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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Vinícius Portella e Veronica Stigger (Flavio Florido)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

A realidade mais estranha que a ficção de Veronica Stigger e Vinícius Portella

N’A Feira do Livro, escritora gaúcha e contista brasiliense falaram sobre como suas pesquisas se misturam ao processo criativo dos seus livros

19jun2025

Uma das maiores erupções vulcânicas da história ou uma montanha de lixo do tamanho da França flutuando no Oceano Pacífico. A realidade mais estranha que a ficção serve de inspiração para as literaturas de Veronica Stigger e Vinícius Portella, que falaram sobre como suas pesquisas se misturam ao processo criativo dos seus livros na mesa Do vulcão ao plástico, mediada por Maria Carvalhosa, nesta quinta (19). 

Autora de Krakatoa (Todavia, 2024), Stigger contou como o vulcão na Indonésia, que tingiu os céus de várias partes do planeta após explodir na segunda maior erupção da história, no século 19, impulsionou a escrita do seu romance. “Tudo que vai para o livro, para mim, é ficção, mesmo que eu narre coisas que aconteceram comigo, é sempre uma construção”, disse a autora, que também é pesquisadora e curadora. “Literatura não tem compromisso com a verdade.”

Stigger contou como compôs a segunda parte da história, repleta de notícias de jornal, depois de recorrer a uma hemeroteca digital buscando notícias sobre os efeitos da erupção no Brasil. “No início, não era programado publicar essas notícias, mas elas eram em si literárias. Pensei: vou levar para o livro!”.

O escritor Vinícius Portella (Flavio Florido)

Autor de A grande porção de lixo do Pacífico e outros contos (DBA, 2024), que tem uma montanha de lixo flutuante como inspiração para a história-título, Vinícius Portella falou sobre as diferenças (e aproximações) entre escrever ficção e em estilo acadêmico. 

“Gosto de fazer pesquisa, dar aula, e certamente quando estou num contexto formal, bate mais esse medo de cometer alguma impropriedade.” O brasiliense contou como ficou dez anos estudando tecnologia, crise climática e estudos de mídia e percebeu, depois do doutorado, que queria escrever histórias, não só artigos acadêmicos. “Quando saí da academia para voltar a escrever ficção, pensei: ‘é muito mais livre escrever literatura’.”

Monstro de plástico

Pesquisadores dedicados a temas que eventualmente se tornam matéria das suas ficções, os dois também discorreram sobre o processo criativo de alguns dos seus livros. A escritora gaúcha contou como um dos grandes desafios ao escrever Krakatoa foi tentar descrever o barulho causado por essa grande explosão – que provocou o maior som ouvido no planeta até então. 

“Como pensar esse som dos vulcões? A grande imagem para mim era essa de que de repente todos os vulcões do planeta formaram um grande coral de vozes cantando uma música só deles”, disse Stigger. “A grande fascinação era dar conta dessa imagem, porque não poderia ser parecido com nada que a gente conhece. Não por acaso, o livro começa com essa descrição”, completou a escritora, que leu um trecho da abertura de Krakatoa

Questionado por uma pessoa da plateia, Portella também contou como um dado da realidade inspirou um dos contos mais insólitos do volume. “Li artigos que mostram formas de vida entre a água e a superfície, que estão aparecendo com a presença do plástico. Foi algo que surgiu quando estava escrevendo, uma solução para um conto que eu não sabia terminar”, disse. “Eu me diverti muito escrevendo esse bicho estranho que surge entre os detritos. Gosto de extrapolar a realidade.”

A autora Veronica Stigger (Flavio Florido)

A pedido da mediadora, Vinícius Portella leu um trecho do conto “A grande porção de lixo do Pacífico”. Conhecido por suas distopias, o escritor brincou sobre o pessimismo em sua ficção. “Tenho vontade de escrever coisas mais otimistas, mas, como diz aquela máxima, está mais fácil pensar no apocalipse do que no fim do capitalismo.”

Portella, que se disse um admirador da ficção de Stigger, provocou risos na plateia e na colega ao contar que acabou de escrever um romance, chamado Zumbido, que foi um pouco influenciado por Krakatoa. “Quando comecei a ler, pensei: ‘ela vai fazer tudo que eu ia fazer, a maldita!’. Mas você nunca faz nada do mesmo jeito.”

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Amauri Arrais

É jornalista e editor da Quatro Cinco Um.