A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
Anna Virginia Balloussier e Marcelo Leite debatem o papel da fé no Brasil de hoje
Os jornalistas contam como passaram a cobrir e a escrever sobre as religiões evangélica e jurema sagrada, tema de seus lançamentos
16jun2025Religião é um tema delicado, mas os jornalistas Anna Virginia Balloussier e Marcelo Leite transformaram a mesa Religiões: cultura e sociedade em um agradável debate sobre espiritualidade, fé e influências religiosas no Brasil. O bate-papo teve mediação do também jornalista Bruno Torturra e, mesmo às 13h de uma segunda, encheu o Espaço Motiva Tablado Literário.
Balloussier acompanha e cobre a comunidade evangélica desde 2010, quando, segundo ela, “ainda era tudo mato”. Na época, colocavam aspas nos textos quando se falava de bispos, enquanto cultos evangélicos eram chamados de seitas. Em 2024, lançou O púlpito: fé, poder e o Brasil dos evangélicos (Todavia), uma investigação desse universo em que mergulhou. “Fui em cinquenta cultos em um mês e saí de lá com a impressão de que não conhecemos essa parte do Brasil.”
A jornalista carioca revelou como foi a experiência de ir a um culto evangélico em uma boate, surpreendendo o público d’A Feira, que riu logo em seguida — segundo Balloussier, a cantora Baby do Brasil estava lá e falou: “Nada me deixou mais chapada do que o amor de Jesus Cristo”.
Foi também a cobertura jornalística que despertou o interesse de Marcelo Leite em pesquisar o tema religioso sob o ponto de vista da ciência. Há oito anos, começou a escrever sobre o renascimento psicodélico, quando descobriu que um dos compostos da ayahuasca vinha da árvore jurema-preta — elemento central da religião jurema sagrada, tema de seu recém-lançado A ciência encantada de Jurema (Fósforo).
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Os convidados debateram como religião e psicodelia se unem por oferecerem a seus adeptos uma promessa de “renascimento”, de olhar para a vida por outra perspectiva, seja ela guiada pela fé ou pela alucinação.
Respeito
Na plateia, havia um único evangélico e nenhum juremeiro — os convidados fizeram questão de apurar os dados durante o bate-papo. “O segundo maior canal do YouTube no país é de um bispo evangélico. Isso mostra como estamos alienados da fé do povo. A crença evangélica é de maioria negra, feminina e de classes baixas”, afirmou Balloussier.
Questionado sobre hipóteses que justificariam o desconhecimento da jurema sagrada por aqui, Leite disse que “não preenche uma expectativa do que é a religiosidade, além de ter sido alvo de muita perseguição. Era praticada em segredo, no meio da mata ou dentro de casa”.
Ao participar de rituais, Leite contou como se sentiu confrontado como jornalista de ciência. “Você quer contar o que testemunhou, mas é muito tentador colocar aquilo como irreal, como folclórico e simulado.” Mas algo ressoou nele: “Continuo sendo ateu, mas a principal lição foi aprender a respeitar esses fenômenos”.
Balloussier teve uma experiência similar. Disse ter entrado nesse universo com um olhar irônico. “E nos últimos quinze anos, o que mudou foi a carga de respeito por pessoas com valores tão diferentes dos meus.” Ela também não se converteu, mas afirmou que muita gente entra para essa religião por encontrar acolhimento, apoio e até trabalho na igreja.
Para Leite, o crescimento no número de fiéis esconde uma espécie de crise da visão científica do mundo. Isso acontece em parte, segundo ele, pela própria arrogância da ciência e pela razão “mais óbvia” que é a crise climática, “que aponta claramente para os efeitos nocivos dessa racionalidade científico-tecnológica”. Comentou que as pessoas buscam outras formas de vivenciar o mundo: “A experiência mística transcende esta miséria em que vivemos. Mas isso não pode ser motivo para não acreditar na ciência”.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.