A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
“Não tem família boa e escola boa que deem conta”, diz Luciana Temer sobre proteção a crianças na internet
Em mesa com Juliana Borges e Lola Aronovich sobre os riscos do ambiente digital para jovens, presidente do Instituto Liberta defendeu necessidade de regulação das redes sociais
19jun2025Depois de se tornar tema de conversas no mundo todo, a série Adolescência (Netflix, 2025) também foi tema de debate na mesa de mesmo nome nesta quinta (19) n’A Feira do Livro. Com mediação da jornalista Luka Franca, a professora Lola Aronovich, a advogada e presidente do Instituto Liberta Luciana Temer e a escritora Juliana Borges debateram os riscos que o ambiente digital oferece para crianças e adolescentes e o que pode ser feito para proteger meninos e meninas.
Na série inglesa, um garoto de treze anos é acusado de assassinar uma colega de classe, e a investigação revela seu envolvimento com comunidades digitais misóginas. “Depois da série, comecei a achar que meu trabalho era muito ingênuo. Não tem família boa e escola boa que deem conta. A gente tem que falar de regulação, de classificação etária, de retomar o controle dessa historia”, afirmou Temer.
Temer relacionou a regulação das plataformas digitais e o uso dessas plataformas por crianças e adolescentes aos casos do tabaco e do álcool. “É preciso entender que estamos todos viciados, é um vício mesmo, porque tem uma descarga de dopamina. Crianças bebiam e fumavam, mas em algum momento a gente entendeu que era muito ruim para elas, então isso foi regulamentado e proibido. Mas hoje a gente dá um celular na mão das crianças e só diz ‘foi caro, vê se não vai quebrar’, e elas navegam ali sem nenhuma interdição”, comparou.
Regulação
Lola Aronovich, que foi uma das primeiras vozes a falar sobre grupos misóginos organizados na internet — o que lhe rendeu incontáveis ameaças e o apelido de “Lei Lola” à lei 13.642/2018, que atribui à Polícia Federal a investigação de crimes praticados na internet que difundam conteúdo misógino —, também aponta nessa direção. “As plataformas têm que ser responsabilizadas, não podem fingir que não têm nada a ver com o assunto”, afirmou, citando uma pesquisa do Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que identificou que 80% dos canais brasileiros que publicam conteúdo misógino no YouTube utilizam alguma forma de monetização.
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“Ou seja, os caras são remunerados por fazer discursos contra mulheres, pessoas negras e outros grupos. A plataforma indica esses conteúdos para as pessoas. Quantos canais feministas vocês conhecem que são monetizados? Quem combate esse discurso não pode ser monetizado, mas quem propaga esse discurso é monetizado? Tem alguma coisa muito, muito errada. Essas plataformas têm que ser reguladas, porque são uma ameaça à democracia”, acredita Aronovich, que foi uma das primeiras a apontar a relação entre misoginia na internet e massacres em escolas, como o de Realengo (RJ), em 2011.
Temer lembrou que há um projeto de regulação das plataformas digitais em tramitação no Congresso desde 2022, mas que o debate começou pelas “questões erradas”, relacionado ao combate às fake news, e que isso trouxe muita resistência por parte de determinados grupos políticos. “A gente tem que entender que na verdade é uma disputa de interesses econômicos, temos que falar de regulamentação falando de como tem muita gente ganhando muito dinheiro com todos esses malfeitos que estamos falando aqui. A gente tem que discutir isso de forma muito serena e achar um consenso. E a proteção de crianças e adolescentes é uma instância de consenso que a gente pode encontrar.”
Borges, que é colunista da Quatro Cinco Um, apontou que a educação tem um papel fundamental na proteção das crianças e adolescentes no ambiente digital. “Para mim, foi muito sufocante o papel dos professores na série. Os professores estão o tempo inteiro gritando, e quando gritam é sempre ‘solta o celular!’”, contou. “A escola reproduz muitas questões da sociedade, e a gente não pode mais uma vez colocar essa carga sobre os professores. A gente tem que dar mais suporte para os professores, mas também precisa pensar outra forma de escola, a gente precisa transformar essas relações”, disse, relembrando o movimento de ocupação das escolas em 2016.
Para ela, outro ponto importante é pensar como colocar os meninos nas conversas sobre misoginia. “Quando a gente está falando de restauração, a gente precisa envolver toda a comunidade que é afetada por aquilo. E pensar em como a gente vai transformar esses meninos que têm sido cooptados pela misoginia. Existe uma crise da masculinidade, uma crise sobre o que é ser homem, e isso é uma questão para nós, feministas, também. Os homens têm que se auto-organizar, mas também é responsabilidade nossa”, acredita.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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