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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

(Flavio Florido)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

Extrema direita cavalga queixa social como fascistas nos anos 30, diz Fernando Rosas

Historiador português discutiu salazarismo e desafios à democracia com o jornalista Pedro Doria, autor de estudo sobre o integralismo

15jun2025

Para superar a crise atual da democracia, os países ocidentais precisam responder à “contrarrevolução cultural” promovida pela extrema direita, que substituiu a ação coletiva pelo “cada um por si”, e refundar suas instituições de modo a lidar com os desafios do século 21, não com os do século 20.  

Essa é a visão do historiador português Fernando Rosas, autor de Salazar e o poder:a arte de saber durar (Tinta-da-China Brasil, 2025), e do jornalista Pedro Doria, que publicou em 2021 Fascismo à brasileira (Planeta). 

Em conversa neste sábado (14) n’A Feira do Livro, durante a mesa O fascismo que fala português, mediada pela historiadora Joana Salém Vasconcelos, os dois traçaram paralelos entre os movimentos autoritários dos anos 1930 e 40 com os ataques atuais à democracia. 

Como ocorreu na Europa após a Primeira Guerra Mundial, há hoje uma crise do sistema liberal, decorrente da ausência de respostas às necessidades básicas da população, como saúde, emprego e educação, disse o professor catedrático e professor emérito da Universidade Nova de Lisboa.

(Flavio Florido)

“Há um capital de queixa social forte cavalgado, como nos anos 30, pela nova extrema direita. Uma que fala não à razão, mas a um instinto primitivo. Uma extrema direita que semeia o medo e a insegurança, e os transforma em ódio”, afirmou Rosas.

No caso europeu, isso se reflete na defesa de uma ordem autoritária, obcecada por segurança e avessa a imigrantes. Como no fascismo clássico, a inspiração é um passado supostamente glorioso, idealizado como um período de ordem e disciplina. Outro ponto em comum entre os dois momentos, destacou o professor, é um ataque generalizado aos direitos trabalhistas.

“Há uma contrarrevolução cultural na representação do mundo através do empreendedorismo, do ‘cada um por si’. Cada um safa-se como pode. Cada um cria sua própria empresa para progredir, e a transformação social não vem da ação coletiva, mas de cada um safando-se, da concorrência desmensurada, do vencer o próximo”, disse Rosas.

Integralismo

Doria apontou semelhanças entre o movimento integralista brasileiro capitaneado por Plínio Salgado nos anos 30, inspirado no fascismo do italiano Benito Mussolini — com quem o brasileiro se encontrou —, e o bolsonarismo. Tanto na forma como este se manifesta quanto em suas causas.

“Havia a convicção após a Primeira Guerra que a democracia liberal era um regime velho que não entregou suas promessas, e que era preciso algo novo, que fosse radical ou transformador. Pela direita isso era o fascismo, pela esquerda, o comunismo”, afirmou Doria, fundador e editor da newsletter Meio.

“Quando não há esperança de futuro é quando começa a ruir a percepção de que a democracia é capaz de entregar o que entregava”, completou.

Crises de ideias

A solução para o desencanto com a democracia passa por redesenhar o Estado para o século 21, tendo em vista não só o século 20, defendeu. “Temos crise de ideias em toda a direita democrática, mas também na esquerda democrática.”

Doria vê como mais grave a situação dos homens, cuja autoestima estaria, em sua visão, diretamente associada à capacidade de sustentar a família. “E como você infla a autoestima de um homem? Diz ‘ você é forte, pega uma arma aí, bota um uniforme bacana. Fascismo é muito tribal, teatral”, disse.

(Flavio Florido)

Uma característica do fascismo, segundo ele, é que o movimento é simultaneamente reacionário e revolucionário — uma contradição em termos, admite. “O fascismo é reacionário porque quer ir para um passado remoto que considera ideal, e revolucionário porque, a partir dessa ideia, quer implementar um regime radicalmente novo.”

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro
14 a 22 de junho de 2025
Praça Charles Miller – Pacaembu – São Paulo/SP
Entrada gratuita

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Fernanda Perrin

É jornalista.