
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
Drauzio Varella e Ricardo Cardim falam do encantamento da floresta, ‘catedral’ da biodiversidade
O médico e o botânico conversaram com a bióloga Maria Guimarães sobre a força da natureza e de povos ancestrais
15jun2025Figuras públicas com milhares de seguidores, Drauzio Varella e Ricardo Cardim foram os convidados de uma das mesas mais concorridas do sábado (14), primeiro dia d’A Feira do Livro 2025. A partir de seus livros mais recentes, O sentido das águas: histórias do rio Negro (Companhia das Letras), de Varella, e do relançamento em versão ampliada de Remanescentes da Mata Atlântica: as grandes árvores da floresta original e seus vestígios (Olhares), de Cardim, eles conversaram com a bióloga Maria Guimarães na mesa Do rio Negro ao Tietê sobre a importância da biodiversidade e seu encantamento com a floresta e os povos e culturas que sabem preservá-las.
Para Cardim, que é paisagista e botânico, o Brasil é “a província mais rica em diversidade do mundo” e entrar em uma floresta tropical é como entrar em uma catedral.

“Eu nasci no Brás, em São Paulo, um bairro cinzento”, disse Varella, ao contar que esteve por muitos anos afastado da floresta. Até que em 1992, para atrair pesquisadores estrangeiros para um curso de biotecnologia no Brasil, ofereceu levá-los para passar uns dias na Amazônia. Ao chegar com os colegas cientistas à beira do rio Negro, o médico ficou extasiado com a vastidão das águas, experiência que conta em seu livro.
“A floresta depende do teu olhar. Ao olhar para baixo, vemos folhas secas em vários tons; um pouco mais para cima, vemos samambaias, florestinhas de briófitas, orquídeas, bromélias, cipós que despencam. E as árvores, não muito largas, mas altas para suas copas receberem a luz do sol. Fico louco por não ensinarem para as crianças a estratégia de crescimento das árvores”, disse Varella.
Ao falar sobre a riqueza de espécies no país, o médico e escritor ressaltou que a diversidade da floresta amazônica não é teoria, é visível. “Em um hectare, se contarmos apenas as árvores com mais de dez centímetros de tronco, teremos mais de duzentas espécies”, afirmou. “No Brasil, temos 8.500 espécies diferenciadas”, emendou Cardim.
Diversidade de povos
A diversidade de gente também foi tema da mesa. A mediadora perguntou a Varella se ele acha mais difícil conversar com encarcerados — tema de Estação Carandiru, seu título mais conhecido —, garimpeiros, ribeirinhos ou indígenas. Para ele, os indígenas são diferentes de pessoas como ele, crescidas nos centros urbanos. “A gente achava que os indígenas eram todos iguais. Só no Alto Rio Negro são 23 etnias, com línguas diferentes.”
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O desconhecimento e a urbanização nos afastaram desse mundo diverso e da natureza, segundo Cardim. “Começamos a morar em cidades no século 20. De repente, estamos nessa mata de concreto com 20 milhões de pessoas e a gente se acostumou com isso. Não basta a lei para proteger a floresta”. O botânico, que defende a presença de plantas nativas na cidade e na vida das pessoas, disse ser pessimista em relação à preservação da Amazônia atualmente, mas otimista com a próxima geração, quando esta assumir o poder.
Para Varella, a estratégia para manter a floresta em pé é atrair universidades, criar centros de pesquisa na floresta, mas, por causa de uma visão xenófoba, “a pessoa pode chegar [na floresta] com uma motosserra e ninguém fala nada; chega com uma tesourinha de podar e já falam que é pirataria”.
Cardim, que defende uma reconexão com a natureza, afirmou que os nossos últimos elos com a biodiversidade estão desaparecendo a galope. “A gente precisava de um museu da Mata Atlântica no meio da avenida Paulista”, disse sob aplausos.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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