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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Espaço Rebentos (Camila Almeida)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

Com estreia do Espaço Rebentos, crianças ganharam um festival literário próprio

Nova tenda recebeu programação tão variada quanto a dedicada aos adultos, em conversas sobre literatura, ecologia, diversidade e muito mais n’A Feira do Livro 2025

22jun2025

As crianças tiveram um festival literário todo seu com a estreia do Espaço Rebentos n’A Feira do Livro 2025. A área dedicada aos pequenos leitores recebeu grandes autores, ilustradores e músicos, em conversas sobre literatura, ecologia, diversidade e muito mais, em uma programação tão variada quanto a dedicada aos adultos.

Até a divisão entre literatura infantojuvenil e literatura para adultos foi misturada pelas curadoras — Juliana Vettore, jornalista e produtora cultural, e Jaqueline Silva, jornalista e assistente editorial da Quatro Cinco Um —, com a presença de autores mais conhecidos por escrever para os leitores grandes, mas que também têm se aventurado em obras para os pequenos. 

Edmilson de Almeida Pereira (Camila Almeida)

O poeta Edimilson de Almeida Pereira, por exemplo, confessou a maior complexidade em escrever para crianças: “Há uma dificuldade muito maior no processo criativo. Você lida com um leitor muito mais crítico e direto do que o leitor adulto”. Os também poetas Paulo Henriques Britto e Fabrício Corsaletti se juntaram ao cartunista Caco Galhardo para falar de onde tiram inspiração para suas obras dedicadas aos pequenos, enquanto o jornalista e escritor Antonio Prata arrancou risadas com a leitura de Jacaré, não! (2016) e Esconde-esconde (2021).

A escritora Cidinha da Silva e o quadrinista e Marcelo D’Salete, autores de O mar de Manu (Yellowfante) e Luanda no terreiro (Companhia das Letrinhas), respectivamente, defenderam que falar de cultura afro-brasileira é falar de coisas basilares para o Brasil. A programação do Espaço Rebentos também incluiu uma curta leitura encenada de Sabor paciência, infantojuvenil de Mariana Salomão Carrara, realizada pelas atrizes Julia Corrêa e Mayara Constantino. 

Clássicos

O espaço também foi palco de bate-papos com autores renomados do universo literário infantojuvenil. No primeiro final de semana, a escritora e ilustradora Silvana Rando, vencedora do Prêmio Jabuti por Gildo (Brinque-Book, 2010), conversou com leitores sobre seu processo criativo e os detalhes autobiográficos que servem de inspiração para suas obras: “Tudo que eu coloco nos livros é memória da minha infância”, disse. 

A escritora Ruth Rocha, que estava na programação do primeiro domingo d’A Feira, não pôde comparecer por questões pessoais. Para não deixar de fora a obra da autora ilustre, Ciro Prado, mediador de leitura da Associação Vaga Lume — instituição responsável pela gestão de bibliotecas comunitárias e por levar livros para a Amazônia —, leu O grande livro dos macacos (Salamandra, 2023) e livros da coleção Ler e Brincar, em parceria com a autora Anna Flora.

Pedro Bandeira, Andréa Del Fuego e Jaqueline Silva (Camila Almeida)

Em um debate com plateia cheia, o escritor Pedro Bandeira conversou com a escritora Andréa Del Fuego sobre a literatura juvenil como um reflexo da busca por liberdade e autonomia que costuma dar as caras no começo da adolescência.“Eu espero que daqui a quinhentos anos haja alguém que diga ‘é mesmo, ninguém pode me mandar calar a boca! Eu li em um livro velho que cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu!’”, disse o autor sobre o clássico A droga da obediência, publicado antes do fim da ditadura militar, em 1984.

Na manhã do último dia do festival, a dupla premiada Lalau e Laurabeatriz celebraram os trinta anos de parceria com a publicação de Vovôs e vovós da floresta (FTD Educação), além das mais de setenta obras infantis escritas juntos, nas quais abordam a constante preocupação com a preservação da fauna e flora brasileira. “Sempre que fazemos uma pesquisa sobre um animal ou uma ave, descobrimos alguma coisa que a gente precisa falar a respeito. É sempre uma surpresa. Por isso a gente incentiva bastante as crianças a continuarem essa pesquisa”, contou Lalau.

Infância engajada

Bela Gil, Daniel Kondo e Luiza Fecarotta (Camila Almeida)

As crianças também não foram deixadas de fora de temas urgentes do mundo contemporâneo, de ecologia à violência policial, passando pelo ativismo alimentar. Bela Gil, responsável por encerrar a programação do Espaço Rebentos, conversou com Daniel Kondo, ilustrador de seu livro Florisbela: receitas de amizade, sobre como a educação alimentar pode ser ferramenta para “criar pessoas que entendam melhor o impacto das nossas escolhas alimentares para o mundo, para a nossa saúde e para o meio ambiente”.

Lavínia Rocha (Camila Almeida)

Professora de história na rede pública, a escritora Lavínia Rocha falou do livro O que você pensa quando falo África?, que surgiu de uma pergunta que fez a seus alunos para quebrar estereótipos sobre o continente, e que viralizou nas redes sociais. Esforço semelhante é o mote do trabalho da ialorixá Luciana Itanifè, que discutiu a importância de aproximar as infâncias dos elementos da cultura iorubá, como faz em A menina dos cabelos d’água (Baião, 2023), livro ilustrado por ela e escrito por Sidnei Nogueira. Autora de Cinderela do rio (Peirópolis), Mafuane Oliveira também celebrou a cultura afro-brasileira a partir de uma leitura cantada e teatralizada do livro, que teve a participação dos músicos Rafael Galante e Loiá Fernandes.

A importância da biodiversidade e das culturas de diferentes regiões do país também foram temas levados ao Espaço Rebentos. Primeira índigena a se tornar cordelista, Auritha Tabajara incluiu em sua apresentação a encenação de um percurso por aldeias indígenas, a dança do Toré e uma contação de história a partir de seu livro Tuiupé e o maracá mágico, escrito com Paula Tôrres e ilustrado por Tai. Maickson Serrão, criador do podcast mais ouvido da região Norte, Pavulagem, e a escritora Ciça Pinto se aprofundaram nas crenças e nos valores dos povos da Amazônia e do Pantanal. Já Estevão Azevedo e Vitor Bellicanta, autores de Submersos (Caixote, 2024), propuseram uma reflexão sobre a relação entre seres humanos e animais.

A violência policial em comunidades foi o tema trazido pela escritora Isabel Malzoni e a pedagoga Ananda Luz, que organizaram juntas o livro Eu devia estar na escola (Caixote, 2024), produzido a partir de 1,5 mil cartas de crianças moradoras de favelas da Maré. E o psicólogo e escritor Alexandre Coimbra Amaral, autor de De onde nascem as perguntas? (Melhoramentos), apontou que a literatura infantil é capaz de furar bolhas, romper com o reacionarismo, sensibilizar e estimular diálogos.

Ilustração

Um dos principais elementos da literatura voltada para as infâncias virou protagonista no Espaço Rebentos, em conversas que uniram grandes nomes da ilustração brasileira para debater desde a tradição até a quebra de regras ou purismos do livro ilustrado. Junto ao escritor, editor e crítico literário Augusto Massi, o designer e ilustrador Daniel Kondo detalhou o processo de criação gráfica do infantil Eletricista (Elo), pensado como um resgate às experiências construtivistas dos artistas russos do começo do século 20. 

Já os artistas Renato Moriconi e Vítor Rocha falaram sobre seus últimos lançamentos, como elaborar conceitos artísticos do zero e a formação de seus estilos próprios. Este último tema também foi abordado no bate-papo entre as autoras Lúcia Hiratsuka e Janaína Tokitaka, que conversaram com o público sobre a representação artística da cultura e das clássicas histórias japonesas na literatura infantojuvenil brasileira.

Literatura cantada

Barbatuques (Camila Almeida)

A programação infantil não girou apenas em torno dos livros e deu espaço também para apresentações musicais e contações de histórias cantadas. No primeiro dia d’A Feira do Livro, o Espaço Rebentos ficou lotado para o pocket show da banda Barbatuques, grupo que mistura música cantada com percussão corporal. A plateia repleta de crianças de todas as idades, pais e acompanhantes, participou da apresentação reproduzindo os sons que os integrantes do grupo ensinaram a fazer com a boca, as mãos, os pés e outras partes do corpo. 

Os pequenos também puderam curtir o “baby rock” da banda Fera Neném, formada por Lia Biserra na voz, Gustavo Cabelo no baixo, Peri Pane na guitarra, e Pedro Gongom (que não estava presente no show) na bateria. Os escritores Zélia Vitória e Péricles Cavalcanti também cantaram as histórias presentes no livro Fabulações (Solisluna, 2024), e Cristiano Gouveia e o músico Marcellus Meirelles agitaram as crianças com uma roda de samba a partir do livro Histórias encantadas de pequenos sambistas (FTD), que reúne contos populares e a obra musical de grandes sambistas brasileiro. 

Mão na massa

As crianças que passaram pelo Espaço Rebentos também puderam participar de diversas atividades. A publicitária Camila Sardinha se baseou no livro O retorno dos gatos alados (Glida/Aleph), de Ursula K. Le Guin, para propor a confecção de gatinhos em formato de paperdoll.

Diversas atividades permitiram que os pequenos soltassem a criatividade para criar desenhos a partir de diferentes temas. O artista recifense Gabriel Furmiga propôs a criação de desenhos com lápis, giz e carimbos a partir do livro Preto é lindo!, do escritor afro-americano Ashley Bryan. Renata Nakano, pesquisadora e fundadora do Clube Quindim, pediu que os participantes desenhassem a protagonista de Leotolda, da escritora espanhola Olga de Díos. E Jorge Franco contou com a ajuda das crianças para construir um mural de obras horripilantes, com desenhos com títulos como O monstro de muitos olhares, Bafo Bafudo e Meu irmão quando fica bravo

Com plateia cheia, a ilustradora Sophia Pinheiro e a atriz Zenaide Denardi fizeram uma contação de história de A jabota poliglota (Boitatá), escrito por Pinheiro e pelo artista indígena Denilson Baniwa, e depois construíram máscaras de papelão com os participantes e os pintaram com urucum. Já o paleontólogo Luiz Eduardo Anelli apresentou fósseis, dentes de dinossauros, coprólitos e pegadas para seu bate-papo sobre os pterossauros do Brasil. E nem os bebês ficaram de fora com a roda de leitura a partir de Berço, balanço, colinho, neném (Brinque-Book, 2025), com as autoras Rafaela Deiab e Tieza Tissi.

O Espaço Rebentos também contou com um momento de calma e respirações profundas. A partir do livro Eu sou ioga (Glida), a atriz Zenaide Denardi refletiu sobre a correria do dia a dia e o professor de ioga Pedro Figueiredo realizou uma aula adaptada para crianças e adultos, propondo reflexões sobre cada postura.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 aconteceu de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reuniu mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.