A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
Literatura japonesa, crônica e educação antirracista foram os destaque desta terça
Escrita de autoria feminina, literatura de cordel e acesso à leitura também foram destaque do quarto dia d’A Feira do Livro
18jun2025O quarto dia d’A Feira do Livro foi embalado por discussões em torno de literatura japonesa, educação antirracista, escritas de autoria feminina, a definição de crônica e literatura de cordel. Debates em torno de bibliotecas comunitárias, acesso à leitura e formação de leitores, além de oficinas de tatuagem e aula de ioga para crianças no Espaço Rebentos, completaram o dia.
A noite desta terça (17) se encerrou no Palco Petrobras com uma versão ao vivo do Clube de Leitura Japan House São Paulo + Quatro Cinco Um, criado em 2018 e que se mantém como um encontro virtual desde a pandemia. Nessa edição especial, o autor convidado foi escritor paranaense Oscar Nakasato, autor de Nihonjin, vencedor do prêmio Benvirá de Literatura e do prêmio literário Nikkei — Bunkyo de São Paulo, em 2011, e do Jabuti na categoria romance, em 2012, reeditado pela editora Fósforo, que também publicou de sua autoria Ojiichan em 2024. Nessa conversa, Nakasato falou com Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da JHSP, e Paulo Werneck, diretor d’A Feira, sobre o livro O país das neves (publicado no Brasil pela Estação Liberdade em tradução de Neide Hissae Nagae), romance do Nobel de Literatura Yasunari Kawabata.
Já a mesa Novas páginas, que também aconteceu no Palco Petrobras, começou discutindo as possibilidades de se organizar uma educação antirracista na sua plenitude. Não é só falar sobre racismo duas vezes no ano, no Dia dos Povos Indígenas, em abril, e do Dia da Consciência Negra, em novembro. Foi com essa definição que a professora Lavínia Rocha, autora do recém-lançado O que você pensa quando eu falo de África? (Yellowfante), abriu uma conversa sobre a relação entre negritude, literatura e sala de aula com a também escritora e professora Andressa Marques, que acaba de estrear na literatura com o romance A construção (Nós). A mediação foi da jornalista e historiadora Paula Carvalho.
Outro destaque foi o lançamento do livro Viagem no país da crônica, de Humberto Werneck, publicada pela Tinta-da-China Brasil. O evento aconteceu no Espaço Motiva Tablado Literário com a presença do autor e jornalista mineiro, do escritor e também cronista Fabrício Corsaletti, que acaba de lançar uma coletânea de textos intitulada Um milhão de ruas: crônicas 2010–2025 (Editora 34), e de Ana Lima Cecilio, curadora da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Eles discutiram as indefinições do gênero, destacando sua proximidade com o leitor, o tom subjetivo e o olhar sobre o cotidiano.
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Os convidados não chegaram a um significado fechado, mas ensaiaram tentativas interessantes. “O bom cronista é alguém sentado ao meu lado no meio-fio”, disse Werneck. Corsaletti diferenciou o autor de crônicas de jornalistas, poetas e escritores de outros gêneros textuais: “O cronista não é especialista, é como um amigo que você encontra para conversar”.
Mulheres corajosas
Em seguida, uma conversa sobre coragem, principalmente sobre a coragem de escrever e de conviver com os momentos em que essa força não está presente, animou o público da mesa Mulheres ventania, que reuniu as escritoras Ryane Leão, autora de Ninguém pode parar uma mulher ventania (Planeta, 2025), e Daniela Arrais, autora de Para todas as mulheres que não têm coragem (Best-Seller, 2024).
“Nós glorificamos a coragem, mas não o processo que foi chegar a ela”, disse Leão. Arraes, que faz sua estreia na literatura, contou como escrevia desde a infância, mas disfarçou por muito tempo essa vontade de ser escritora atuando como jornalista. “Todo mundo que escreve não quer ficar na gaveta, a gente quer chegar ao outro”, explicou.
Já no Tablado Literário das Bancadas, as escritoras Angela Marsiglio, Clara Baccarin, Renata Py e Viviane Ka, que publicaram livros pela editora Laranja Editorial, atualizaram a discussão proposta em Um teto todo seu, ensaio fundamental de Virginia Woolf sobre os obstáculos redobrados enfrentados pelas mulheres escritoras, em um bate-papo mediado por Germana Zanettini. Várias das participantes contaram como o bloco de notas do celular é um de seus maiores aliados no processo criativo, servindo para digitar seus pensamentos nos momentos em que estão cuidando dos filhos ou das demandas da casa. “Se você não se desloca, se não renuncia ao cotidiano de alguma maneira, você não consegue escrever”, disse Ka, autora de Um quarto em cavala (Laranja Original, 2024).
Da autopublicação às bibliotecas
Enquanto o sol partia e a temperatura caía na praça, a autora e publisher Yve de Oliveira e o jornalista, fotógrafo e escritor Tadeu Loppara conversaram sobre o processo de autopublicação de livros, da edição à revisão final. Passaram por boas práticas e dicas para a criação literária de autores independentes, no Tablado das Bancadas.
Em uma conversa anterior, Mayara Luiza, da Biblioteca Comunitária Luiza Erundina, e Suilan de Sá do Vale, da Biblioteca Comunitária Solano Trindade, falaram da importância de bibliotecas comunitárias no acesso ao livro e na formação de novos leitores nas periferias de São Paulo. “A biblioteca comunitária é um espaço vivo, que não limita seus leitores. Eles podem mexer nos livros, podem usar o espaço para fazer atividades. A atuação da comunidade dentro desses espaços faz com que eles tenham a cara delas”, disse Suilan de Sá do Vale. Elas destacaram também as dificuldades que enfrentam para obter o financiamento necessário para manter os projetos funcionando.
Os tablados literários receberam ainda um bate-papo sobre literatura como combate à crise ambiental com a gestora da Biblioteca Municipal Raul Bopp, Charlene Lemos, o autor, jornalista e educador Marcelo Jucá, a documentalista do Instituto Socioambiental (ISA), Adriana Miranda, e o educador e representante dos CEUs (Centros Educacionais Unificados), Aparecido Sútero. Os convidados discutiram temas como terras indígenas, fake news e arte ligada à questão ambiental.
Cordel, cavaquinho e ioga
Nesta terça, as atividades dos tablados também contaram com bate-papos animados que aproximaram transeuntes d’A Feira do Livro. O escritor paraibano Braulio Tavares e o autor cearense Costa Senna falaram sobre a literatura de cordel, destacando a característica oral desse gênero. Nesse “entardecer friorento paulistano”, como descreveu Tavares, os dois poetas deixaram a plateia de queixo caído ao recitar cordéis enormes com pouca ou nenhuma consulta. Ao responder uma pergunta sobre memorização, Senna disse que, às vezes, só precisa do primeiro verso para lembrar a poesia toda. Já Tavares compartilhou sua técnica: “Quando eu quero memorizar, vou para um quarto, sozinho, e fico falando em voz alta. Isso faz com que o corpo, as cordas vocais, o tímpano e a língua memorizem”.
Acompanhado de seu cavaquinho, o psicólogo Bruno Reis fez o público cantar vários sambas clássicos em um show improvisado no Tablado das Bancadas. Em sua fala, ele contou como encontrou na abordagem psicoterapêutica da TCC (terapia cognitivo-comportamental) uma forma de lidar com pacientes periféricos que pareciam não responder a outras técnicas. Suas reflexões sobre como unir essa prática à afrocentralidade resultaram no livro Terapia Cognitivo-Comportamental para a população negra: contribuições para a prática clínica sensível às questões étnico-raciais (Senac, 2025).
Já o Espaço Rebentos iniciou o dia com uma oficina de confecção de máscaras de papelão, seguida por uma oficina de tatuagens de adesivos inspirados na personagem Leotolda, da autora espanhola Olga de Díos e publicada pela editora Boitatá. A última atividade foi uma contação de histórias e, por fim, uma aula de ioga para crianças e adultos.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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