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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

(Nilton Fukuda)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘A maternidade é um sair de si’, diz Paloma Vidal

Com obras bastante diferentes, as poetas Paloma Vidal e Laura Liuzzi encontram na experiência de ser mãe um ponto de contato entre seus trabalhos

15jun2025

Com obras que partem de premissas muito diferentes, as poetas Paloma Vidal e Laura Liuzzi conseguiram encontrar na maternidade — que impulsiona um movimento de ir ao encontro do outro — um ponto de contato entre seus trabalhos. Elas participaram da mesa Lugares onde não estou, mediada pelo advogado e poeta Tarso de Melo neste sábado (14), n’A Feira do Livro.

Liuzzi, que trabalhou como assistente de direção do documentarista Eduardo Coutinho, falou sobre seu Poema do desaparecimento (Círculo de Poemas), um longo poema publicado em 2024 e composto a partir de uma premissa bastante peculiar: depois de ler uma conversa entre um jornalista e um filósofo e engenheiro, ela ficou fascinada pelo externalismo, perspectiva filosófica que entende a consciência como algo que não está centrado no cérebro, mas em elementos externos. “Se você vê uma maçã, você é a maçã”, exemplifica a poeta, que na sequência leu um trecho de seu livro que traz essa perspectiva.

Paloma Vidal (Nilton Fukuda)

Comparando os trabalhos, Vidal afirmou: “meus poemas, sobretudo os sobre meus filhos, têm muito dessa fusão que ela fala no poema da maçã, dessa externalização. Têm muito de um sair de si, porque a maternidade é um sair de si. Os poemas são um esforço de ir nessa direção de entender como eles vêem o mundo”, explicou a autora, tradutora e professora de teoria literária, referindo-se a Lugares onde eu não estou (7Letras, 2024).

A coletânea reúne livros de poemas originalmente publicados entre 2015 e 2018 e textos escritos desde 2010 em seu blog pessoal em formato de registros cotidianos, recortando o período de nascimento de seus filhos. “Tentei fazer também uma espécie de arco romanesco, uma história que acompanha a vida e a dissolução de uma família. É um livro sobre separação também”, diz Vidal.

Liuzzi compôs Poema do desaparecimento ao longo de seis anos, em um período que também coincidiu com a gravidez e o nascimento de seu filho. Quando a escrita “travou” em meio às demandas da maternidade, ela chamou a poeta Julia de Souza e lhe pediu que continuasse escrevendo de onde havia parado. 

“Eu não conseguia pensar para além do que eu ia fazer dali a cinco minutos. Não existia o ‘daqui a dez dias’. Os dias parecem muito longos, e me dava muita aflição, parecia que não ia acabar”, relata Liuzzi. “Eu precisava ter alguma garantia de que a minha vida ia ser alguma coisa para além daquilo. Quando meu filho tinha mais ou menos dez meses, eu me inscrevi em um mestrado para pesquisar consciência, daí continuei a escrita do poema com a pesquisa”.

Laura Liuzzi (Nilton Fukuda)

Apesar de não falar dessa experiência pessoal no livro, Liuzzi concorda que há um ponto de contato com a escrita de Vidal. “A gente se encontra nesse movimento para fora. Você [Vidal] consegue anotar tudo, parece um documentário do cotidiano, e eu estou tentando desaparecer”, contou. “Eu estava comprometida com essa ideia de uma alteridade radical, de não falar muito de mim. É claro que a gente não consegue sair totalmente de si, mas a ideia era sair um pouco do sentido próprio da minha vida”.

Amarrando a obra das duas poetas, Tarso observou um contraste com parte significativa da poesia contemporânea, que tem se apoiado no dado biográfico, e ressaltou que mesmo os poemas de Vidal, que formam quase um diário do cotidiano, apontam para fora ao se valerem da marcação de datas, locais e referências a outros personagens ao redor da narradora.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.