Midialouca
A cidade não tinha livraria, mas os livros que entraram na vida de Paulo Brandão podiam lançar mundos no mundo. Como nos versos de Caetano Veloso, o engenheiro se viu deixando a pequena Jaguaquara, no interior da Bahia, para morar em Salvador. Na capital baiana, porém, não encontrou “o que parecia compatível com o tamanho e a força cultural da cidade”. Assim começa a história da Midialouca, que comemora vinte anos de existência em 2025.
Foi depois de uma temporada no Rio de Janeiro, nos anos 90, que Paulo voltou decidido a inventar um lugar que valorizasse a cultura, especialmente a da Bahia. “Eu queria oferecer à cidade o que não víamos facilmente”, diz, lembrando que na época não encontrou nenhuma livraria de Salvador que tivesse os livros de Jorge Amado permanentemente disponíveis.
A loja foi aberta em 2005, traduzindo a vontade de juntar diversos estilos e formatos na ideia de uma mídia “louca”. A influência, forjada anos antes, veio de livrarias cariocas que funcionavam 24 horas e importavam catálogos de vários países, o que não era tão simples de fazer antes da internet. A proposta original também incluía discos nacionais, pelo fato do proprietário achar “a música popular brasileira um dos nossos mais importantes patrimônios”.
Em um ano, a Midialouca deixou o primeiro endereço, no bairro residencial da Pituba, indo para o mais boêmio Rio Vermelho. Foi justamente na vizinhança de Jorge Amado e de Caetano que o projeto se consolidou como livraria independente, atraindo escritores, músicos, cineastas e artistas que circulavam por ali de segunda a segunda até depois da meia-noite, e que seguem frequentando a Midialouca hoje, até as 22h. Caetano sempre aparece no verão, e já escreveu artigos referendando o espaço como “lugar de formação”.
A casa parece pequena, mas comporta dezoito mil livros e discos. O acervo varia entre ficção literária, artes e humanidades, além de música brasileira, clássica e internacional — gêneros que logo ganharam seu lugar na loja. Vale entrar com tempo para garimpar preciosidades, como o livreto Conceição da Praia, de 1955, com desenhos do artista plástico Carybé (1911-1997) e texto do jornalista e poeta Odorico Tavares (1912-1980).
Também dá para encontrar diversos títulos de quadrinhos, uma grande aposta recente da Midialouca. Na edição mais recente de Contos dos orixás (Trem Fantasma, 2023), de Hugo Canuto, divindades afro-brasileiras são super-heróis. Outra novidade é que a Midialouca está se tornando também uma pequena editora.
Nos vinte anos da loja, Paulo viveu a chegada e o ocaso das megalivrarias; o surgimento da internet e o boom da pirataria; o fim das lojas de CDs; e a ascensão do vinil a item de colecionador, o que inclusive foi o que motivou a entrada no mercado de usados, garantindo a circulação de obras fora de catálogo. Esse setor, que engloba livros e discos raros, ganhou nome próprio, a Livraria Antiquário — com interesse especial nas publicações de grandes nomes baianos da música e da literatura dos anos 50 e 70, além de um vasto acervo de vinis, CDs, DVDs, revistas em quadrinhos e gravuras.
Shows, saraus e outros eventos culturais também se tornaram uma marca do lugar. Quem se acostumou a ir à livraria também para dançar já aproveitou lançamentos como o da biografia Edson Gomes: o rei do reggae (Scortecci, 2025), em que o escritor e músico Ricardo Reina conta a história do cantor baiano ícone do gênero no Brasil. O evento também celebrou os oitenta anos do nascimento de Bob Marley.
“Acho que nosso diferencial é que nunca priorizamos ganhar dinheiro. Claro que temos que pagar as contas, mas a nossa intenção primordial é oferecer produtos de boa qualidade e valorizar a cultura”, diz Paulo, que continua a fazer planos. “Salvador teve uma livraria que durou 125 anos, a Catilina, no bairro do Comércio, fechada em 1960. Nós estamos apenas começando.”
Informações atualizadas em 25/04/2025
Instagram www.instagram.com/midialouca/
Endereço Rua Fonte do Boi, 81 - Rio Vermelho - Salvador - BA - 41940-360
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