Livraria Jenipapo

A rua Fernandes Tourinho não é uma das mais extensas da Savassi, bairro de Belo Horizonte com alta concentração de bares, restaurantes e casas noturnas. Apesar disso, essa rua ganha de qualquer outra da cidade quando o assunto envolve livrarias — são pelo menos quatro num trecho de pouco mais de cem metros. Ali, bem na esquina com a avenida Getúlio Vargas, funcionou por 52 anos a Ouvidor, que por décadas foi conhecida como a mais tradicional livraria de rua da capital mineira. 

Quando a Ouvidor fechou as portas, em meados de 2022, não houve leitora ou leitor de Belo Horizonte que tenha ficado tranquilo: seria mais um sinal dos tempos? Para alívio do público da antiga loja, o ponto comercial mudou de nome, de donos e inovou na proposta, mas seguiu com a mesma vocação literária. Agora, no número 241 da Fernandes Tourinho, fica a Livraria Jenipapo. 

Os proprietários, Fred Pinho, historiador e servidor público, e Tatiane Fontes, jornalista e também servidora pública, nunca tinham vendido livros. Eles eram clientes da Ouvidor e viram no fechamento da velha livraria uma tristeza, claro, mas também uma oportunidade. A Jenipapo nasceu moderninha, com sua fachada azul e seu toldo listrado em preto e branco contrastando com o piso de pedras portuguesas da calçada.

Nas estantes, as opções vão muito além das oferecidas pelas grandes editoras, como conta Pinho: “Temos o cuidado de montar um acervo com diversidade. Estamos sempre olhando para editoras independentes que tenham a ver com nossa proposta”, diz o livreiro. “Algumas delas têm até um espaço reservado. Temos clientes que vêm aqui porque sabem que só encontrarão certas editoras conosco”.

Por conta da localização, no coração turístico da cidade e cercada por hotéis, a Jenipapo funciona também como um ímã para visitantes que passam por Belo Horizonte e querem conhecer as novidades literárias da cidade. E a experiência do casal de proprietários, que frequenta livrarias desde que o filho era pequeno, garantiu na Jenipapo uma área para crianças. “É um espaço de formação de leitores, das pessoas que continuarão frequentando a livraria no futuro”, explica Pinho. 

No trecho bem em frente à Jenipapo, a “rua das livrarias” faz uma curva para a direita, o que deixa mais espaço para a calçada de pedras portuguesas. Nessa praça, embaixo da sombra de duas quaresmeiras, a livraria costuma espalhar cadeiras e mesas em lançamentos de livros e outros encontros literários. Toda última terça-feira do mês, é lá que ocorre a República Jenipapo, uma roda de conversa mediada pela pesquisadora e escritora Heloísa Starling. 

Outro evento que faz parte do calendário da livraria é o Jenipapo Literário, clube do livro da casa. Uma vez por mês, é feita uma votação entre três livros indicados pelos livreiros e o vencedor vira tema do encontro seguinte. Por tudo isso, a Jenipapo, mesmo jovem, já se consolidou como ponto de encontro entre leitores e autores em Belo Horizonte.