeaks nos anos de 2010 e 2011, quando o grupo realizou um grande vazamento de documentos classificados que foi publicado simultaneamente em vários veículos de imprensa no mundo todo. 

“Eu sinto que o debate hoje é extremamente importante, mas está muito contaminado de pessimismo, como se fosse uma lei da natureza o jeito que a internet funciona. E não é assim. Nós estamos no momento em que estamos porque a internet passou a ser um espaço plataformizado e controlado por um oligopólio muito pequeno de empresas”, disse Viana. “São decisões econômicas que estão levando a todas essas outras consequências”, completou. 

Viana, que se definiu como uma pessoa “irritantemente otimista”, destacou ainda a necessidade de regulação das redes sociais para que seja possível ter uma internet de fato plural e democrática.

“O nosso sonho naquela época era ingênuo. Acreditamos que Google, Facebook etc. eram, de fato, neutras e isso já era uma mentira desde aquela época”, disse. Ela usou um exemplo da Agência Pública para ilustrar: “quando a Pública nasceu, a gente publicava algo no Facebook e essa postagem chegava pra 50% das pessoas que seguiam a nossa página. Depois que eles abriram IPO, esse alcance caiu para 5% e para chegar ao público que já nos seguia teríamos que pagar”, conta. Segundo ela, hoje a moderação de conteúdo nas plataformas é ainda maior. 

Distorção

João Paulo Charleaux chamou atenção para um novo fator de distorção na esfera digital: a presença crescente de conteúdos gerados por inteligência artificial. “A gente falou aqui de uma internet que surgiu com uma certa expectativa e migrou para outra coisa. A sequência desse arco temporal, agora, é a inteligência artificial — uma ferramenta capaz de não só difundir informação falsa, mas criar realidades paralelas. Isso mexe muito com mecanismos de percepção humana dos quais a gente não está habituado a duvidar, num espaço em que a própria percepção do que é a realidade já se tornou complexa”, disse o jornalista. 

Apesar do cenário desafiador, Viana acredita que o caminho está no fortalecimento dos espaços de encontro físico e das trocas presenciais. “Acho que já está acontecendo uma redefinição dos espaços reais, dos encontros reais, das conversas reais. A pandemia acelerou o processo de digitalização que já vinha acontecendo e a gente não voltou a recuperar o poder do encontro real. Não sei onde isso vai dar, mas não gosto das interpretações fatalistas”, disse Viana. 

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro

14 a 22 de junho de 2025
Praça Charles Miller – Pacaembu – São Paulo/SP
Entrada gratuita

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Beatriz Souza