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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Mesa 50 Anos de Liberdade n'A Feira do Livro 2025

A FEIRA DO LIVRO 2025, Editora 451,

Fernando Rosas, Lídia Jorge e Mário Lúcio Sousa defendem o combate ao fascismo 

Na primeira mesa da programação oficial d’A Feira, os três autores criticaram o desejo de retorno ao passado colonial por grupos radicais conservadores portugueses

14jun2025 • Atualizado em: 15jun2025

Na primeira mesa da programação oficial d’A Feira, 50 anos de liberdade, que aconteceu às 10h30 no Auditório Armando Nogueira, o cantor, compositor e poeta Mário Lucio Sousa, de Cabo Verde, e o historiador Fernando Rosas e a escritora Lídia Jorge, ambos de Portugal, defenderam o estudo da História para combater a extrema direita e criticaram o desejo de retorno ao passado colonial por grupos radicais conservadores portugueses.

O fascismo do passado e do presente, a colonização portuguesa no continente africano e a ascensão da extrema direita na Europa e no mundo foram os temas principais da conversa mediada pelo historiador Francisco Martinho. A Revolução dos Cravos, que ocorreu em Portugal em 25 de abril de 1974, foi uma data relembrada pelos três convidados como um marco na luta anticolonial. Esse levante militar e popular derrubou a ditadura do Estado Novo, liderada por António de Oliveira Salazar (1889-1970) e, em seguida, por Marcelo Caetano (1906-1980), e deu início a um período de redemocratização e descolonização das colônias africanas e asiáticas do país, marcado por guerras coloniais das quais Portugal saiu derrotado.

O historiador Fernando Rosas

“O sistema colonial acaba, mas não a ideologia desse sistema. […] Há uma ideologia colonial profundamente enraizada. Pessoalmente, acho que existe uma espécie de racismo estrutural na sociedade portuguesa”, comenta o historiador Fernando Rosas. “A extrema direita internacionalmente reemerge em força nos países europeus. Um dos seus grandes lemas é exatamente o tema da grandeza colonial, do passado heroico, do racismo, da política antimigração. Todos os valores da ideologia colonial são restaurados. A extrema direita em Portugal é neocolonialista, racista, xenófoba, e isso expõe um enraizamento profundo dessa realidade da sociedade portuguesa.”

Nascido em Lisboa em 1946, Rosas é professor catedrático e professor emérito da Universidade Nova de Lisboa. Publicou, pela Tinta-da-China Brasil — selo editorial da Associação Quatro Cinco UmSalazar e os fascismos: ensaio breve de história comparada (2023) e está lançando n’A Feira o livro Salazar e o poder: a arte de saber durar (2025), em que tenta entender por que o governo de Salazar, que governou Portugal por 36 anos, foi a ditadura mais longeva da Europa no século 20.

Permanências e rupturas

Já a escritora portuguesa Lídia Jorge defendeu que se deve olhar de forma crítica para o passado do seu país, ainda que isso possa causar incômodos no presente. “Os dias atuais mostram que vale a pena mexer nessa ferida que dói, voltar na História e perceber que há elementos de continuidade, que a História é ondulatória. Tudo que está acontecendo hoje [em relação à ascensão da extrema direita] não é uma interpretação subjetiva, é resultado concreto da realidade dos fatos. Várias regiões do globo querem de novo ser donos do mundo e até Portugal quer voltar a ser grande, inclusive [voltar] a esse passado colonial.”

A escritora portuguesa Lídia Jorge

Nascida no Algarve, em Portugal, a autora partiu em 1970 para Angola e Moçambique, onde viveu os mais conturbados anos da guerra colonial. No regresso a Lisboa, publicou em 1980 o seu primeiro romance, O dia dos prodígios. Desde então, sua obra composta por romances, contos e ensaios acumulou reconhecimentos e prêmios. No Brasil, publicou pela Autêntica Contemporânea o romance Misericórdia (2024), contado por sua mãe, que morreu em decorrência da covid-19, e lança n’A Feira do Livro Diante da manta do soldado, pelo mesmo selo editorial.

“É muito difícil para quem andou cinco séculos a falar e nunca ouvir, de repente começar a ouvir. Mas é preciso o exercício da escuta. Porque é nos pontos de vista que se complementa a História”, contrapôs o autor cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa. “Sempre ouvimos, lemos e aprendemos essa narrativa, e para termos um sentido crítico da própria existência, percebemos que essa narrativa é uma parte da História. É preciso de outra narrativa. E agora estamos como produto da liberdade exatamente a expressar qual é o nosso ponto de vista, como vivemos a colonização do lado de lá, como foi a descolonização, a libertação e as independências.”

Nascido em Tarrafal, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa é escritor, músico e compositor. Formado em direito pela Universidade de Havana, atuou como deputado e embaixador cultural antes de ser Ministro da Cultura de Cabo Verde entre 2011 e 2016. Foi condecorado com a Ordem do Vulcão, maior distinção do país, ao lado de Cesária Évora. É autor de romances como Biografia da língua (2015), O diabo foi meu padeiro (2019) e A última lua de grande homem (2022), publicados pela editora portuguesa Dom Quixote. Está lançando n’A Feira o romance O livro que me escreveu, pela editora Solisluna.

A mesa 50 Anos de Liberdade teve o apoio do Instituto Camões e das editoras Tinta-da-China Brasil e Solisluna.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro
14 a 22 de junho de 2025
Praça Charles Miller – Pacaembu – São Paulo/SP
Entrada gratuita

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.